quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Histórias da Casa Branca: fantasma de 2000 pode voltar a atacar

SITE TVI24:

"A contagem decrescente já começou e o calendário tem cada vez menos folhas na parede: a 12 dias daquela que tem tudo para ser uma das eleições presidenciais mais disputadas da historia americana, aumentam os receios de que o duelo Obama/Romney nao venha a ter um vencedor claro nas horas seguintes ao fecho das urnas.

«Os dois campos ja estão a preparar um batalhão de advogados, sobretudo no Ohio e na Florida, dois dos estados decisivos onde a eleição está mais equilibrada», observa Jon Meacham, editor da Time e comentador do Morning Joe, da MSNBC, uma cadeia televisiva alinhada com o Partido Democrata.

Será que a eleição de 2012 corre o risco de cair na confusão da Florida/2000, que custou a eleição a Al Gore? Por estes dias, e perante tamanha divisão entre os dois campos partidários nos EUA, a resposta tem mais a ver com fé do que com fatores racionais de análise.

Quem ouça os comentadores da FOX, a bíblia televisiva da Direita americana, acredita que o Presidente Obama está em muito mais lençóis. Minutos depois de ter terminado o terceiro debate presidencial, e apesar das snap polls terem dado uma vitória clara a Obama sobre Romney, Charles Krauthammer, respeitado comentador de tendência conservadora, garantia com um ar zangado na estação de Rupert Murdoch: «Romney ganhou claramente. Claramente!»

Nas ultimas horas, foi libertado um estudo da Time que dá muito boas perspetivas a Obama no Ohio (49/44 na previsão do resultado e 60/30 na sondagem sobre o «early voting» já praticado naquele que será talvez o mais importante território dos chamados «swing states» em jogo).

Mas mesmo perante dados como este, as reações extremam-se. Assessores da campanha de Mitt Romney apressaram-se a fazer passar a ideia de que «os republicanos costumam votar mais tarde» e, como tal, será normal que Obama tenha forte vantagem no voto antecipado.

Como é que o mainstream media na América reage a este tipo de clima? Lisa Desjardins é a correspondente sénior da CNN Radio no Capitólio. Lisa é um exemplo prático de como os jornalistas políticos na América se desdobram, hoje, por diversas plataformas: «Faço varias peças diárias na rádio, escrevo no meu blogue e também entro na emissão televisiva da CNN», conta.

A sua longa experiência na cobertura noticiosa do Senado e da Câmara dos Representantes faz-lhe emitir a sentença: «Não me lembro de um momento tão tenso como este».

«Nos primeiros tempos», observa a jornalista, «um Congresso politicamente dividido é bom, porque há sempre novidades. O problema é que chegámos a uma situação extrema, de impasse e paralisação, sobretudo depois do controlo dos republicanos da Câmara dos Representantes. Atingimos um ponto limite».

As atenções mediáticas viraram-se, quase em exclusivo, para as eleições presidenciais. E não são só Obama e Romney que têm andado em permanentes viagens: as estrelas políticas de Washington também se têm juntado aos candidatos presidenciais nos estados decisivos.

Lisa explica: «Para dizer a verdade, os corredores do Capitólio tem estado pouco movimentados nos últimos tempos. Está quase toda a gente fora de Washington».

Há outra explicação para esta aparente contradição: D.C. não é um campo de batalha eleitoral a 6 de novembro, porque Obama vencerá, claramente, Romney na capital dos EUA por larga margem. Tradicionalmente, o distrito de Columbia (não confundir com o estado de Washington, que se encontra na Costa Oeste, junto ao Pacifico), vota nos democratas.

Faltam 12 DIAS para as eleições presidenciais nos EUA."

EUA: leia todos os dias as «histórias da Casa Branca»

"Faltam duas semanas para as eleições Presidenciais nos Estados Unidos e o tvi24.pt vai continuar a acompanhar de perto a campanha eleitoral.

A partir desta quinta-feira, o jornalista Germano Almeida vai contar tudo a partir desde Washington D.C. Os bastidores da campanha, o sentimento nas ruas, o que pensam os americanos de Barack Obama e Mitt Romney, a cobertura dos media.

