segunda-feira, 14 de abril de 2014

Histórias da Casa Branca: um reprovação embaraçosa no Senado

TEXTO PUBLICADO NO SITE TVI24.PT, A 14 DE ABRIL DE 2014:


«Nem consigo acreditar que em 2014 ainda estejamos a discutir a igualdade de pagamento para trabalho igual entre homens e mulheres»
Elizabeth Warren, senadora democrata do Massachussets


«É embaraçoso que os Estados Unidos ainda não tenham conseguido atingir o objetivo de «equal pay for equal work»
Barack Obama, Presidente dos EUA 


A imposição de que homens e mulheres sejam pagos da mesma forma perante trabalhos de igual responsabilidade e diferenciação é uma ideia que, embora nem sempre praticada, parece pacífica no quadro europeu.

Mas parece ainda não ser assim na América. Desde o primeiro mandato, o Presidente Obama tem-se batido por avanços significativos nesta área e, não por acaso, teve no «Lilly Ledbetter Fair Pay Act», aprovado em 2009, uma das primeiras vitórias ideológicas da sua governação. 

Assinado 29 de janeiro de 2009, apenas nove dias depois de ter tomado posse pela primeria vez como 44.º Presidente dos EUA, o «Lilly Ledbetter Fair Pay Act» atualiza o «civil rights act» de 1964, reforçando os instrumentos legais das mulheres trabalhadoras, no sentido de não serem discriminadas no seu local de trabalho.

Mas o caminho legislativo de «equal pay for equal work» é longo. Basta lembrar que, apenas dois anos antes dessa assinatura presidencial, as duas câmaras do congresso recusaram emenda semelhante, perante oposição republicana.

Nos últimos anos, perante as dificuldades políticas da Casa Branca de aprovar o essencial da sua legislação junto do congresso, Obama retraiu esta questão nas suas prioridades, tendo o tema sido liderado, do lado democrata, pela senadora Elizabeth Warren.

A senadora Warren é uma das líderes ideológicas do Partido Democrata, por estes dias. 

Figura próxima de Obama (ajudou o Presidente em temas quentes do primeiro mandato, como a regulação de Wall Street), Elizabeth foi crucial para uma certa recuperação política de Obama no último ano do primeiro mandato, ao recuperar para os democratas o lugar que havia sido perdido no Senado, em representação do Massachussets, após a morte de Ted Kennedy.

Ora, uma das prioridades políticas de Elizabeth Warren desde que chegou ao Capitólio é, precisamente, esta ideia de «equal pay for equal work». 

O Presidente também tem nesta tema um dos seus objetivos para o segundo mandato. Para Obama, uma «economia durável», meta que insiste em reforçar para os EUA, «só é possível quando o trabalho duro recompense, independentemente do género do trabalhador».

A realidade laboral americana aponta para que as mulheres ganhem cerca de 77% dos homens, perante trabalhos semelhantes. 

Obama criou uma «Equal Pay Task Force» e apoia o Paycheck Fairness Act, que daria às mulheres ainda mais instrumentos para atingir a tal igualdade laboral.

Só que a proposta legislativa, que tinha em Warren uma das principais promotoras, chumbou no Senado. 

Os senadores republicanos (incluindo algumas mulheres) travaram a ideia, gerando reação indignada de Elizabeth Warren: «Estou chocada com a reprovação de muitas colegas minhas do Partido Republicano no Senado».

«Hoje em dia, em 99.6% dos locais de trabalho nos EUA, os homens ganham mais que as mulheres. Isso não é um acidente. É discriminação», acusa a senadora Warren.

Obama foi ainda mais longe: «É embaraçoso que em 2014 ainda estejamos a discutir isto».

O que leva os republicanos a estar contra esta ideia de igualdade? A congressista Catthy McMorris Rodgers, republicana de Washington, considera que «a melhor forma de ajudar as mulheres trabalhadoras americanas é combater a política económica errada do Presidente Obama, que está a afetar as trabalhadoras, e apoiar as medidas republicanas de incentivo aos pequenos negócios e à criação de empregos».

A luta ideológica anda ao rubro na América. 

Germano Almeida é jornalista do Maisfutebol, autor dos livros «Histórias da Casa Branca» e «Por Dentro da Reeleição» e do blogue «Casa Branca»

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