sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Histórias da Casa Branca: realismo, cooperação e cortes

TEXTO PUBLICADO NO SITE TVI24.PT, A 7 DE JANEIRO DE 2012:

A Casa Branca libertou, esta segunda-feira, duas indicações que já corriam, nas últimas semanas, em Washington, mas que ainda geravam algumas dúvidas, por não serem opções óbvias à primeira análise.

Barack Obama escolheu mesmo o republicano Chuck Hagel para secretário da Defesa no seu segundo mandato. E tem apontado para director da CIA John Brennan.

Hagel foi senador pelo Nebraska e representava, no Capitólio, o sector mais «moderado» e «realista» do Partido Republicano. 

Teve sempre excelentes relações pessoais e políticas com Barack Obama e foi, talvez a par de Richard Lugar, um dos republicanos que mais cooperou no Senado com o então jovem senador democrata que aparecia do Illinois com ideias firmes para o desarmamento e a uma noção «multilateral» do posicionamento da América no Mundo.

Chuck terá sido hipótese para a primeira administração Obama, mas acabou por não ser um dos republicanos escolhidos, perante as opções por Robert Gates (Defesa) e Ray La Hood (Transportes). 

Ao indicá-lo para chefiar o Pentágono, Barack Obama está a dar sinais claros de pragmatismo político, vontade de cooperação bipartidária e profundo realismo na política externa.

A moderação de Hagel afastou-o, nos últimos anos, das boas graças do discurso dominante no conservadorismo americano. Com Chuck no Pentágono, podemos continuar a esperar uma administração americana exigente com Israel, capaz de dialogar com todas as partes, mas muito realista na conceção do que devem ser as intervenções militares no século XXI.

O plano de profundos cortes na Defesa (já esboçado no primeiro mandato de Obama e reforçado nas intenções de campanha de reeleição) vai, certamente, continuar.

Ora, tudo isto são indicadores que não agradar à fação republicana que neste momento domina a Direita americana ¿ e que tanto infetou o discurso político de Mitt Romney na campanha eleitoral, ao prometer, por exemplo, um¿ aumento nas despesas militares, algo muito pouco sensato numa altura em que a América tenta, de forma mais ou menos desesperada, encontrar vias para reduzir o défice em biliões de dólares na próxima década.

Obama sabe que, ao escolher Chuck Hagel, não está a agradar à base do seu partido (porque coloca um republicano numa posição tão importante) e também não está a marcar pontos junto do Câmara dos Representantes republicana (que não olha para Hagel como um dos seus).

Mas o Presidente, com esta aposta, reforça sobretudo a via de um segundo mandato pragmático e realista na política externa. Da América podemos esperar uma noção de que é preciso reconfigurar a dimensão e o papel do maior e mais poderoso exército que, alguma vez, um país teve em algum momento da História.

John Brennan, o futuro diretor da CIA, foi outra escolha integrada nesta visão de Obama para a Defesa e Segurança. Vice-conselheiro nacional, responsável pelo Centro de Contraterrorismo e conselheiro do Presidente no primeiro mandato de Obama.

Foi com Brennan que Obama foi consolidando a sua opção de uma guerra mais «tecnológico» e «hi tech» e muito menos baseado em forças terrestres e «boots on the ground». 
A redução e progressiva retirada das tropas americanas do Iraque e do Afeganistão, ao mesmo tempo que se aumentou fortemente a utilização de «drones», são marcas que ficarão associadas ao primeiro mandato de Barack Obama e que terá, com John Brennan em Langley, uma clara continuidade.

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