terça-feira, 31 de julho de 2012

Histórias da Casa Branca: Cem dias para o duelo Obama/Romney



Texto publicado no site de A BOLA, secção Outros Mundos, a 29 de julho de 2012:


Cem dias para o duelo Obama/Romney


Por Germano Almeida



«A cem dias da eleição presidencial nos Estados Unidos, as dúvidas são bem maiores do que as certezas.

Barack Obama, o Presidente da «esperança», da «reconciliação» e da «mudança» em 2008, teve que deixar cair muitas das expectativas que gerou há quatro anos – altura em que protagonizou a mais notável caminhada eleitoral de que há memória na política moderna.

Tolhido pela crise mundial, o 44.º Presidente dos Estados Unidos foi forçado a puxar do seu lado pragmático e apresenta, para a reeleição, várias credenciais. O problema é que algumas delas têm a ver com necessidades do momento (como a salvação da indústria automóvel de Detroit, em 2009).

O lado quase mágico que conseguiu mostrar aos eleitores em 2008 foi-se esvaindo com o impacto brutal da crise em que o Mundo ocidental viveu nos últimos quatro anos. Mesmo com sucessos como a aprovação da Reforma da Saúde ou a eliminação de Bin Laden, a impressão que fica é a de uma presidência condicionada por um momento excecionalmente difícil.

Mitt Romney, um empresário de sucesso, moderadamente conservador, que governou com elevados níveis de popularidade um dos estados mais liberais dos Estados Unidos, não é propriamente o candidato mais temível para Obama.

Muito menos carismático que Barack, o nomeado republicano não consegue gerar forte mobilização – nem mesmo na base conservadora, que o escolheu de forma resignada.

Único candidato «elegível» numa eleição nacional -- entre um leque quase assustador de republicanos zangados, radicais e com um discurso que remete para ideias oitocentistas -- Romney acabou por vencer com relativa facilidade as primárias republicanas, mas está longe de ter convencido.

Perante indicadores económicos que, num quadro político normal, colocariam o candidato challenger como superfavorito (e o Presidente incumbente em muito maus lençóis na luta pela reeleição...), a verdade é que Romney nunca conseguiu descolar nas sondagens – e mantém-se ligeiramente atrás de Obama no duelo a nível nacional.

Quanto vale a Economia?

Os dois candidatos que se apresentam ao duelo americano de 2012 são muito diferentes. Dificilmente poderiam sê-lo mais.

Obama é um político de fino recorte, com traços pouco comuns nos dias que correm, ao juntar um apelo mediático indiscutível a uma base argumentativa fora do normal.

Tem uma história pessoal quase perfeita e dotes oratórios inigualáveis. Gera empatia e, apesar de um certo segmento da Direita americana persistir numa hostilidade doentia contra ele, a verdade é que mantém níveis de aceitação pessoal muito elevados – mesmo quando a sua Taxa de Popularidade como Presidente se ressente com as ondas da crise.

Romney é o oposto. Como político, tem um percurso errático, oscilando entre a esfera moderada do Partido Republicano (década de 90, quando tentou o Senado e, mais tarde, se elegeu governador do Massachussets), a zona conservadora (primárias de 2008) e de novo a perspetiva centrista (campanha de 2012).

Mitt apresenta-se como um executivo de sucesso, que sabe «criar empregos», contrastando com o percurso ideológico e mais universitário de Barack.

O problema de Romney é que já mudou tantas vezes de opinião em questões importantes para os americanos como o aborto, os direitos dos homossexuais ou a política externa que já não se sabe muito o que ele pensa.

Tudo somado, Obama mostra-se mais forte que Romney nas questões políticas, na capacidade de mobilização, na geração de «empatia» e «confiança» junto do eleitorado. Mitt transmite mais garantias aos americanos na pergunta: «Quem é capaz de lidar melhor com a Economia»?

Como essa é, geralmente, a questão chave numa eleição presidencial nos EUA, e como o desemprego continua com uma preocupante taxa de 8.2%, seria de supor que Romney estivesse com o estatuto de favorito neste momento.

Mas não é o caso: Obama, que se mantém muito forte nos estados decisivos, parte ligeiramente à frente no sprint dos últimos cem dias.

A evolução económica ditará a resposta definitiva.»



sábado, 28 de julho de 2012

Histórias da Casa Branca: Os dilemas de Romney na escolha do 'vice'



Texto publicado no site de A BOLA , secção Outros Mundos, a 26 de julho de 2012:


Os dilemas de Romney para a escolha do ‘vice’

Por Germano Almeida



«A três meses e meio das eleições presidenciais norte-americanas, já não deve faltar muito para que a questão do vice-presidente salte para as atenções mediáticas, na cobertura do candidato republicano, Mitt Romney.

Em ano de tentativa de reeleição para Barack Obama, o ticket democrata já está mais do que certo: Joe Biden, atual vice-presidente dos EUA, voltará a ser o número dois da candidatura encabeçada por Barack.

