sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Histórias da Casa Branca: Raiva anti-Obama na Convenção Republicana


TEXTO PUBLICADO NO SITE DE A BOLA A 31 DE AGOSTO DE 2012:


Raiva anti-Obama na Convenção Republicana

Por Germano Almeida





«A Convenção de Tampa, na Florida, ajudou a fixar os temas fortes dos republicanos para a eleição presidencial de 6 de novembro: a América, com um segundo mandato de Obama, estaria em risco de perder o seu lugar dominante no Mundo; Mitt Romney e Paul Ryan têm soluções para evitar a escalada do monstruoso défice americano, agravado por esta administração democrata em «seis triliões de dólares».



Mesmo tendo nomeado o candidato menos comprometido com a ala dura do partido, os republicanos estão particularmente motivados a seguir uma linha agressiva e radical contra este Presidente – e preparam-se para assumir um dos duelos mais fraturados e ideológicos das últimas décadas na América.



Para o atual argumentário do Grand Old Party, o Presidente Obama é o grande culpado pela difícil situação económica que a América atravessa e, mais grave ainda, Barack tem permitido uma progressiva redução da importância e da autoridade dos EUA no Mundo.



À ‘change’ do candidato democrata Obama em 2008, os republicanos acrescentaram um ‘We can change it’ para 2012.



Os conservadores acusam o atual Presidente democrata de levar a América para o «endividamento insustentável» e prometem um regresso a uma América «do trabalho», do «empreendedorismo» e da «livre iniciativa», atirando Obama para uma visão «socialista» da economia.



Desde o radicalismo populista de Mike Huckabee, ao discurso terra-a-terra de Chris Christie e ‘real America’ de Bob McDonell, passando pela argumentação mais refinada -- mas especialmente ressentida -- de Tim Pawlenty, o tom dos discursos do GOP profundo, na Convenção Republicana que formalizou a nomeação presidencial de Mitt Romney, foi de crítica impiedosa à herança deste Presidente.



‘Big government’ vs liberdade individual

Obama é, para o discurso oficial republicano, o paladino do ‘big government’ – conceito que provoca aversão a qualquer republicano nos dias que correm.



A dicotomia que os republicanos acentuaram na convenção poderá definir-se assim: na mente do conservadorismo americano, Obama protagoniza o peso «excessivo» e «ilegítimo» do Governo; os republicanos respeitam a tradição, vinda da Constituição e dos Founding Fathers, do poder «do povo», concedido diretamente «por Deus», sem intermediação do poder federal.



Mesmo figuras respeitadas fora do campo republicano, e com uma história política e intelectual bem anterior a esta fase tão fraturada entre Obama ‘vs’ republicanos, como o senador John McCain, ou a ex-secretária de Estado, Condoleeza Rice, acabaram por transmitir este registo nos discursos que proferiram na convenção.



O que ficou dos três dias de discursos republicanos em Tampa foi a quase obsessão existente na Direita americana em deitar abaixo, logo que Mitt Romney consiga derrotar Obama nas urnas, todas as prioridades legislativas deste Presidente nos últimos três anos que tivessem a ver com intervenção federal que implicasse investimento público: ‘repeal ObamaCare’ foi, por isso, uma das frases mais proclamadas da Convenção...



Romney quis mostrar um sinal de união junto das novas estrelas do Partido Republicano – e pudemos ver a influência que nomes como Marco Rubio (jovem senador pela Florida), Nikki Haley (governadora da Carolina do Sul) ou Susana Martinez (a primeira mulher hispânica a governar um estado na América, no Novo México), já têm no GOP.



Mas o que Mitt não foi capaz foi de retirar do guião momentos como o de Rick Santorum a citar o exemplo da sua filha deficiente para acusar Obama e os democratas de permitir o aborto.



Paul Ryan é bom ou... mau sinal?

É justo reconhecer que a escolha de Paul Ryan para número dois conferiu alguma garantia de credibilidade política ao ticket de Mitt Romney.



Se nos lembrarmos dos desvarios lançados pelas estrelas do Tea Party nos últimos três anos, é um facto que Romney poderia ter enveredado por um caminho mais perigoso, se optasse por Michele Bachmann, Sarah Palin ou Mike Huckabee, por exemplo.



Muito bem preparado, trabalhador e, possivelmente, um dos mais inteligentes congressistas que neste momento servem em Washington, Ryan é uma lufada de ar fresco intelectual nesta corrida.



O problema é que, à luz de atacar a herança de Obama a todo o custo, os republicanos se permitiram passar ao lado da verdade em questões chave desta Convenção.



O discurso de aceitação de Paul Ryan, como nomeado para vice-presidente dos republicanos, foi talvez o melhor exemplo disso.



Do ponto de vista retórico, foi muito bem construído – um discurso que junta referências ao orçamento, a Led Zeppelin e uma garantia de que os republicanos vão ganhar a discussão sobre o Medicare com os democratas merece ser elogiado. Ryan teve o condão de energizar a base republicana num ticket que ainda coloca algumas reservas – e ajudou Romney a chegar a setores mais à direita do partido.



Só que o discurso de Ryan teve um... pequeno problema: no meio da torrente de críticas e acusações à herança de Obama, houve várias imprecisões e inverdades.



Romney em versão humanizada

Mitt Romney ainda não se conseguiu livrar de uma imagem robotizada, de candidato pouco mobilizador.



A sua mulher, Ann, terá protagonizado um dos melhores momento da Convenção de Tampa, ao proferir um discurso humanizado, que ajudou a mostrar um lado menos conhecido de Mitt.