Germano Almeida é autor do livro «Histórias da Casa Branca», publicado em 2010 pela «Prime Books», com prefácio do General Loureiro dos Santos. Está na capital americana ao abrigo de uma bolsa da Fundação Luso-Americana. Começou a escrever sobre política norte-americana em 2003, na blogosfera, e é o autor do blogue Casa Branca."

in TVI24.pt

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Histórias da Casa Branca: Empate no duelo dos 'vices'


TEXTO PUBLICADO NO SITE DE A BOLA A 12 DE OUTUBRO DE 2012:

Empate no duelo dos ‘vices’

Por Germano Almeida



«O debate vice-presidencial entre Joe Biden e Paul Ryan pode ter como sentença um empate. Os números dois dos tickets presidenciais de 2012 tiveram um duelo vivo, dinâmico e sumarento, que elevou o tom desta corrida.



Foi hora e meia de discussão acesa, com factos bem apresentados, sustentados com números e a lição bem estudada pelos dois candidatos.



Joe Biden foi eficaz na tarefa de apagar a atitude excessivamente defensiva de Barack Obama no primeiro debate com Romney. O número 2 do ticket democrata passou ao ataque, falou dos «47%» de Romney, criticou as propostas fiscais dos republicanos.



Paul Ryan, muito bem preparado, mostrou-se sólido mesmo nos temas de política externa, nos quais não tem experiência, e onde Biden é especialista. Foi um duelo vivo, por vezes agressivo. Ajudou a perceber as diferenças e agradou às bases dos dois campos.



O debate do Kentucky não vai decidir as eleições, mas ajudará a elevar o tom do debate e abre o apetite para o duelo Obama/Romney em Hempstead, na próxima terça-feira.



São dois políticos muito diferentes: Joe é 27 anos mais velho que Paul; posiciona-se numa ala claramente liberal do Partido Democrata, enquanto Ryan é o líder ideológico da maioria republicana na Câmara dos Representantes.



Num ano marcado pelo clima divisivo em Washington, os dois candidatos a vices têm visões claramente diferentes sobre temas cruciais para a América neste momento: propostas fiscais, o que fazer ao Medicare? Como lidar com a ameaça nuclear iraniana?



Tradicionalmente, o debate dos vices não conta muito para a decisão das eleições. Basta dizer que, em 1988, Lloyd Bentsen, candidato a vice do democrata Mike Dukakis, arrasou o número dois de George W. Bush (Dan Quayle), no debate televisivo, mas nas urnas o ticket republicano ganhou facilmente, arrecadando 40 a vitória em 40 estados.



O debate do Kentucky não vai decidir as eleições. Mas ajuda a elevar o tom duelo: quem o viu, ficou a perceber melhor as diferenças claras que existem nas visões das duas candidaturas.



Democratas mais sorridentes

Depois do desempenho insuficiente de Obama no primeiro debate presidencial, era fundamental que Joe Biden tivesse uma prestação convincente – e teve-a.



Foi aos detalhes, atacou o adversário nos pontos que os democratas consideram que Obama devia ter feito há dias a Romney: desde cedo se percebeu que a estratégia democrata para Joe neste debate era a de mostrar, logo nos primeiros minutos, que desta vez as luvas eram para calçar.



Biden cumpriu o que as hostes democratas lhe exigiam: que mantivesse a chama viva e ajudasse a travar o ‘momentum’ ganho pelos republicanos depois do triunfo de Romney sobre Obama, em Denver.



Ryan mais controlado

Se Joe Biden marcou pontos nas críticas feitas ao adversário e na qualidade da argumentação exposta, a verdade é que pode ter prejudicado a sua imagem ao exagerar nos sorrisos cínicos e nas interrupções ao opositor.



Paul Ryan mostrou-se mais controlado, a respeitar as regras do debate, com uma postura mais responsável. Fixou-se nas ideias, mostrou-se muito bem preparado (terá feito, nas últimas semanas, nove simulações de tempo real deste debate) e sublinhou alguns dos pontos mais fortes do seu número 1: a experiência na Economia, o perfil de ‘job creator’.



