domingo, 18 de novembro de 2012

Histórias da Casa Branca: desta vez, sem paixão

TEXTO PUBLICADO NO SITE TVI24.PT, A 5 DE NOVEMBRO DE 2012:

Barack Obama até parece estar em boa posição de ser reeleito amanhá, para mais quatro anos como Presidente dos Estados Unidos.

Mas é indiscutível que o love affair entre Obama e os americanos há muito que terminou.

Há precisamente quatro anos, nos dias finais da histórica eleição do primeiro Presidente negro da história dos EUA, somavam-se artigos de jornal e peças televisivas que colocavam Barack Obama como «o novo Kennedy», apontando o então senador do Illinois como o herdeiro do «sonho americano alimentado por Jack e Bobby Kennedy».

Quatro anos depois, o ambiente em torno da campanha de reeleição de Obama é completamente diferente. Algo não correu como muitos imaginaram.

Wally Dean, antigo apresentador, repórter e produtor-executivo da CBS News, cobriu várias campanhas presidenciais, desde 1968.

Em conversa com o tvi24.pt, Wally Dean realça a inquietação: «Parte tem a ver com o estilo. Parte possivelmente terá a ver com o caráter. Temos que olhar Robert F. Kennedy como administrador e como procurador-geral. Ele também dirigiu a campanha presidencial do irmão. A questão da guerra, da pobreza, ele interessava-se sinceramente pela pobreza, isso sentia-se... Obama parece-me mais um manager. Ele não transmite tanta paixão como RFK. Obama mostra uma abordagem mais intelectual. Um pouco como Romney, curiosamente, que mostra o seu lado empresarial. São ambos muito racionais. A questão é: isso significa mesmo menos paixão, ou significa apenas que Obama aborda a sua paixão com intelecto?»

«Curiosamente», nota Wally Dean, «Bill Clinton, que parece cada vez melhor aos olhos das pessoas, era uma combinação dos dois. Ligava-se as pessoas, mas quando queria, podia ser muito frio também. Muito focado no que queria ser. Bill juntava as duas coisas: a parte intelectual com a ligação emocional, como fez no discurso a favor de Obama na Convenção. Não vi isso nem em Obama nem em Romney nesta campanha».

Com uma eleição tão renhida, será que existe o risco de o vencedor não ser suficientemente reconhecida na sua legitimidade? Dean acredita que o pior cenário não se verificará: «O que seria mau era que houvesse uma grande confusão em torno da decisão final. Desde que o sistema eleitoral garanta uma decisão final, de preferência rápida e clara, não me parece que haja grandes riscos».

Para Wally Dean, «o grande problema está na incerteza. O importante é que o publico compreenda que a eleição é justa, não foi roubada, que foi conduzida honestamente e dentro das regras. Se isso acontecer, o público até pode não ficar contente com o resultado final, mas irá aceitá-lo, como o fez com Bush/Gore, em 2000».

Wally dedicou-se, nos últimos anos, a formação de jornalistas de todo o Mundo. Mas se ainda estivesse no terreno, como repórter, que campanha gostaria de cobrir? «Provavelmente Romney, apesar de a minha preferência ser a de não cobrir o day-by-day campaignin. Romney é o desconhecido, como era Obama há quatro anos. Ainda sinto que não tenho a certeza que o conheça bem. Mas tanto Obama como Romney são personagens muito interessantes».

Das várias campanhas presidenciais que cobriu, qual foi a mais interessante? Wally surpreende na resposta: «Teria sido a que não aconteceu, quando Johnson escolheu não concorrer à reeleição, em 1968. Na altura, as pessoas estavam nas ruas. Mais do que agora. Hoje, há muita preocupação dos americanos com os empregos, o futuro dos filhos, com o rumo do País. Mas em 68 era diferente, as pessoas estavam nas ruas. Na convenção democrata de Chicago, chegou a haver confrontos».

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