No discurso de aceitação, Mitt Romney tentou apelar ao voto dos indecisos e fez um esforço para se descolar da imagem de ser um orador pouco convincente. Teve um desempenho sólido e focado na agenda republicana – mas não conseguiu lançar uma novidade capaz de agitar a campanha a seu favor.



Faltam 67 DIAS para as eleições presidenciais nos Estados Unidos.»



quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Histórias da Casa Branca: Pode Romney escapar aos radicais?



TEXTO PUBLICADO NO SITE DE A BOLA A 28 DE AGOSTO DE 2012:


«Mitt Romney obteve a nomeação presidencial por ser o menos radical dos candidatos que se apresentaram às primárias do Partido Republicano para a eleição de 2012.




A pouco mais de dois meses do duelo com Barack Obama, a grande dúvida que permanece no campo republicano é mesmo esta: será que o nomeado do GOP (Grand Old Party) vai ser capaz de evitar o contágio dos radicais, que dominaram o discurso político da Direita americana nos últimos quatro anos?



Se dúvidas houvesse sobre o excessivo peso da ala dura no ideário republicano para 2012, basta prestar um pouco de atenção à narrativa que dominará a Convenção que formalizará a escolha de Mitt Romney para a candidatura à presidência dos Estados Unidos.



O paradoxo republicano para estas eleições ficará bem visível nos próximos dias: o conclave que hoje terá início na Florida nomeará aquele que -- a par de Jon Huntsman (ex-governador do Utah e embaixador na China até abril passado, curiosamente indicado por Barack Obama) – era o pretendente menos envolvido com o Tea Party.



Mas a verdade é que a força das ideias extremistas foi tão grande nas mentes e nos corações dos conservadores americanos desde a eleição de Barack Obama que a narrativa prevalecente é particularmente dura.



Depois de novembro de 2008, foi muito difícil ser-se republicano moderado nos EUA. A ‘Obamania’, especialmente atrativa no eleitorado independente e, nalguns estados, até nos republicanos centrisas, tinha, aparentemente, deslocado o eixo ideológico do GOP para a Direita.



O contágio do Tea Party nas escolhas do Partido Republicano para os candidatos ao Congresso, em novembro de 2010, e mesmo nos apoios aos candidatos presidenciais para 2012 reforçou esta tendência.



A forma como Mitt Romney foi adaptando o seu discurso, durante as primárias, tirou todas as dúvidas: para conseguir convencer as bases do seu partido de que era mesmo o melhor candidato para derrotar Obama, o ex-governador do Massachussets teve que endurecer posições em temas como o aborto, a Reforma da Saúde e até na frente externa.



Mesmo depois de Romney ter ficado com a clara certeza de que iria ser o nomeado, a verdade é que Mitt nunca se conseguiu livrar o do peso dos radicais. Para conseguir obter níveis de financiamento para a sua campanha capazes de combater a elevada capacidade de Obama nesse capítulo, Romney foi construindo o caso da sua suposta «conversão» a uma visão da política, da sociedade e do Mundo mais próxima com os ultraconservadores -- e menos enquadrável naquilo que Mitt foi sendo como governador ou como candidato ao senado por um dos estados mais liberais dos EUA, o Massachussets.



Os perigos do ‘flip flop’

É claro que este ‘flip flop’ político tem os seus riscos. Se é certo que a política é «a arte do possível» e que, nesse plano, ninguém nos EUA pode considerar-se totalmente imune a «adaptações» (basta que nos lembremos da evolução do Presidente Obama em relação ao direito dos homossexuais de acederem ao casamento civil: era contra nas eleições de 2008 e agora passou a ser a favor...), a verdade é que o caso de Mitt Romney mostra uma excessiva tendência para a mudança de opiniões ao sabor das circunstâncias.



Os casos das últimas semanas puseram a nu os riscos desta estratégia. As declarações disparatadas do congressista Todd Akin (candidato republicano ao Senado pelo Missouri) sobre a violação e a alegada «capacidade do corpo feminino em evitar a gravidez nos casos de violações verdadeiras» são um sinal claro do nível de radicalismo de uma boa parte dos republicanos, neste momento.



É justo ressalvar que tanto Mitt Romney como o seu número dois, Payl Ryan, se demarcarem destas posições – tendo mesmo solicitado a Todd Akin que se retirasse da corrida (coisa que ele ainda não fez).



Mas um olhar para as ideias fortes do programa republicano a analisar na Convenção Tampa mostra-nos uma visão que se enquadra nos disparates ditos por Todd Akin: aborto sempre proibido, mesmo em casos de violação, deficiência profunda do feto ou risco de vida para a mulher; casamento é só entre um homem e uma mulher; endurecimento de posições sobre a imigração.



Apesar de Romney e Ryan não terem, no geral, posições tão radicais sobre estes temas, Bob McDonnell, governador da Virgínia e responsável pela redação do documento, deixou bem clara; «Ele reflete o coração e a alma do Partido Republicano».



Obama já alertou para o facto de «o governador Romney estar a apresentar ideias muito extremistas, que afrontam os direitos das mulheres». As sondagens mostram que os republicanos estão atrás dos democratas no eleitorado feminino – e esse dado pode ser determinante em estados chave para a eleição.



Faltam 70 DIAS para as eleições presidenciais nos Estados Unidos.»

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Histórias da Casa Branca: Uma campanha nada alegre


TEXTO PUBLICADO NO SITE DE A BOLA A 23 DE AGOSTO DE 2012:


Uma campanha nada alegre

Por Germano Almeida



«Se a campanha presidencial de 2008 foi das mais inspiradoras de sempre (um jovem senador negro frente a um velho leão com traços de herói), o duelo eleitoral de 2012 está a ser muito crispado e menos mobilizador do que se esperaria.



Obama perdeu uma boa parte da aura santificada com que arrebatou uma enorme vitória há quatro anos. Romney está longe de ser um candidato convincente – mas mesmo para uma boa parte dos segmentos eleitorais que acabarão por votar nele.



Esta não será, por isso, uma campanha alegre. Os republicanos marcaram, desde cedo, o tom: praticamente desde que Barack Obama pôs o pé na Casa Branca, o grande objetivo do Grand Old Party passou a ser o de fazer tudo para que este fosse um «one term President».



Há quatro anos, John McCain optou por uma via institucional: perante o momento histórico que a nomeação presidencial democrata de Obama já representava, enquanto primeiro candidato negro a obter a nomeação por um grande partido do sistema, o senador pelo Arizona tratou Barack com elevação – e travou sempre os ataques mais cerrados à personalidade do seu adversário que eram feitos pelas alas mais duras do Partido Republicano.



Mas já se percebeu que essa não será a via seguida por Mitt Romney. Mesmo não sendo geneticamente um político da direita radical americana, o ex-governador do Massachussets tem interpretado o «sabor do tempo» e está a enveredar por um caminho perigoso.



Mitt escolheu a versão ‘no more Mr. Nice Guy’ e já prometeu aos seus apoiantes que não vai «cair no erro de McCain». Obama está a ser tratado pelo futuro nomeado republicano como alguém que «tem feito mal à América», que «não representa os verdadeiros valores americanos», que «não sabe criar empregos».



O clima político em Washington tem sido dominado pela divisão e pela hostilidade nos últimos anos. Obama tentou, sobretudo quando ainda tinha a maioria no Congresso, estabelecer plataformas bipartidárias – mas perdeu essa batalha e, em momentos chave da sua presidência, teve mesmo que assumir ordens executivas da Casa Branca, para descongelar impasses políticos no Capitólio.



Uma fatia significativa da direita americana não suporta a ideia de ver Obama a cumprir um segundo mandato na Casa Branca.



E uma grande parte dos democratas e independentes que apoiam o Presidente sentem que Barack deve ser mais claro na fratura política a estabelecer com visões republicanas assustadoramente retrógradas (como a desvalorização da violação feita pelo candidato ao senado pelo Missouri, Todd Akin...)



Com o aproximar do duelo eleitoral de 6 de novembro, este clima tenderá a piorar. E o registo inspirador de 2008, com dois candidatos a protagonizar duas grandes histórias americanas que colhiam a admiração da esmagadora maioria do eleitorado, parece cada vez mais distante no tempo e na memória.



Em 2008, tanto Obama como McCain puxavam pelo «melhor da América» -- fosse com o apelo regenerador do jovem Barack ou com o exemplo de heroísmo do experiente John.



Desta vez, o que está em causa são conceitos mais convencionais como: «quem é capaz de criar mais empregos?», «quem consegue tirar os EUA da crise?», «qual dos dois é melhor para defender a classe média e diminuir as desigualdades?»



Romney a recuperar nos estados decisivos

Não terá sido o ‘bounce’ que Mitt Romney desejaria, mas a verdade é que o pré-candidato republicano à Casa Branca beneficiou de uma ligeira subida nas sondagens nos dias que se seguiram ao anúncio de Paul Ryan como seu vice-presidente.



Romney, que chegou a estar a nove pontos de Obama nas sondagens nacionais, está a encurtar a distância para Barack e parece voltar a ter esperanças de conquistar alguns dos estados decisivos, como o Ohio, a Florida ou mesmo o Michigan (lutas muito equilibradas nestes três estados).



Obama mantém-se muito forte na Virgínia e na Pensilvânia e continua com boa vantagem no Colégio Eleitoral. Mas as probabilidades de reeleição já foram mais claras – e a diferença entre Barack e Mitt nas sondagens é cada vez mais pequena.



Faltam 75 DIAS para as eleições presidenciais nos Estados Unidos.»

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Histórias da Casa Branca: Já não é Messias, mas ainda pode ser vencedor


TEXTO PUBLICADO NO SITE DE A BOLA A 21 DE AGOSTO DE 2012:


Já não é Messias, mas ainda pode ser vencedor


Por Germano Almeida




«O vento e as ondas estão sempre do lado dos melhores marinheiros»

Edward Gibbon, historiador e político inglês do século XVIII



«Os tempos não estão para grandes sonhos. Depois do verão, existe um risco real de a Europa vir a conhecer ainda mais perturbações económicas e, por arrasto, as ondas da crise possam afetar a recuperação da Economia americana.



As eleições presidenciais nos Estados Unidos estão marcadas para 6 de novembro. São pouco mais de dois meses e meio e isso parece pouco.



Mas até lá muito pode ainda acontecer: uma saída da Grécia do euro; um eventual resgate de Espanha e Itália que poderá provocar a derrocada de todo o projeto europeu; um possível ataque de Israel a interesses militares do Irão; o agravar da guerra na Síria, com presença crescente de potências regionais como a Turquia, o Irão e até mesmo a Rússia.



Há, por isso, vários cisnes negros que ameaçam a criação de uma situação internacional imprevisível – e de consequências eventualmente nocivas para os indicadores económicos dos EUA até novembro.



Todos estes fatores parecem jogar contra a reeleição de Barack Obama. Com um desemprego de 8.3%, acima do que supostamente tem sido a barreira que um Presidente em funções aguenta eleitoralmente (há sete décadas que ninguém consegue segundo mandato na Casa Branca com uma taxa de desemprego acima dos 7.5%)



Só que uma eleição presidencial na América mexe com muito mais coisas do que isto. O fator humano é muito importante. E as qualidades políticas também. Nesses planos, Barack Obama tem-se mostrado muito superior a Mitt Romney – e as apostas estão, claramente, do lado do Presidente. As ‘intrade odds’ dão entre 55 a 70 por cento de probabilidades de vitória de Obama a 6 de novembro. E as sondagens (tanto a nível nacional como no plano estadual) mostram o candidato democrata à frente do pretendente republicano.



Mais tempo para a concretização
Barack Hussein Obama II, 51 anos, é o 44.º Presidente dos Estados Unidos da América. Filho de um queniano (Barack Obama I), que ganhou uma bolsa para estudar nos EUA, e de uma antropóloga americana branca do Kansas (Ann Dunham), nasceu e cresceu no Havai e é produto da diversidade americana.



Passou parte da adolescência na Indonésia, estudou em Nova Iorque e em Harvard. Foi o primeiro negro a dirigir a Harvard Law Review. Teve uma carreira política quase cem por cento vencedora (a única exceção, antes de chegar à Casa Branca) foi a perda da corrida ao Congresso para Bobby Rush, em 2000.



Habituado a quebrar fronteiras e preconceitos, foi várias vezes «o primeiro». Passou no Senado como um relâmpago, já com a Casa Branca no horizonte. E habituou-se a ter um discurso de fasquia elevada, a apelar ao sonho.



Em 2008, no declínio do desastre Bush, essa era a receita indicada. 2012 tem, no entanto, uma narrativa bem diferente.



O que esta disputa presidencial tem mostrado é que, apesar da crise, os americanos continuam a gostar Obama. Continuam a conferir-lhe bons níveis de simpatia e uma taxa de rejeição relativamente baixa, para quem é Presidente há quatro anos.



Se, em 2008, Barack prometia a «mudança» e a «reconciliação», em 2012 pede mais tempo para a concretização. «Yes we can but... but we need more time», disse Obama a Jon Stewart, no Daily Show.



As vitórias conseguidas no primeiro mandato são históricas e falam por si: primeiro Presidente em sete décadas a conseguir aprovar no Congresso a Reforma da Saúde, posteriormente confirmada no Supremo Tribunal; Osama Bin Laden eliminado; ratificação do novo Tratado START, com a Rússia; saída do Iraque e do Afeganistão; lançamento do programa «Race To the Top» e criação de empréstimos para o pagamento de cursos universitários na área da Educação; criação de 4,5 milhões de empregos nos últimos 29 meses.



Seriam feitos suficientes para justificar uma reeleição tranquila, não fosse Obama ter apanhado quatro anos terríveis, com uma Economia que insiste em não arrancar, um ambiente político em Washington muito hostil e divisivo e uma indefinição internacional assustadora.



Já ninguém acredita que Barack Obama seja o Messias. Mas o mais provável é que continue a ser o ás de trunfo da política americana. E, por isso, se sagre vencedor a 6 de novembro.



Faltam 77 DIAS para as eleições presidenciais nos Estados Unidos»

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Histórias da Casa Branca: Que América depois de novembro?


TEXTO PUBLICADO NO SITE DE A BOLA A 16 DE AGOSTO DE 2012:


Que América depois de novembro?

Por Germano Almeida



«Os Estados Unidos da América são um país complexo e, muitas vezes, difícil de decifrar.



Na mesma semana, o mesmo país foi capaz de um feito extraordinário – o de colocar o robô “Curiosity” em solo marciano, abrindo fantásticas perspetivas de descoberta científica e dando-nos novas razões para acreditar no sucesso de missões noutros planetas – e mostrou-nos um ato horrendo: o massacre num templo sikh, no Wisconsin.



São estes EUA contraditórios, capazes do melhor mas também do pior, que albergam a diversidade e que, continuamente, ao longo de décadas, nos põem a sonhar e, por vezes, a chorar.



O sucesso do “Curiosity” provou que a América continua a ser o país dominante na inovação científica e tecnológica. Apesar dos avanços da China e da Índia nesses campos, os EUA permanecem muito à frente na capacidade de serem pioneiros no melhor que a humanidade consegue produzir.



Mesmo em tempos de profunda contenção orçamental, Barack Obama nunca descurou, no seu discurso político, essa dimensão tão importante para a autoestima americana. E reforçou especialmente esse vetor no discurso do Estado da União de Janeiro de 2011, por exemplo, quando definiu o «momento Sputnik desta geração».



Dias depois do episódio de Aurora, no Colorado, quando um tresloucado atirou indiscriminadamente num cinema, o tiroteio do Wisconsin recolocou a questão do controlo no acesso às armas na América.



E é aí que entra o lado sombrio daquele grande país: nem depois das tragédias do Colorado e do Wisconsin, o controlo no acesso às armas passou a ser um tema pacífico na América. O lobby da NRA (National Rifle Association) é poderosíssimo, sobretudo junto dos republicanos.



Mas a verdade é que Obama não tem tido a coragem de colocar o tema no topo da agenda político – com receio de ser penalizado eleitoralmente em estados conservadores onde tem ambições de bater Romney, a 6 de novembro.



A «nova América» ou o regresso ao passado?

O resultado do duelo Obama/Romney definirá, em grande parte, que imagem a América pretende no resto do Mundo, depois de 6 de novembro.



Um dos melhores desempenhos do primeiro mandato presidencial de Barack Obama está na política externa – e, para que tal tivesse sido possível, uma boa parte dos méritos deve ser atribuída à chefe da diplomacia, Hillary Clinton.



Se a crise económica impediu um melhor saldo na frente interna, a verdade é que a imagem dos Estados Unidos, que estava muito desgastada na parte final dos anos Bush, teve inegáveis melhorias durante a Administração Obama.



O Prémio Nobel da Paz atribuído ainda em fase precoce ao Presidente Obama foi o maior sinal da mudança ocorrida. O prestígio internacional de Hillary serviu para reforçar o posicionamento diplomático dos EUA em áreas chave para os interesses americanos, como o Médio Oriente, África e, sobretudo, a Ásia-Pacífico.



Perante o avanço da influência da China, a política externa americana tem dado cada vez mais atenção à Ásia. Não por acaso, a primeira viagem de Hillary como secretária de Estado foi ao continente asiático, onde tem voltado repetidamente nos últimos quatro anos.



O périplo de Mitt Romney à Europa e a Israel foi, neste domínio, preocupante. O aspirante republicano mostrou uma visão muito fechada e unilateral, a apontar para os piores tempos de Bush filho – e longe, até, do «realismo» de Bush pai, que nalguns aspetos foi recuperado por Barack Obama.



Ao escolherem entre Obama e Romney, os americanos vão, também, dizer que América pretendem mostrar ao Mundo, depois de novembro.



Faltam 81 DIAS para as eleições presidenciais nos Estados Unidos.»

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Histórias da Casa Branca - Paul Ryan: muitas virtudes e alguns riscos


TEXTO PUBLICADO NO SITE DE A BOLA A 14 DE AGOSTO DE 2012:


Paul Ryan: muitas virtudes e alguns riscos

Por Germano Almeida



«Paul Davis Ryan, 42 anos, membro da Câmara dos Representantes eleito pelo estado do Wisconsin, líder do Comité de Orçamento do Congresso, foi a escolha de Mitt Romney para candidato a vice-presidente, no ticket republicano.



Não era a escolha mais óbvia (o senador Rob Portman, do Ohio, e o governador Tim Pawlenty, do Minnesota, reuniam maior favoritismo), mas foi uma boa aposta de Romney para lançar um novo fôlego a uma candidatura republicana que parecia estar a perder terreno em relação a Obama, nas últimas duas semanas.



Apontado como um dos melhores valores da nova geração de políticos republicanos, Paul Ryan chegou a ter condições para avançar, ele próprio, com uma candidatura à nomeação presidencial republicana – mas optou por não avançar já, talvez considerando ser demasiado novo para arriscar com tamanha empreitada.



Perante a maior probabilidade de vitória de Obama em 2012, Paul Ryan ter-se-á resguardado para 2016, a exemplo do governador da Nova Jérsia, Chris Christie, ou do ex-governador da Florida, Jeb Bush.



Apesar de só ter 42 anos, Ryan vai já no sétimo mandato no Congresso – passou toda a sua vida adulta em Washington, tendo iniciado esse caminho com apenas 25 anos, como assessor do senador Bob Kasten.



Ao escolhê-lo para número dois, Romney mostrou que não tem medo do risco de muitos acharem que Paul Ryan seria até mais apto para Presidente do que ele próprio.



Trunfos e contra-indicações

Os critérios seguidos por Romney para escolher Paul Ryan para seu número dois são relativamente fáceis de identificar.



Paul é jovem (é ainda mais novo do que era Obama em 2008 e tem menos 23 anos que Mitt); bem parecido (os peritos em imagem dizem que Romney e Ryan fazem uma dupla muito telegénica e isso na política americana tem grande importância); muito bom tecnicamente (mesmo os rivais democratas lhe reconhecem essa qualidade); pertence a um estado eleitoralmente competitivo, onde Obama arrasou há quatro anos, mas que tem dado sinais de poder oscilar para o campo republicano (o Wisconsin).



A juntar a tudo isto, o agora pretendente a vice-presidente dos EUA tem-se afirmado, nos últimos anos, como um dos ‘tea party darlings’.



É, por isso, bem visto pela mais à direita do Partido Republicano, embora tenha muito mais consistência e credibilidade política do que as figuras que foram dando a cara pelos movimentos radicais dos conservadores americanos (Sarah Palin, Michele Bachmann, Mike Huckabee, Donald Trump).



Como Mitt Romney nunca foi capaz de tocar o coração dos ultraconservadores, acolher Paul Ryan no seu ticket pode ajudar a mobilizar as bases republicanas, que estavam a começar a dar sinais de alguma reserva em relação à capacidade de Mitt vir a bater Obama a 6 de novembro.



Mas Paul Ryan não tem só vantagens. Como líder do Comité do Orçamento do Congresso, tem sido um dos campeões dos cortes na despesa.



Defende uma profunda alteração no Medicare (megaprograma de apoio a cuidados de saúde), que passaria pela distribuição de vouchers e poria em risco o acesso de milhões de americanos ao programa.