Tudo somado, o debate dos ‘vices’ deve ser sentenciado com um empate técnico. O risco era maior para Joe Biden, se tivesse uma derrota com a dimensão que Obama sofreu há dias. Os democratas sentem-se aliviados, mas a energia, por estes dias, continua do lado republicano.



Faltam 25 DIAS para as eleições presidenciais nos Estados Unidos

Histórias da Casa Branca: A 'surge' de Romney e o controlo de danos de Obama


TEXTO PUBLICADO NO SITE DE A BOLA A 11 DE OUTUBRO DE 2012:

A «surge» de Romney e o controlo de danos de Obama

Por Germano Almeida





A derrapagem de Barack Obama no primeiro debate com Mitt Romney foi gasolina para a vontade dos republicanos em alimentar o caso de uma suposta presidência falhada do atual titular da Casa Branca.



Brit Hume, na Fox News, comentou: «Não considero que Obama tenha sido terrivelmente mau no debate. A questão é que a tese e o registo dele são fracos». Henry Porter, no Guardian, lançou a questão: «Será que Obama perdeu a vontade de vencer esta eleição?»



Sem perder a oportunidade de pisar o seu ódio de estimação, Sarah Palin (ex-governadora do Alasca e candidata a vice-presidente no ticket republicano em 2008), divertiu-se com Sean Hannity, no dia seguinte ao duelo do Colorado: «Qualquer pessoa pode ler o que os outros escrevem. Obama é o Presidente do teleponto, mas sem o texto à frente espalhou-se completamente».



O campo de Mitt Romney passou do desespero à euforia em poucos dias. O nomeado republicano beneficiou de uma «surge» pós-debate nas sondagens, que lhe permite voltar a ser competitivo nos estados decisivos (empates técnicos no Ohio, na Florida e na Virgínia, territórios onde, há duas semanas, Obama vencia claramente) e ganhou espaço para atacar os pontos fracos do Presidente.



Em contraponto, a gestão de danos no campo de Obama não tem sido fácil de fazer. Robert Gibbs, um dos principais assessores de Barack, lançou a acusação, no «This Week» do George Stephanopoulos, na ABC: «O governador Romney teve um desempenho magistral no primeiro debate, o problema é que ele foi baseado numa argumentação basicamente desonesta. Francamente, não creio que esta campanha tenha mudado. O que mudaram foram as ideias de Romney».



Ainda mais incisivo no argumento da «falsidade de Romney», David Axelrod (antigo conselheiro sénior da Casa Branca e principal conselheiro da campanha de reeleição de Obama), foi mais longe, em entrevista ao «Face the Nation», da CBS: «Romney teve uma grande performance no debate, mas foi, sobretudo, descolado da realidade e completamente incoerente com aquilo que disse nos últimos dois anos».



O momento de Romney



Os últimos dias marcaram, por isso, uma «surge» de Romney e um controlo de danos de Obama. Mesmo sendo correta a visão do campo de Obama de que uma boa parte da argumentação de Romney no debate foi baseada em mentiras ou incorreções, é indiscutível que a imagem que passou foi de um Romney forte e persuasivo e de um Obama defensivo e pouco convincente.



A descida da taxa de desemprego para 7,8 por cento no relatório de setembro (libertado no dia seguinte ao debate do Colorado) pode minimizar danos à campanha de Obama. Mas Romney tem sabido aproveitar o «momentum» ganho no debate e tem vindo a aparecer mais solto e mais conetado com o eleitorado.



Se o duelo de Denver era o «make or break» para Mitt Romney, o segundo debate entre os dois nomeados, marcado para o próximo dia 16, torna-se decisivo para Barack Obama: ou o democrata consegue um desempenho muito melhor do que o que fez no Colorado, ou poderá mesmo ter a liderança da corrida em risco.



Faltam 26 DIAS para as eleições presidenciais nos Estados Unidos.»

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Histórias da Casa Branca: Novo fôlego de Romney relançou a corrida


TEXTO PUBLICADO NO SITE DE A BOLA A 9 DE OUTUBRO DE 2012:


Novo fôlego de Romney relançou a corrida

Por Germano Almeida



«Falta menos de um mês para a grande eleição e parece que a corrida foi relançada. Chris Christie, o governador republicano da Nova Jérsia, bem tinha dito que «o primeiro debate iria provocar uma total alteração dos dados desta corrida».



Antes do debate presidencial do Colorado, quase todas as probabilidades jogavam a favor do Presidente. Havia, até, um sentimento de descrença a criar-se no campo republicanos: será que Mitt Romney tinha mesmo sido a melhor escolha para defrontar Obama?



Mais persuasivo junto do americano médio, a gozar os rendimentos políticos de uma Convenção bem-sucedida (sobretudo com o brilhante discurso de Bill Clinton), Barack Obama parecia lançado para uma reta final relativamente tranquila, a caminho da reeleição.



Depois do primeiro debate presidencial, os dados mudaram. Mitt Romney conseguiu afastar muitos dos fantasmas que ensombravam a sua pretensão presidencial.



Não surgiu no debate como um «elitista descolado dos reais problemas do americano médio». E enfrentou as críticas de que as suas propostas prejudicariam a classe média, garantindo, face a face com o Presidente, que ele sim defenderá uma «classe média esmagada por quatro anos de Administração Obama».



A campanha de Obama tratou, nos dias seguintes ao duelo de Denver, de desmontar algumas das asserções feitas por Romney, mas a novidade está lançada.



Os estrategas republicanos já tinham avisado há muito: não vão deixar que «os factcheckers» estraguem os seus argumentos – mesmo que eles não passem no teste da realidade.



No debate de Denver, Romney jurou a pés juntos que o seu plano fiscal não implicará um corte de cinco biliões de dólares na receita. Todos os estudos independentes garantem que vai mesmo implicar.



Se, no plano do estilo e da forma, foi claro que Mitt Romney foi mais convincente do que Barack Obama, a verdade é que o debate de Denver reforçou, no conteúdo, duas coisas.



Por um lado, que os dois candidatos são tendencialmente mais cautelosos e pragmáticos do que os campos que representam. Tanto Obama como Romney admitiram que, em matérias essenciais para o sistema, chegam a estar de acordo (como na Segurança Social).



Regressar ao essencial

Por outro lado, as visões dos dois nomeados foram claramente expostas: Romney insiste na tecla do sucesso individual e da crítica ao peso excessivo do Estado; Obama elogia as virtudes do investimento público (sobretudo em áreas como a Saúde e da Educação) e coloca as funções do Governo federal como determinantes para «dar oportunidades a todos».



Em resumo, na visão de Romney, «o excessivo peso do Governo está a matar o sonho americano». Obama, em contraponto, acredita que «o sonho americano só pode sobreviver à crise se o Governo der uma ajuda».



Esta diferença de visões é fundamental para se perceber o clima divisivo desta eleição. E acaba por ser a questão fulcral para se determinar quem vai votar em quem.



Perante um cenário de grande equilíbrio, as quatro semanas finais podem acentuar estas diferenças. E isso favorece o argumento usado por Obama na parte final de debate de Denver, acusando Romney, um conservador tradicional, de se ter «deixado contagiar pelos extremistas do Partido Republicano». E energiza, sobretudo, as críticas dos comentadores ultraconservadores, com tanto espaço mediático em palcos como a Fox News, a destilar ódio sobre Obama, que na sua visão é «o mais liberal dos Presidentes americanos» e que «precisa de um teleponto para falar».



Faltam 28 DIAS para as eleições presidenciais nos Estados Unidos.»

domingo, 7 de outubro de 2012

Histórias da Casa Branca: Evolução do emprego favorece Obama


TEXTO PUBLICADO NO SITE DE A BOLA A 7 DE OUTUBRO DE 2012:


Evolução do emprego favorece Obama

Por Germano Almeida




«O pós-debate do Colorado não foi fácil para Barack Obama: a sentença de que o Presidente perdeu o primeiro confronto com o seu adversário, Mitt Romney, foi unânime.



