quarta-feira, 12 de junho de 2013

Histórias da Casa Branca: «Big Brother» ou administração amiga?

TEXTO PUBLICADO NO TVI24.PT, A 12 DE JUNHO DE 2013:

«Nós, o Povo dos Estados Unidos, a fim de formar uma União mais perfeita, estabelecer a Justiça, assegurar a tranquilidade interna, prover a defesa comum, promover o bem-estar geral, e garantir para nós e para os nossos descendentes os benefícios da Liberdade, promulgamos e estabelecemos esta Constituição para os Estados Unidos da América».
Parágrafo inicial da Constituição dos Estados Unidos da América


A citação do parágrafo inicial da Constituição dos EUA lembra-nos que todo o sistema de poder na América está baseado num princípio sagrado: o de que o poder provém do povo é cedido (apenas cedido) pelo povo aos seus representantes políticos.

Esse pressuposto é fundamental para que se perceba a mentalidade dominante naquele país. O respeito pelos direitos individuais nos EUA, tendo estes a primazia sobre a autoridade do Estado, não tem equiparação em qualquer outro sistema política no Mundo.

É neste ambiente que se devem analisar as recentes polémicas em torno de eventuais violações da privacidade admitidas pela Administração Obama, em programas de vigilância que visam combater novas ameaças terroristas.

O tema é obviamente delicado para o Presidente. No final 2007, em plena campanha para as primárias democratas, Barack Obama teceu fortes críticas ao então Presidente Bush por permitir eventuais intromissões na privacidade dos cidadãos, em nome de mais segurança.

Ora, foi precisamente o argumento de «um pouco menos de liberdade, para termos a segurança necessária» que Obama utilizou nos últimos dias para explicar aos americanos as notícias que falavam de escutas e acesso a dados confidenciais de milhões de cidadãos.

O caso ficou mais complicado para o Presidente quando foi revelado o «Garganta Funda» deste caso: Edward Snowden, um antigo funcionário do Google, que entretanto se mudou para Hong Kong.

Jay Carney, porta-voz da Casa Branca, foi vago na resposta às perguntas dos jornalistas sobre as investigações: «Não vou falar sobre o decorrer dessas investigações. Muito menos irei falar sobre pormenores do indivíduo em causa.»

A estratégia de controlo de danos da Casa Branca, em relação a este tema, passa por afastar o Presidente do odioso de patrocinar um programa obviamente polémico e colocar no centro das operações o Departamento de Justiça e a CIA.

Estudo recente mostra que a maioria dos americanos considera razoável que se abdique de alguma privacidade, desde que isso aumente a segurança.

De acordo com sondagem do Pew Research Center, 56% dos americanos considera «aceitável» o acesso da NSA aos registos telefónicos de milhões de americanos sem o seu conhecimento, em nome da segurança e do combate ao terrorismo. Apenas 41% dos americanos inquiridos considera essa prática «inaceitável».

Certo, certo é que o tema da vigilância do Estado sobre os cidadãos passou a estar na ordem do dia na América. Com um dado muito curioso: nos últimos dias, as vendas do «1984», livro em que George Orwell imagina um «Big Brother» que supervisiona todas as ações dos cidadãos, dispararam em flecha (quase 7000%!).

Mesmo com o apoio da opinião pública, Barack Obama sabe que a vigilância dos cidadãos nunca é um tema fácil. E certamente que o Presidente quererá sacudir a questão da agenda mediática.

A ala conservadora do Partido Democrata começa a exigir a demissão de Eric Holder, responsável pelo Departamento de Justiça. Mas uma demissão política seria sinal de fraqueza do Presidente, se atendermos ao facto de que Obama mostrou sempre estar de acordo com o caminho seguido pelos seus serviços de informação.

Tão poucos meses depois da reeleição, no segundo mandato, para bandeiras menos populares, os escândalos das últimas semanas ameaçam ensombrar o segundo mandato.

Até quando?»

Sem comentários: