sábado, 22 de setembro de 2012

Histórias da Casa Branca: Romney e os «47 por cento», Obama e a «redistribuição»


TEXTO PUBLICADO NO SITE DE A BOLA A 21 DE SETEMBRO DE 2012:


Romney e os «47 por cento», Obama e a «redistribuição»

Por Germano Almeida



«Estamos a falar de 47 por cento que estão ao lado dele (de Obama), que dependem do Governo, que acreditam que são vítimas, que acreditam que o Governo tem a responsabilidade de olhar por elas e que têm direito a cuidados de saúde, comida, habitação e tudo o mais.»
MITT ROMNEY, nomeado presidencial do Partido Republicano, num discurso informal a eventuais financiadores, em Boca Raton, Florida



«Será difícil servir os americanos como Presidente quando se critica com desdém metade da nação.»
JIM MESSINA, diretor de campanha de Barack Obama



A mês e meio da grande eleição, os campos começam a clarificar-se. Já por aqui que se escreveu que estas serão, muito provavelmente, as eleições presidenciais mais ideológicas das últimas décadas na América.



Há muitos anos que não se viam dois candidatos presidenciais tão diferentes nas respetivas conceções de encarar as diferenças que existem na sociedade.



Mitt Romney, que na prática anda em campanha há cinco anos (desde o ano anterior às primárias de 2008, que perdeu para John McCain), bem tenta descolar-se da imagem de «demasiado rico» e «descolado da realidade da maioria dos americanos».



É certo que se apresenta com uma abordagem mais responsável e realista do que uma boa parte dos seus colegas de partido, mas a verdade é que Romney tem dado sinais de não conseguir demarcar-se completamente do contágio da ala mais radical do Partido Republicano – que dominou por completo o tom, o registo e, sobretudo, as ideias da Direita americana nos últimos anos.



Numa altura em que a campanha de Romney ainda se tentava refazer dos danos causados pela reação precipitada do seu candidato contra Barack Obama, a propósito do assassinato do embaixador Chris Stevens em Bengasi, na Líbia, eis que o nomeado republicano volta a estar no centro de um caso que mostra uma preocupante falta de dimensão presidencial.



Na sequência de um vídeo libertado por uma revista liberal (a ‘Mother Jones’), ficámos a saber que Romney, a 17 de maio (altura em que já estava mais do que claro que viria a ser ele o nomeado presidencial republicano para 2012), comentou num discurso informal a potenciais financiadores da sua campanha na Florida que quase metade do eleitorado («47 por cento» disse ele) iria preferir Obama em novembro porque está «dependente» de apoios do Governo.



A ideia, partilhada num ambiente que Romney pensou estar isolado da atenção dos media, dá conta de um sentimento dominante no atual Partido Republicano: o de que «o outro lado» tem uma visão despesista e dependente do Estado e que serão os republicanos os últimos defensores da ideia, muito americana, de que o sucesso empresarial e a prosperidade só se conseguem num cenário em que o Estado não se meta na economia.



A frase de Romney foi adequada ao contexto: ele disse-a no ambiente seleto de quem tem muito dinheiro e se sente afrontado com as políticas de forte investimento público desta administração democrata.



O problema é que, na acesa luta eleitoral que se vive na América, é muito pouco prudente para os interesses da campanha de Mitt Romney que se fique a saber, como bem notou Jim Messina, «ele critica com desdém metade da nação».



Obama aproveitou a oferta e declarou no dia seguinte, no talk show de David Letterman: «Quando se é Presidente, trabalha-se para todos».



Duas Américas?



Dificilmente se poderia ver uma divisão mais clara como a que se está a verificar: os democratas assumem-se como o partido da «sociedade partilhada», os republicanos carregam na tecla da «liberdade individual», sobretudo no ponto empresarial do conceito.



Bill Clinton definiu bem a fronteira, no discurso na Convenção em Charlotte: «Se querem uma sociedade ‘winner takes all’, onde cada um se terá que safar como pode, podem votar em Mitt Romney e Paul Ryan; mas se preferem uma sociedade partilhada, que procure soluções para o bem comum, então devem votar em Barack Obama e Joe Biden».



Na tentativa de controlo de danos da sua polémica declaração em Boca Raton, Mitt Romney tentou explicar que «não foi feliz e simplificou uma ideia complexa». Mas figuras conservadoras como Donald Trump ou Rush Limbaugh consideram que esta até foi uma boa oportunidade para Mitt Romney «tirar as luvas e assumir o que muitos americanos pensam sobre os malefícios da sociedade assistencialista».



A campanha de Romney preparou o contra-ataque e, para tentar fazer o contraponto, foi desenterrar umas declarações de Obama de 1998 (!), tinha então Barack apenas 37 anos e era um mero senador estadual no Illinois. Numa intervenção numa universidade, Obama defendeu a ideia de «redistribuir a riqueza», algo relativamente pacífico na Europa (mesmo para o centro-direita), mas que na América é pouco menos do que... um crime.



A questão já tinha sido lançada há quatro anos, quando McCain, já quase em desespero, acusava Obama de querer «espalhar a riqueza» («spread the wealth»).



Mitt Romney está a fazer tudo para controlar danos e, numa entrevista concedia à Univision, a maior cadeia televisiva hispânica na América, disse quatro vezes que se preocupa com «100 por cento dos americanos».



Cabe, agora, aos eleitores americanos, decidirem que conceção de sociedade preferem.



Faltam 46 DIAS para as eleições presidenciais nos Estados Unidos.»





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