Ainda houve, até há uns meses, algumas vozes a pedir a passagem de Hillary Clinton para a vice-presidência, perante um número inusitado de «gaffes» produzidas por Biden durante o primeiro mandato.

Mas Obama, que é tendencialmente um político racional, preferirá, por certo, manter a equipa que se mostrou vencedora há quatro anos.

A grande incógnita, no que toca a vices, estará por isso do lado republicano.

A lei das compensações
Historicamente, a escolha dos vice-presidentes não se mostra decisiva no resultado das eleições. Mas constitui sempre um barómetro daquilo que o candidato principal pretende representar, se conseguir chegar à Casa Branca.

Nos últimos anos, temos assistido a uma espécie de lei das compensações nas opções para vice - os pontos onde o candidato não se revela tão forte acabam por ser compensados pelo seu substituto na função.

Foi isso que Obama acabou por fazer: sabendo que, então com 47 anos, era um Presidente pouco experiente, foi chamar um dos mais antigos membros do Capitólio. Senador durante 36 anos, Joe Biden dava ‘cabelos brancos’ a uma candidatura que, para muitos, era demasiado jovem.

Critério idêntico teve George W. Bush, ao escolher o ‘falcão’ Dick Chenney em 2000, velha raposa do GOP (Grand Old Party) e secretário da Defesa da administração de Bush pai, uma década antes.

No polo oposto, George Bush pai optou por compensar a sua idade avançada com a juventude de Dan Quayle (e não se deu muito bem com isso, se nos lembrarmos da forma como os media americanos tratavam o então vice-presidente...)

Mas essa regra da compensação nem sempre prevaleceu: Reagan preferiu a experiência de Bush pai (passou de diretor da CIA para vice-presidente em 1980); Clinton escolheu Al Gore em 92, praticamente da sua idade, com uma base eleitoral muito parecida (democratas sulistas com forte apelo em segmentos minoritários) e candidato, também ele, às primárias democratas, quatro anos antes.

Portman e Pawlenty são os favoritos

E em 2012, o que fará Mitt Romney? São vários os dilemas do nomeado presidencial republicano, para a escolha do seu número dois.

As primárias mostraram que Romney é um candidato com alguns problemas em agarrar a base do seu próprio partido. Não será, por isso, de estranhar que Mitt possa escolher um ‘vice’ com credenciais mais conservadoras e que seja forte em estados onde ele não tenha a certeza de bater Obama. Um nome que pode reunir essas características é o senador Rob Portman, do Ohio.

Mas pode haver outras grelhas de leitura para esta difícil escolha. O governador Tim Pawlenty, do Minnesota, é outra forte possibilidade. No início das primárias, parecia um dos poucos republicanos com hipóteses de disputar com Romney os segmentos mais moderados. Mas Tim nunca conseguiu energizar a sua campanha e acabou por desistir em fase precoce.

Se Romney o escolher para ‘vice’, é porque pretende reforçar a ideia de ter um ‘ticker’ credível e de forte apelo centrista, capaz de ameaçar terrenos em que Obama arrasou McCain há quatro anos.

Portman e Pawlenty surgem, por isso, destacados como favoritos, mas a ‘shortlist’de Romney para a vice-presidência deve contar, ainda, com mais cinco nomes.

Um deles é, certamente, o do congressista Paul Ryan, do Wisconsin. Com apenas 41 anos, o líder do Comité de Finanças do Congresso é uma das mais jovens promessas da política americana. Bem visto pela base conservadora, tem, no entanto, um discurso que se encaixa na argumentação de Romney para esta campanha.

Também como hipóteses, mas menos prováveis, surgem o governador Bob McDonnell (a Virgínia é um dos ‘battlegrounds’ destas eleições, perante a vantagem de Obama em terreno habitualmente republicano) e o senador Marco Rubio, da Florida (jovem, muito forte no eleitorado hispânico e representante de um ‘swing state’ que geralmente é decisivo nas eleições presidenciais).

No caso de Romney escolher uma mulher (tal como McCain fez há quatro anos, ao lançar Sarah Palin), tem duas hipóteses mais plausíveis: a senadora Kelly Ayotte, do New Hampshire, ou a congressista Michele Bachmann, do Minnesota, uma das estrelas da primeira fase das primárias.

Surpresa? Talvez Condoleezza...
É claro que Mitt pode estar a tentar uma surpresa que baralhe os dados da corrida: por exemplo Condoleezza Rice, secretária de Estado do segundo mandato de Bush filho. Mulher, negra, experiente, intelectualmente respeitada mesmo fora dos circuitos conservadores, seria a escolha mais abrangente de todas.