Mesmo o campo democrata não escondeu a sua desilusão com o desempenho de Obama, admitindo até alguma surpresa com as omissões de Barack em relação a vários pontos em que poderia atacar o seu oponente conservador.



Renascido com a vitória clara que obteve em Denver, o campo de Mitt Romney voltou a acreditar na eleição do seu candidato a 6 de novembro. Este sentimento tem gerado, nos últimos dias, um aumento do entusiasmo da base republicana, que se tem traduzido, também, numa maior capacidade da campanha de Romney vir a recolher fundos suficientes para que o nomeado

republicano consiga atacar a reta final com dinheiro suficiente para pagar os anúncios de propaganda.



As primeiras sondagens pós-debate apontam para alguma recuperação de Romney, sobretudo nos estados decisivos, mas mantêm Barack Obama à frente, tanto no voto popular como no Colégio Eleitoral.



E o relatório mensal do emprego nos EUA ajudou o Presidente a voltar algum controlo da conversa na campanha.



Como é sabido, um dos principais pontos da argumentação republicana contra o Presidente reside elevada taxa de desemprego que os EUA ainda mostram. Há 70 anos que um Presidente não é reeleito com uma taxa de desemprego superior a 7,2 por cento (desde Roosevelt). Mas nos anos Obama essa taxa esteve quase sempre acima dos 8 por cento.



Teoricamente, isso seria quase impeditivo da reeleição. Mas não é o que as sondagens têm dito: o mais provável continua a ser que Obama consiga vencer a 6 de novembro.



Finalmente abaixo dos 8%

Depois de 29 meses de descida ligeira (no pico da crise, entre finais de 2009 e meados de 2010, o desemprego nos EUA estava nos 10 por cento e baixou para os 8.1 no verão deste ano), no verão as coisas voltaram a recuar.



A capacidade de recuperação da economia americana começou a desacelerar e isso foram más notícias para esta Administração. Mas o relatório de setembro apontou novos sinais positivos, com a criação de 114 mil novos postos de trabalho e a consequente descida da taxa de desemprego para os 7.8 por cento.



Sendo ainda um valor alto, está já abaixo da barreira dos 8 por cento (retirando, assim, a ‘punch line’ a Paul Ryan, que repete todos os dias que os anos Obama foram marcados pelo desemprego acima de 8 por cento...)



A campanha de Romney reagiu a este relatório dizendo que «23 milhões de americanos continuam à procura de emprego», o que é, no mínimo, uma liberdade criativa: na verdade, o número de desempregados na América, sendo elevado, está muito abaixo desse valor (analistas explicam que Romney está a incluir quem está em sub-emprego ou em ‘part time’).



A verdade é que o primeiro mandato de Obama pode ter como um dos principais legados a forte criação de emprego: quase 5 milhões de novos postos de trabalho criados no setor privado desde janeiro de 2009. Insuficiente para resolver a crise, mas a desenhar uma linha de recuperação que, como muito bem explicou Bill Clinton na Convenção, pode significar «o início de uma rota de prosperidade que ainda não se sente, mas cujas fundações já estão edificadas».



Falta saber se Barack Obama conseguirá voltar a pegar na liderança do debate desta campanha, de modo a poder explicá-lo devidamente aos americanos.



Faltam 30 DIAS para as eleições presidenciais nos Estados Unidos».

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Histórias da Casa Branca: Vitória clara de Romney no primeiro debate


TEXTO PUBLICADO NO SITE DE A BOLA A 5 DE OUTUBRO DE 2012:


Vitória clara de Romney no primeiro debate

Por Germano Almeida


«Quem ainda tinha dúvidas de que a política americana é uma caixinha de surpresas, tirou-as depois do debate do Colorado.



Ao contrário de quase todos os dados prévios, o primeiro confronto presidencial entre Barack Obama e Mitt Romney teve um vencedor claro: o nomeado republicano.