Logo após o anúncio da escolha de Paul Ryan (que voltaria a se rmarcado por uma ‘gaffe’ de Mitt Romney, ao anunciá-lo como... o «próximo Presidente dos EUA»), o campo de Obama foi pronto a reagir, lembrando que o congressista do Wisconsin votou a favor das políticas de Bush em matéria fiscal e acentuando a clivagem das duas candidaturas: Obama, Biden e os democratas defendem a classe média; Romney, Ryan e os republicanos advogam impostos baixos para os mais ricos, aparentemente para manter dinheiro do lado da economia (algo que se provou, nos últimos anos, não ser suficiente para criar emprego numa altura como esta).



Deste modo, e por contraditório que isso possa parecer, a escolha de Paul Ryan foi positiva para Romney e para Obama: Paul ajuda Mitt a reforçar a mensagem de conservadorismo fiscal e permite a Obama uma demarcação clara em relação a questões como a Reforma da Saúde ou a defesa da Segurança Social (que Ryan chegou a admitir privatizar).



Outro dado que pode ser perigoso para Romney é que Paul Ryan é católico. Um ticket republicano sem um único protestante (Mitt é mórmon), não é muito seguro numa América ainda maioritariamente WASP.



Tradicionalmente, os vice-presidentes não são decisivos nas eleições americanas. Mas a escolha de Paul Ryan ajudou a clarificar as águas nestas eleições.



Do lado republicano, ficámos a saber que a mensagem forte é mesmo a demarcação com as políticas de investimento federal defendidas pela Administração Obama nos últimos quatro anos.



Ryan é um dos principais advogados republicanos de bandeiras cruciais para o conservadorismo americano: liberdade de empreendedorismo, menos estado, mais iniciativa privada, cortes nas despesas mesmo em áreas sociais.



Barack já elogiou as qualidades de Paul Ryan, um «homem decente, de família e o líder ideológico dos republicanos no Congresso», mas fez questão de avisar que discorda «radicalmente» das suas posições políticas.



Confirma-se: a eleição de 2012 será das mais fraturadas da história recente da política americana.



Faltam 84 DIAS para as eleições presidenciais nos Estados Unidos.





segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Histórias da Casa Branca: Mitt Romney, a incógnita republicana


TEXTO PUBLICADO NO SITE DE A BOLA A 12 DE AGOSTO DE 2012:


Mitt Romney, a incógnita republicana

Por Germano Almeida



«Willard Mitt Romney, 65 anos, será nomeado, na Convenção de Tampa, na Florida, no final de agosto, candidato do Partido Republicano à presidência dos Estados Unidos.

Casado com Ann Romney, tem cinco filhos: Taggart (42 anos), Mathew (41), Joshua (37), Benjamin (34) e Craig (31).

Governador do Massachussets entre 2003 e 2007, liderou um dos estados mais liberais dos EUA. Terceiro classificado nas primárias do Partido Republicano em 2008, teria sido, certamente, o segundo classificado, logo atrás de John McCain, caso não tivesse desistido quando percebeu que não conseguiria evitar a nomeação do senador do Arizona.

É um republicano moderadamente conservador, que há quatro anos se apresentou como alternativa à direita a McCain – e agora se posicionou como o menos radical de um leque de candidatos excessivamente colocados na esfera conservadora ou mesmo ultraconservadora do GOP (Grand Old Party).

Empresário de sucesso, Romney apresenta-se como o candidato CEO – aquele que sabe como criar empregos, descolando-se, assim, da imagem excessivamente política e teórica do seu adversário nestas eleições.

Dono de uma fortuna pessoal muito significativa – é, certamente, o candidato presidencial mais rico desde John Kerry – Mitt Romney tem nesta questão um dos maiores problemas: muitos dos seus críticos acusam-no de ser «elitista» e representante dos interesses dos mais ricos – e de não fazer a mínima ideia do que é passar pelas dificuldades financeiras que muitos milhões de americanos estão a atravessar.

Romney obteve a nomeação republicana com relativa facilidade, ajudado, em parte, pela pobreza de opções que se apresentaram nas primárias.

Conversão artificial

Sem ter tido a concorrência de nomes como Jeb Bush, Chris Christie, Paul Ryan (que será o seu candidato a vice-presidente), Mitch Daniels ou Rudy Giuliani, Mitt acabou por ser o esocolhido por se afirmar como o único «eleigível» contra Obama – mas nunca conseguiu dissipar as dúvidas sobre as suas reais capacidades para enfrentar o embate de um duelo presidencial.

Pouco mobilizador junto de uma base republicana excessivamente radicalizade, depois de três anos de domínio do Tea Party, Romney foi adaptando o seu discurso ao ambiente do momento.

Ele, que enquanto governador do Massachussets teve posições tolerantes em relação ao aborto ou aos direitos dos homossexuais, voltou a mostrar pouca convicção nas ideias e deu prioridade às conveniências eleitorais: tem um discurso duro em matérias sociais e morais e apresenta-se como um ‘falcão’ na política externa, sobretudo no tema israelo-palestiniano.

Mórmon, tem na religião outro problema: nos EUA, a religião professada por Mitt ainda desperta algumas reservas. As sondagens não indicam que essa questão possa ser decisiva, mas Romney tem feito um esforço para evitar alusões aos mórmones no seu discurso político.

A crise económica daria, em 2012, boas chances ao candidato challenger. Mas Mitt tem-se mostrado um candidato com menos argumentos que Barack e está atrás nas sondagens. Nos meios republicanos comenta-se, em surdina: «Romney não consegue ganhar. Mas Obama ainda pode perder».

Tantas ‘gaffes’, Mitt!

Ainda ninguém saberá se Mitt Romney será eleito, no próximo dia 6 de novembro, Presidente dos Estados Unidos da América.