Também falados nos media, mas aparentemente fora da ‘shortlist’ de Romney estão nomes como John Tune (senador pelo Dacota do Sul), o governador Chris Christie da Nova Jérsia (forte candidato à nomeação presidencial republicana em 2016, se Romney falhar a eleição em novembro), a candidata a vice de John McCain em 2008, Sarah Palin, as governadoras Nikki Haley, da Carolina do Sul, e Susana Martinez, do Novo México, ou ainda o governador da Luisiana, Bobby Jindal.


quarta-feira, 25 de julho de 2012

Histórias da Casa Branca: Obama na frente, em duelo imprevisível



Texto publicado no site de A BOLA, secção Outros Mundos, a 20 de Julho de 2012:

Obama na frente, em duelo imprevisível

Por Germano Almeida


«Faltam pouco mais de 100 dias para a eleição presidencial norte-americana de novembro e continua a ser impossível adivinhar o vencedor.


As sondagens nacionais vão dando uma ligeira vantagem a Barack Obama sobre Mitt Romney, mas as diferenças são suficientemente pequenas para que a questão se mantenha mais do que em aberto – e o mais provável é que assim continue até 6 de novembro.

Se um olhar pelos números nacionais nos fazem apontar para um empate técnico, é também importante referir que nos estados chave (aqueles que irão definir a eleição), o Presidente assume uma vantagem um pouco maior: está à frente do ex-governador do Massachussets na Florida, no Ohio, na Pensilvânia e até na Virgínia.

O mapa eleitoral norte-americano é difícil de decifrar. E promete sê-lo ainda mais nesta corrida de 2012.

Há quatro anos, Barack Obama desafiou as fronteiras clássicas dos «estados azuis» (democratas) e «estados vermelhos» (republicanos), ao vencer em zonas tradicionalmente conservadoras.

Os casos do Indiana, da Carolina do Norte e, sobretudo, da Virgínia (onde um candidato presidencial democrata já não vencia há 44 anos), foram os mais marcantes.

Romney aposta forte no Indiana e na Carolina do Norte – e tudo aponta que acabará por conseguir recuperar esses dois estados para a coluna dos republicanos.

Mas, na Virgínia, o Presidente volta a ter fortes esperanças de vencer – e, a acreditar pelas sondagens, mantém um avanço significativo.

Em contraponto, a Pensilvânia, que nas últimas eleições tem recaído no campo democrata, tem-se mostrado terreno complicado para Obama (muito por culpa da crise económica e, também, pelos pergaminhos eleitorais de Romney naquele importante estado do Midwest).

Ainda que continue a ser um país com diferenças sociais claras consoante as zonas em que os estados se encontram (pendor liberal nas costas e nos grandes estados; predomínio conservador e ‘right wing’ nos estados rurais e no Sul), os EUA têm conhecido algumas alterações relevantes na sua estrutura demográfica, nos últimos anos.

O caso da Virgínia é um dos mais interessantes de analisar para este novo período eleitoral. Conservador na base, há décadas, tem vindo a ter um maior peso de eleitores democratas, por força do aumento de jovens e de eleitores representativos de minorias como negros e latinos (três segmentos eleitorais onde Barack Obama continua a obter fortes apoios).

Será isso suficiente para Obama manter o triunfo na Virgínia em 2012? Ainda é cedo para dar tal facto como certo, mas a verdade é que a equipa de reeleição de Barack está a apostar muitas fichas nessa possibilidade.

A batalha do Midwest
Numa eleição marcada por tantas incógnitas (conseguirá Romney ser um candidato à altura do desafio de superar Obama?; pode Barack repetir os triunfos imprevisíveis de 2008?), há alguns dados que parecem certos: Obama obterá os estados com mais população (Califórnia, Nova Iorque, Nova Jérsia, Minnesota), com exceção do Texas (que será, por certo, de Romney).

A Costa Oeste será toda de Obama (Califórnia, Oregon, Washington State) e a quase totalidade da Costa Leste também (os estados da Nova Inglaterra até ao Maryland).

Romney, por sua vez, arrecadará grande parte do Sul e estima-se que também as Rocky Mountains.

A questão está, essencialmente, no Midwest. Há quatro anos, Obama arrasou McCain nos estados da Região Centro/Oeste dos Estados Unidos.

Se olharmos para o mapa, a chamada «América profunda» está lá. A América que não quer depender do Estado, aquela que mais está dependente do momento económico. A que, sendo religiosa e temente à Bíblia, consegue ter um certo pragmatismo para ler o momento e separar, no essencial, a política da religião.

Nestes tempos de um forte radicalismo conservador da Direita americana, até um candidato com um certo historial moderado como o de Romney se tem deixado contagiar por esse efeito. E, à partida, Obama teria vantagens eleitorais nesse contraponto: o seu discurso centrista acabaria por prevalecer no duelo presidencial.

As sondagens em estados como o Ohio, o Michigan ou o Iowa parecem confirmar essa tese – ao dar, nesses ‘swing states’, a Obama vantagens ligeiramente superiores, quando comparadas com o todo nacional.

Mas as tremendas dificuldades da governação nestes últimos quatro anos não podem ser descuradas. A eleição de 2012 parece talhada a ser uma das mais renhidas de sempre.»