Depois de semanas de más escolhas e ainda piores augúrios, a campanha de Romney parecia moribunda. Mesmo do lado republicano, começava a sentir-se uma noção de descrença em relação às reais possibilidade do ex-governador do Massachussets ainda conseguir bater Obama a 6 de novembro.



À frente nas sondagens, com ligeira vantagem no plano nacional e avanços sólidos nos estados decisivos, Barack Obama preferiu jogar pelo seguro. Apareceu em Denver, no primeiro de três debates presidenciais antes da eleição, defensivo e calculista.



É um dos lados de Barack Obama, menos visível mas por vezes utilizado pelo Presidente, nos diferentes palcos em que precisa de atuar: mais cerebral, por vezes quase sobranceiro, sem ir «à jugular», sem mostrar as garras ao adversário, mesmo quando teria uma boa hipótese de o atirar ao tapete.



O problema é que a estratégia, que vista de fora até pareceria inteligente, simplesmente não resultou. Obama pareceu, aos olhos dos telespetadores, dos comentadores e analistas, como distante, incomodado, alheado e, por vezes, até arrogante.



Isso caiu mal no julgamento do desempenho do candidato democrata (uma sondagem CNN deu 67 por cento a Romney e apenas 25 por cento a Obama à pergunta sobre quem tinha ganho o debate). Na comparação, Romney pareceu mais empenhado, mais envolvido e mais bem preparado que Obama.



Mitt tinha muito mais a ganhar – e também muito mais a perder. Os eleitores americanos já conhecem as características de Barack Obama, mas muitos deles ainda têm dúvidas e reservas sobre Romney.



Para muitos, esta era mesmo a última oportunidade Romney poder dar a volta à eleição. E a verdade é que o nomeado republicano respondeu bem: pegou no jogou, atacou, foi ao detalhe. Aproveitou as excessivas cautelas de Obama e foi dominando o tom do debate.



Acusou Obama de ter «esmagado» a classe média nos últimos quatro anos (sentando-se, assim, no segmento preferido de Barack). Mesmo que uma boa parte da argumentação de Romney possa não resistir ao teste dos ‘factchekers’, a verdade é que do ponto de vista do estilo e da forma, Mitt venceu claramente.



Romney dissipou dúvidas sobre se teria mesmo dimensão presidencial. Fez um debate estruturado, com boa capacidade de reação e provou ter tido uma boa preparação prévia (mérito, também, do senador Rob Portman, do Ohio, que fez de Obama na preparação republicana...)



Corrida relançada

Antes do debate de Denver, as vantagens de Obama chegaram a colocar uma possibilidade de KO de Barack sobre Mitt, em caso de vitória clara do Presidente no Colorado.



Mas Obama perdeu a oportunidade de resolver as coisas com um mês de avanço. Abdicou de lançar para o debate questões como os «47 por cento» do vídeo de Boca Raton ou temas sensíveis para Romney como a Bain Capital – que os anúncios negativos da campanha de Obama têm explorado ao limite.



Houve, até, um contraste difícil de entender entre as opções de Obama no debate e a argumentação da sua campanha nos anúncios televisivos.



Uma das explicações poderá residir na opção de Obama em se mostrar num plano presidencial (algo que já tinha feito na Convenção Democrata de Charlotte).



Barack entendeu que não tinha que descalçar as luvas (David Remnick, numa imagem com piada, referiu que Obama não quis ser Muhammed Ali no Colorado...). A questão é que Obama, estando bem posicionado para a reeleição, não tem uma vantagem assim tão grande para poder dar-se ao luxo de abdicar de sujar as mãos.



Romney provou que está pronto para a luta e relançou a corrida. Não foi uma viragem, mas foi uma mudança de agulha. Nos próximos debates, é muito provável que Obama apareça na sua versão guerreira.



Faltam 32 DIAS para as eleições presidenciais nos Estados Unidos.»

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Histórias da Casa Branca: Nova oportunidade para a reconciliação



TEXTO PUBLICADO NO SITE DE A BOLA A 1 DE OUTUBRO DE 2010:

«Há quatro anos, Barack Obama construiu a sua campanha com base em duas ideias: ‘mudança’ e ‘reconciliação’.