Mas o que já parece quase garantido é que Mitt irá ganhar o prémio do candidato que mais ‘gaffes’ cometeu numa campanha presidencial nos EUA.

A sucessão de deslizes do pré-candidato republicano à Casa Branca tem sido simplesmente inacreditável.

A mais recente teve a ver com a confusão entre ‘sikhs’ e ‘sheikhs’. Num discurso no Iowa, em que apelava à compreensão quanto à religião sikhs, referindo-se ao tiroteio do Wisconsin contra um templo daquela religião, Mitt Romney falou em ‘sheikhs’.

Como os xeques árabes nada têm a ver com quem professe a religião sikh, a confusão até obrigou a um esclarecimento por parte do porta-voz de futuro nomeado republicano, Rick Groka.

Mas este foi só um dos muitos capítulos recentes que mostram que Romney não terá a preparação adequada para assumir funções tão elevadas como as de Presidente dos Estados Unidos.

No périplo realizado na Europa e em Israel, Mitt falhou redondamente nos números do PIB de israelistas e palestinianos. Referiu-se a Jerusalém como a capital de Israel, facto que irritou profundamente os palestinianos.

Em vésperas do arranque dos Jogos Olímpicos, disse à NBC que «algumas coisas foram desconcertantes» na organização londrina – como que anunciando que iria haver falhas graves nos Jogos de Londres (que acabariam por se revelar um sucesso).

Também em Londres, falando ao lado do líder da oposição trabalhista, nunca referiu o nome de Ed Miliband, falando apenas em... «Mr. Leader» e revelou um encontro com o chefe dos serviços de epionagem MI6, uma informação que costuma ser mantida em segredo.

Um candidato que não conhece, sequer, os principais líderes do maior aliado histórico dos Estados Unidos e que não consegue seguir os preceitos do jogo político internacional tem sérias razões para estar preocupado.

Faltam 86 DIAS para as eleições presidenciais nos Estados Unidos.»



sábado, 11 de agosto de 2012

Paul Ryan será o número 2 de Mitt Romney

Paul Ryan, 42 anos, membro da Câmara dos Representantes eleito pelo Wisconsin, líder do Comité de Finanças do Congresso, foi a escolha de Mitt Romney para vice-presidente.

Reforça a importância da Economia e confere juventude e credibilidade ao ticket republicano.

Não era a opção óbvia (o senador Rob Portman, do Ohio, e o governador Tim Pawlenty, do Minnesota, eram os favoritos), mas foi uma boa aposta.

Faltam 87 DIAS para as eleições presidenciais nos EUA


sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Histórias da Casa Branca: A forte aposta de Obama na classe média



TEXTO PUBLICADO NO SITE DE A BOLA A 8 DE AGOSTO DE 2012:

A forte aposta de Obama na classe média

Por Germano Almeida



«Não é só em 2012, mas será sobretudo em 2012: estas eleições presidenciais norte-americanas serão especialmente marcadas pela Economia.

Mais do que um duelo político entre o democrata Barack Obama e o republicano Mitt Romney, o sufrágio de 6 de novembro promete ser um plebiscito ao desempenho económico da atual administração norte-americana.

Há quatro anos, Obama derrotou McCain sob a promessa de resolver a crise lançada pela parte final dos anos Bush. Nas primeiras entrevistas dadas após a sua eleição, Barack chegou a dizer que «se passados três anos, os números da Economia americana permanecerem tão maus» como que herdou do antecessor, então é porque esta seria «uma presidência falhada».

O problema para o atual Presidente é que, apesar de já ter conquistado grande feitos em várias áreas (retirada de tropas no Afeganistão e no Iraque; Prémio Nobel da Paz com apenas nove meses na função; Reforma da Saúde aprovada no Congresso e confirmada no Supremo Tribunal), a verdade é que, no plano económico, esta não pode ser considerada uma presidência de sucesso.

Mesmo com a criação de perto de mais de quatro milhões de empregos na América nos últimos três anos e meio, a Taxa de Desemprego mantém-se muito elevada para os níveis norte-americanos (8.3 por cento).

Desde Franklin Roosevelt, nenhum Presidente logrou a reeleição com uma taxa superior a 7.5 por cento. Os casos mais recordados têm sido os de Carter, em 1980, e de Bush pai, em 1992: ambos eram Presidentes respeitados na frente internacional (como é Barack Obama), mas acabaram por falhar a reeleição, por força dos problemas económicos vivia nesses períodos.

Esse será, talvez, o maior desafio que Obama tem a vencer no próximo dia 6 de novembro: conseguir evitar ter como fim político o de ser um «one term President», como os republicanos tanto têm repetido que ele estará condenado a ser.

O último relatório sobre o emprego nos EUA mostrou resultados ambíguos: em julho, foram criados 163 mil postos de trabalhos (e isso dá razão às políticas de estímulo ao emprego defendidas por Barack); mas, mesmo assim, isso não foi suficiente para evitar nova subida de 0.1% na taxa de desemprego (e isso prova que continuam a perder-se demasiados empregos na América).


CLIMA DE DIVISÃO
Há muito que a política americana não estava tão dividida socialmente como nestas eleições.

Obama tem sido, como Presidente, um forte defensor da classe média. Da Casa Branca, têm saído propostas claras para estimular o emprego e reduzir a carga fiscal dos americanos que não ganham acima dos 250 mil dólares/ano.

