quinta-feira, 23 de maio de 2013

Histórias da Casa Branca: Obama controla danos

TEXTO PUBLICADO NO TVI24.PT, A 17 DE MAIO DE 2013:

«Barack Obama tinha planeado esta fase para avançar a sério com a Reforma da Imigração, aproveitando a boleia de Marco Rubio, o jovem senador republicano da Florida, filho de cubanos, que assumiu o tema como prioridade na sua agenda política. 

As ideias de Rubio, possível nomeado presidencial republicano para 2016, ameaçam espartilhar os conservadores (que não conseguem ter uma posição uniforme sobre o tema) e isso, aparentemente, poderia ajudar o Presidente.

Só que Obama volta a não ter a gestão da agenda do seu agrado. As últimas semanas revelaram temas incómodos para a Administração democrata e ameaçam perturbar a condução política do segundo mandato do 44.º Presidente dos EUA.

Primeiro, foi o escândalo das «escutas» aos jornalistas da Associated Press que o Departamento de Justiça terá permitido, durante dois meses. 

O caso levou republicanos e mesmo analistas independentes a tecerem fortes críticas, naturais num país que leva a liberdade de Imprensa e os direitos de privacidade muito a sério. 

A Casa Branca, através do porta-voz de Obama, Jay Carney, sentiu-se na necessidade de se demarcar do Departamento de Justiça, colocando, assim, o ónus da crise em Eric Holder e não em Obama.

Mas rapidamente se levantaram vozes no Partido Republicano a exigirem a responsabilização do Presidente: afinal de contas, não será sempre ele quem tem a última palavra?

Na organização política de uma administração americana, essa associação nem sempre é líquida. Existe uma clara autonomia de atuação e mesmo de decisão entre os diferentes departamentos, ainda que, no plano mais político, a responsabilidade maior seja sempre do Presidente.

A forma como Obama fez questão de censurar o comportamento do IRS (Direção Geral dos Impostos) é um exemplo claro dessa leitura de separação feita pelo Presidente.

Obama demitiu o responsável pelos Impostos, Steven Miller, com críticas públicas à atuação deste, naquilo que considerou ser uma «perseguição inaceitável» a grupos ligados ao Tea Party. 

A atitude de censura pública a alguém ligado à administração pública americana, pouco comum em Obama, dá conta do clima de profunda hostilidade que se criou sobre o Presidente nos últimos dias. 

Ao demitir Miller, Obama acabou por ceder às pressões da direita, admitindo, de forma implícita, que estaria a ser pisada a linha de uma «intervenção inadmissível» do governo sobre os grupos independentes.

Entre a defesa da sua administração e o controlo de danos políticos e mediáticos, Barack Obama preferiu, neste caso a segunda hipótese.

Há coisas que, na América, nem um Presidente reeleito é capaz de mudar.»

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