O então candidato democrata propunha-se «construir pontes», de forma a melhorar um clima político que, nos últimos anos, se tem revelado particularmente dividido.



Se na parte da ‘mudança’, algumas vitórias foram conseguidas (Reforma da Saúde; revogação do ‘Don’t ask, don’tell’; fortes apoios a estudantes universitários pagarem os seus cursos; início da recuperação económica; salvação da indústria automóvel), a parte da ‘reconciliação’ falhou claramente.



Na verdade, o clima de hostilidade dos republicanos contra o Presidente até aumentou durante os anos Obama.



Mitch McConnell, líder da minoria republicana no Senado, teve uma tirada reveladora, quando, a dois longos anos das presidenciais de 2012, assumiu: «A nossa primeira prioridade é a evitar que Obama cumpra um segundo mandato».



Uma boa parte da atitude hostil dos republicanos tem a ver com a influência excessiva do Tea Party. A ala radical da direita conservadora americana não suportou a ideia de ver na Casa Branca um Presidente com o perfil pessoal e político de Barack Obama.



Depois do triunfo maciço dos republicanos na ‘midterms’ de novembro 2010, essa atitude extremou-se. O Presidente tentou várias iniciativas bipartidárias, mas quase todas elas esbarraram no dogma republicano da obstrução.



Momento de viragem



Forçado a trabalhar com um Congresso dominado pelos republicanos (forte maioria na Câmara dos Representantes, minorado pela ligeira vantagem de três senadores que os democratas têm no Capitólio), Barack Obama nunca desistiu de tentar acenar ao outro lado.



Só que, do lado republicano, viu quase sempre hostilidade (houve poucas exceções à regra e uma delas foi o apoio à ratificação do novo Tratado Start).



Este clima de bloqueio teve pontos especialmente críticos, sobretudo quando, no verão de 2011, a América esteve a poucos dias de ficar sem acesso a financiamento. O aumento do teto da dívida tem que ser aprovado pelo Congresso – e o acordo só apareceu à última e depois de muitas cedências do Presidente e até do ‘speaker’ da House, o republicano John Boehner.



O congressista do Ohio não conseguiu travar as pressões do Tea Parti e esse foi um momento definidor do clima pouco saudável que se viveu em Washington nos últimos anos.



O que é que esta campanha presidencial está a mostrar? Que a vantagem de Obama sobre Romney pode significar que os americanos estão fartos desse clima de bloqueio – e sentem que chegou o momento de se avançar.



Bill Clinton, que nos anos 90 teve um ano de Governo bloqueado na sequência de tensões com um Congresso maioritariamente republicano, acredita que Barack Obama pode ter na reeleição o seu momento para seguir em frente.



Eis a ideia de Clinton, exposta em entrevista a Piers Morgan, na CNN: «Depois daquele ano de paralisação, as pessoas perceberam que eu tinha razão e os republicanos foram forçados a dialogar. O resultado foi que tivemos cinco anos muito produtivos. Sinto que a reeleição de Obama será esse momento – e se isso acontecer, podemos ainda ter quatro anos muito positivos para a América, no segundo mandato deste Presidente».



Faltam 36 DIAS para as eleições presidenciais nos Estados Unidos.»

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Histórias da Casa Branca: Última chamada para Mitt Romney


TEXTO PUBLICADO NO SITE DE A BOLA A 29 DE SETEMBRO DE 2012:

Última chamada para Mitt Romney

Por Germano Almeida
 
 

Pode ainda Mitt Romney dar a volta a uma eleição que começa a parecer perdida para o campo republicano? Poder, ainda pode, mas o tempo está a esgotar-se para a estratégia do antigo governador do Massachussets.

Os últimos dias foram muito bons para as aspirações de reeleição de Barack Obama. O candidato democrata disparou nos ‘swing states’, sobretudo nos dois que costumam ser mais decisivos: Ohio e Florida.

Há dois meses, Romney estava muito à frente de Obama nesses dois estados, nos segmentos relacionados com os eleitores mais velhos, os hispânicos ou os trabalhadores brancos.