É claro que, em tempos de ‘spending freeze’ (assumidos pelo Presidente desde o primeiro orçamento deste mandato, aprovado em 2009), reduções fiscais à classe média implicam aumentos de impostos sobre as maiores fortunas.

As reduções fiscais aos mais ricos, aprovadas nos anos Bush, foram inicialmente prorrogadas por Obama em 2010, em nome de um clima de negociação com o novo Congresso de maioria republicana.

Mas o aproximar das eleições presidenciais de 2012 voltou a acentuar o clima de divisão ideológica nesta matéria: Mitt Romney, ainda que mais moderado que os seus opositores republicanos nas primárias, tem defendido, no essencial, as teses mais duras da Direita americana nesta questão – as reduções fiscais sobre as maiores fortunas são para manter, à luz das ideias de que «o Estado federal não deve intrometer-se na livre circulação do capital» e de um suposto incentivo à criação de emprego mantendo livres de obrigações fiscais os potenciais empregadores.

Obama mantém a tecla da defesa da classe média e argumenta com a proposta Buffet, a tal que se indigna com o facto de a secretária do terceiro homem mais rico do Mundo pagar percentualmente mais impostos que o patrão.

A realidade económica da América nos últimos anos tem dado razão às posições do Presidente. Mas tudo o que tenha a ver com o aumento da carga fiscal, mesmo sobre os mais ricos, é muito difícil de ter popularidade num país como os EUA.

Há quatro anos, a mensagem de Obama passou – ajudada pelo clima de «tudo menos Bush» que se vivia em 2008. David Plouffe, um dos principais estrategas de Obama, acredita que «os democratas voltaram a ter o ‘momentum’ junto da classe média».

As sondagens mais recentes em estados como o Ohio, a Pensilvânia ou a Florida parecem dar razão a essa tese.
Faltam 90 DIAS para as eleições presidenciais nos Estados Unidos.»

domingo, 5 de agosto de 2012

Histórias da Casa Branca: Romney escorrega na política externa



TEXTO PUBLICADO NO SITE DE A BOLA A 4 DE AGOSTO DE 2012:


Romney escorrega na política externa

Por Germano Almeida



«Mitt Romney tem vários motivos para acreditar que pode bater Barack Obama em novembro e tornar-se no 45.º Presidente dos Estados Unidos.

Basta olhar para os números da Economia desde 2008 para percebermos que, com uma taxa de desemprego tão elevada, e níveis de incerteza a persistirem nos mercados, a probabilidade de o Presidente em funções falhar a reeleição é sempre de considerar.

O combate Obama/Romney promete ser renhido, mas uma análise focada nas qualidades políticas dos dois candidatos continua a mostrar uma forte vantagem de Barack sobre Mitt.

O périplo de Romney à Europa foi o mais recente exemplo das falhas do republicano enquanto nomeado presidencial.

Mitt foi a Londres (preferiu a capital inglesa a Berlim, num contraste com a opção feita por Obama há quatro anos, em idêntico período eleitoral) e conseguiu dizer mal da organização dos Jogos Olímpicos, antes mesmo de esta ter início – talvez para mostrar que tem no currículo a organização dos Jogos de Inverno em Salt Lake City...

Ao abdicar de Berlim, além de um óbvio receio de ser comparado com os 200 mil que receberam, em apoteose, Barack Obama em 2008 em frente às Portas de Brandenburgo, Romney terá dado um sinal de não temer o país mais poderoso da Europa, desvalorizando assim a questão europeia e mostrando que, na sua visão do Mundo, a América continua a poder dar-se ao luxo de ignorar o velho parceiro do outro lado do Atlântico.

Regresso à visão Bush
Mais preocupantes foram as gaffes de Romney sobre a questão israelo-árabe. Querendo mostrar-se claramente do lado israelita (Mitt pretende namorar uma boa parte dos eleitores judeus que preferiram Obama em 2008), o nomeado republicano teceu comentários depreciativos sobre a realidade palestiniana e mostrou uma notória falta de dimensão presidencial naquela que será, talvez, a questão mais sensível na política externa americana.

À política de braços abertos ao mundo muçulmano, tentada sobretudo no início deste mandato, pela Administração Obama, Romney mostrou um argumentário muito mais próximo da visão de George W. Bush – e que, basicamente, fecha portas para qualquer avanço num processo de paz que, nos anos Obama, passou sempre pelo reconhecimento da «two states solution» e pelo impedimento da construção de novos colonatos.

Ligeira subida de Obama
Os últimos dias foram positivos para Barack Obama. No dia em que completou 51 anos, o Presidente vê as sondagens nacionais a mostrarem um ligeiro aumento no avanço (embora pequeno) que o candidato democrata dispõe sobre o nomeado republicano.

Essas variações não serão alheias aos deslizes de Romney no seu desastrado périplo europeu. E podem, sobretudo nos estados do midwest, mostrar também que a criação de emprego na Administração Obama tenderá a beneficiar o Presidente nas disputas decisivas no Ohio, na Pensilvânia, no Michigan ou no Wisconsin.

A três meses do grande duelo, a reeleição de Obama mantém-se como cenário mais provável. Mas tudo continua em aberto – e a ameaça de hecatombe da economia europeia pode, perfeitamente, ser o cisne negro capaz de alterar os dados do jogo.

Não por acaso, nas últimas semanas houve movimentações de bastidores na diplomacia americana, no sentido de aguentar a situação grega, pelo menos até novembro. A visita de Bill Clinton a Atenas foi o exemplo mais claro dessas diligências.

Faltam 94 DIAS para as eleições presidenciais nos Estados Unidos.»