quarta-feira, 25 de julho de 2012

Histórias da Casa Branca: Obama na frente, em duelo imprevisível



Texto publicado no site de A BOLA, secção Outros Mundos, a 20 de Julho de 2012:

Obama na frente, em duelo imprevisível

Por Germano Almeida


«Faltam pouco mais de 100 dias para a eleição presidencial norte-americana de novembro e continua a ser impossível adivinhar o vencedor.


As sondagens nacionais vão dando uma ligeira vantagem a Barack Obama sobre Mitt Romney, mas as diferenças são suficientemente pequenas para que a questão se mantenha mais do que em aberto – e o mais provável é que assim continue até 6 de novembro.

Se um olhar pelos números nacionais nos fazem apontar para um empate técnico, é também importante referir que nos estados chave (aqueles que irão definir a eleição), o Presidente assume uma vantagem um pouco maior: está à frente do ex-governador do Massachussets na Florida, no Ohio, na Pensilvânia e até na Virgínia.

O mapa eleitoral norte-americano é difícil de decifrar. E promete sê-lo ainda mais nesta corrida de 2012.

Há quatro anos, Barack Obama desafiou as fronteiras clássicas dos «estados azuis» (democratas) e «estados vermelhos» (republicanos), ao vencer em zonas tradicionalmente conservadoras.

Os casos do Indiana, da Carolina do Norte e, sobretudo, da Virgínia (onde um candidato presidencial democrata já não vencia há 44 anos), foram os mais marcantes.

Romney aposta forte no Indiana e na Carolina do Norte – e tudo aponta que acabará por conseguir recuperar esses dois estados para a coluna dos republicanos.

Mas, na Virgínia, o Presidente volta a ter fortes esperanças de vencer – e, a acreditar pelas sondagens, mantém um avanço significativo.

Em contraponto, a Pensilvânia, que nas últimas eleições tem recaído no campo democrata, tem-se mostrado terreno complicado para Obama (muito por culpa da crise económica e, também, pelos pergaminhos eleitorais de Romney naquele importante estado do Midwest).

Ainda que continue a ser um país com diferenças sociais claras consoante as zonas em que os estados se encontram (pendor liberal nas costas e nos grandes estados; predomínio conservador e ‘right wing’ nos estados rurais e no Sul), os EUA têm conhecido algumas alterações relevantes na sua estrutura demográfica, nos últimos anos.

O caso da Virgínia é um dos mais interessantes de analisar para este novo período eleitoral. Conservador na base, há décadas, tem vindo a ter um maior peso de eleitores democratas, por força do aumento de jovens e de eleitores representativos de minorias como negros e latinos (três segmentos eleitorais onde Barack Obama continua a obter fortes apoios).

Será isso suficiente para Obama manter o triunfo na Virgínia em 2012? Ainda é cedo para dar tal facto como certo, mas a verdade é que a equipa de reeleição de Barack está a apostar muitas fichas nessa possibilidade.

A batalha do Midwest
Numa eleição marcada por tantas incógnitas (conseguirá Romney ser um candidato à altura do desafio de superar Obama?; pode Barack repetir os triunfos imprevisíveis de 2008?), há alguns dados que parecem certos: Obama obterá os estados com mais população (Califórnia, Nova Iorque, Nova Jérsia, Minnesota), com exceção do Texas (que será, por certo, de Romney).

A Costa Oeste será toda de Obama (Califórnia, Oregon, Washington State) e a quase totalidade da Costa Leste também (os estados da Nova Inglaterra até ao Maryland).

Romney, por sua vez, arrecadará grande parte do Sul e estima-se que também as Rocky Mountains.

A questão está, essencialmente, no Midwest. Há quatro anos, Obama arrasou McCain nos estados da Região Centro/Oeste dos Estados Unidos.

Se olharmos para o mapa, a chamada «América profunda» está lá. A América que não quer depender do Estado, aquela que mais está dependente do momento económico. A que, sendo religiosa e temente à Bíblia, consegue ter um certo pragmatismo para ler o momento e separar, no essencial, a política da religião.

Nestes tempos de um forte radicalismo conservador da Direita americana, até um candidato com um certo historial moderado como o de Romney se tem deixado contagiar por esse efeito. E, à partida, Obama teria vantagens eleitorais nesse contraponto: o seu discurso centrista acabaria por prevalecer no duelo presidencial.

As sondagens em estados como o Ohio, o Michigan ou o Iowa parecem confirmar essa tese – ao dar, nesses ‘swing states’, a Obama vantagens ligeiramente superiores, quando comparadas com o todo nacional.

Mas as tremendas dificuldades da governação nestes últimos quatro anos não podem ser descuradas. A eleição de 2012 parece talhada a ser uma das mais renhidas de sempre.»


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