Ora, em poucas semanas, nesses três importantes setores (mais os idosos e latinos na Florida, mais os trabalhadores brancos no Ohio), Obama não só recuperou o atraso que tinha como conseguiu passar para a frente.

Os resultados são claros: o Presidente tem agora um avanço no Ohio que, de acordo com as últimas sondagens, chega aos dois dígitos (53/43) e uma vantagem na Florida que oscila entre os seis e os nove pontos.

É certo que uma corrida presidencial nos EUA mexe com um número muito variado de fatores. Mas a questão, a um mês e uma semana das eleições, é mesmo esta: ou Romney altera rapidamente este estado de coisas nos estados decisivos, ou não terá qualquer possibilidade de sonhar em ser eleito em Presidente em 2012.

O estado das coisas na corrida presidencial tem, por isso, muito a ver com aritmética: é que os números mostram que Obama, a manter-se este quadro, tem a reeleição na mão.

Debate decisivo para Mitt
A evolução das sondagens nos estados decisivos, nas últimas semanas, explica-nos que Barack Obama está a ganhar a batalha da persuasão nos territórios que vão decidir a eleição.

No Ohio, o argumento de que esta administração «salvou a indústria automóvel» tem sido especialmente poderoso: é que, como Barack tem recordado nos comícios, «um em cada oito empregos no Ohio dependem dessa indústria».

Do Michigan, então, nem vale a pena falar: até há uns meses, parecia que ia ser um ‘battleground state’, mas a campanha de Romney já percebeu que não vale a pena continuar a gastar muito dinheiro por lá.

O caso da Florida é diferente. Obama poderia ter alguns problemas no ‘sunshine state’, tendo em conta o comportamento modesto da Economia naquele importante estado.

A questão é que um terço do eleitorado da Florida tem 65 anos ou mais. E a defesa do Medicare tem sido um importante trunfo para Obama – por oposição com as ideias um pouco assustadoras de Mitt Romney e, sobretudo, do seu vice, Paul Ryan, quanto a uma possível substituição do Medicare por um «sistema de vouchers».

Com a diferença nas sondagens nacionais a aumentar para 5/8 pontos, e um panorama nos estados decisivos que aponta para fortes vantagens de Obama sobre Romney em 10 dos 12 terrenos de batalha, os alarmes estão a soar no campo republicano: ou Mitt ganha claramente o primeiro debate (3 de outubro, Denver, Colorado), ou esta eleição poderá nem ser, afinal, tão disputada como se escreveu nos últimos meses...

Surpresa de outubro?
A perder a batalha dos estados decisivos (sobretudo no Ohio, na Florida e no Wisconsin, já para nem falar da Pensilvânia, que com diferenças de 10/12 pontos começa a ser um caso perdido para os republicanos...), Mitt Romney tem sido pressionado pela ala direita do seu partido para endurecer o discurso e dramatizar questões como os tumultos no mundo muçulmano contra a América ou as opções de Obama em dar prioridade à campanha eleitoral, sacrificando a sua agenda de Presidente.

Mas Romney tem optado por manter uma disciplina na mensagem, focando-se, quase em absoluto, no argumento económico.

Mitt garante estar «em muito melhores condições do que o Presidente para criar empregos». Nas sondagens, esse era o único item em que Romney batia Obama. Só que até nesse aspeto, Obama está a vencer a campanha dos argumentos.

Neste cenário, há quem defenda que nem uma ronda de debates inspirada possa valer a Romney. Com o tempo a esgotar-se, o candidato republicano necessita de uma alteração dramática da lógica desta corrida.

Da forma como vai o Mundo, isso não é totalmente impossível de acontecer: um agravamento dramático da tensão Israel/Irão? O afundamento económico da Europa, com resgates de urgência a Espanha e Itália?

Só mesmo um cenário de catástrofe poderia inverter a lógica que está a dominar esta eleição. É que, na arena política, o caso de Barack Obama está a ser mais convincente para os americanos que o de Mitt Romney.

Faltam 38 DIAS para as eleições presidenciais nos Estados Unidos.»