quarta-feira, 15 de maio de 2013

Histórias da Casa Branca: a nova versão do domínio americano

TEXTO PUBLICADO NO SITE TVI24.PT, A 10 DE MAIO DE 2013:

«Os últimos anos têm reforçado a narrativa de que os Estados Unidos estão a perder o estatuto de única superpotência mundial.

Mas quererá isso dizer que estão a perder influência no Mundo? Não necessariamente.

O crescimento económico de Índia, China, Rússia e Brasil (que Fareed Zakaria rotulou de «ascensão dos outros») está a alterar os dados de uma equação que, nas últimas duas décadas, parecia simples.

Depois da queda do muro de Berlim, muitos pensaram que o Mundo seria... apenas americano.

A hegemonia dos EUA cimentou-se, nos anos 90, pela prosperidade económica da era Clinton e pela supremacia militar de uma América que já não tinha o fantasma soviético e ainda não se apercebera das novas ameaças que se construíam no Irão, na Coreia do Norte e no terrorismo islâmico.

As guerras do Iraque e do Afeganistão, na primeira década do século XXI, anunciaram novos tempos. 

Ainda exibindo uma supremacia militar impressionante, os Estados Unidos começaram a acusar dificuldades em conciliar o poder bélico com o equilíbrio económico.

Os esforços de guerra tiveram pesada fatura na economia americana e depois do abalo financeiro de 2007-2009 nada ficou como antes. 

Já nem a superpotência americana saía incólume a tamanhas contrariedades.

Enquanto isso, a China crescia a 10% ao ano. A Índia foi aprimorando a sua capacidade de inovação. O Brasil sublinhou o seu «milagre», passando, em poucos anos, da quase bancarrota para um crescimento económico notável, que o coloca no clube restrito dos países a olhar com atenção.

Estes novos dados tornam o Mundo diferente do que era nos anos 90? Sem dúvida. Mas decretam o fim do domínio americano? De forma alguma.

O que estamos a assistir, nesta era Obama, é, isso sim, a uma nova versão desse domínio americano.

Mais realista e muito menos idealista. Mais marcada pelo conceito da «cooperação» e bem menos pelo «conflito». 

Obama abdicou do «confronto» dos anos Bush e passou a preferir a «contenção». 

Apesar de vários apelos, o 44.º Presidente do EUA recusou-se a intervir na Síria e surpreendeu ao optar por uma participação discreta na Líbia («leading from behind»), deixando as despesas da operação aos franceses e ingleses. 

Colocando a questão norte-coreana num plano de menor credibilidade (Washington não ignora, mas também não valoriza excessivamente os devaneios do errático Kim-Jong Un), a grande preocupação tem a ver com o poder adquirido pela China.

O crescimento chinês tem sido tão forte nos últimos anos que Pequim está a começar a ter dificuldades em acomodar o seu poder na região da Ásia-Pacífico.

Demasiado grande para ser apenas uma potência regional, a China quer ser vista como uma potência mundial.

Já o é a nível económico e comercial. Quer ser também no plano militar. E isso é uma ameaça para os países vizinhos, que acenam cada vez mais com pedidos de ajuda aos EUA.

A tensão Washington/Pequim será a principal história a acompanhar na política e na diplomacia mundial nos próximos anos. 

As acusações da Administração Obama de espionagem eletrónica supostamente feita pela China dá conta dessa crescente tensão sino-americana.

«Em 2012, vários sistemas de computadores no mundo, incluindo os do governo dos EUA, têm sido constantemente alvo de invasões, algumas das quais parecem ser diretamente atribuídas ao governo e às Forças Armadas da China», acusou a Casa Branca, em recente relatório ao Congresso. 

Segundo o Pentágono, o objetivo é «roubar tecnologia industrial», mas também «desenhar um esquema das redes de defesa dos EUA e capacidades militares que podem ser exploradas numa possível crise bilateral».

O governo chinês garante que tudo não passa de «acusações infundadas e especulações» dos americanos.

O melhor é habituarmo-nos a este tipo de coisas.»

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