sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Histórias da Casa Branca: Vitória clara de Romney no primeiro debate


TEXTO PUBLICADO NO SITE DE A BOLA A 5 DE OUTUBRO DE 2012:


Vitória clara de Romney no primeiro debate

Por Germano Almeida


«Quem ainda tinha dúvidas de que a política americana é uma caixinha de surpresas, tirou-as depois do debate do Colorado.



Ao contrário de quase todos os dados prévios, o primeiro confronto presidencial entre Barack Obama e Mitt Romney teve um vencedor claro: o nomeado republicano.



Depois de semanas de más escolhas e ainda piores augúrios, a campanha de Romney parecia moribunda. Mesmo do lado republicano, começava a sentir-se uma noção de descrença em relação às reais possibilidade do ex-governador do Massachussets ainda conseguir bater Obama a 6 de novembro.



À frente nas sondagens, com ligeira vantagem no plano nacional e avanços sólidos nos estados decisivos, Barack Obama preferiu jogar pelo seguro. Apareceu em Denver, no primeiro de três debates presidenciais antes da eleição, defensivo e calculista.



É um dos lados de Barack Obama, menos visível mas por vezes utilizado pelo Presidente, nos diferentes palcos em que precisa de atuar: mais cerebral, por vezes quase sobranceiro, sem ir «à jugular», sem mostrar as garras ao adversário, mesmo quando teria uma boa hipótese de o atirar ao tapete.



O problema é que a estratégia, que vista de fora até pareceria inteligente, simplesmente não resultou. Obama pareceu, aos olhos dos telespetadores, dos comentadores e analistas, como distante, incomodado, alheado e, por vezes, até arrogante.



Isso caiu mal no julgamento do desempenho do candidato democrata (uma sondagem CNN deu 67 por cento a Romney e apenas 25 por cento a Obama à pergunta sobre quem tinha ganho o debate). Na comparação, Romney pareceu mais empenhado, mais envolvido e mais bem preparado que Obama.



Mitt tinha muito mais a ganhar – e também muito mais a perder. Os eleitores americanos já conhecem as características de Barack Obama, mas muitos deles ainda têm dúvidas e reservas sobre Romney.



Para muitos, esta era mesmo a última oportunidade Romney poder dar a volta à eleição. E a verdade é que o nomeado republicano respondeu bem: pegou no jogou, atacou, foi ao detalhe. Aproveitou as excessivas cautelas de Obama e foi dominando o tom do debate.



Acusou Obama de ter «esmagado» a classe média nos últimos quatro anos (sentando-se, assim, no segmento preferido de Barack). Mesmo que uma boa parte da argumentação de Romney possa não resistir ao teste dos ‘factchekers’, a verdade é que do ponto de vista do estilo e da forma, Mitt venceu claramente.



Romney dissipou dúvidas sobre se teria mesmo dimensão presidencial. Fez um debate estruturado, com boa capacidade de reação e provou ter tido uma boa preparação prévia (mérito, também, do senador Rob Portman, do Ohio, que fez de Obama na preparação republicana...)



Corrida relançada

Antes do debate de Denver, as vantagens de Obama chegaram a colocar uma possibilidade de KO de Barack sobre Mitt, em caso de vitória clara do Presidente no Colorado.



Mas Obama perdeu a oportunidade de resolver as coisas com um mês de avanço. Abdicou de lançar para o debate questões como os «47 por cento» do vídeo de Boca Raton ou temas sensíveis para Romney como a Bain Capital – que os anúncios negativos da campanha de Obama têm explorado ao limite.



Houve, até, um contraste difícil de entender entre as opções de Obama no debate e a argumentação da sua campanha nos anúncios televisivos.



Uma das explicações poderá residir na opção de Obama em se mostrar num plano presidencial (algo que já tinha feito na Convenção Democrata de Charlotte).



Barack entendeu que não tinha que descalçar as luvas (David Remnick, numa imagem com piada, referiu que Obama não quis ser Muhammed Ali no Colorado...). A questão é que Obama, estando bem posicionado para a reeleição, não tem uma vantagem assim tão grande para poder dar-se ao luxo de abdicar de sujar as mãos.



Romney provou que está pronto para a luta e relançou a corrida. Não foi uma viragem, mas foi uma mudança de agulha. Nos próximos debates, é muito provável que Obama apareça na sua versão guerreira.



Faltam 32 DIAS para as eleições presidenciais nos Estados Unidos.»

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