segunda-feira, 14 de maio de 2012

Histórias da Casa Branca: Poderá Mitt Romney gerar entusiasmo?

Mitt Romney era o candidato inevitável dos republicanos, mas está muito longe de ser o candidato ideal para derrotar Obama em Novembro


Poderá Mitt Romney gerar entusiasmo?


Por Germano Almeida


É a grande dúvida das hostes republicanas, na caminhada para o combate de Novembro com Barack Obama: será que Mitt Romney, a escolha-óbvia-mas-pouco-convincente do partido do elefante, é capaz de gerar uma onda de entusiasmo que leve a maioria capaz de evitar a reeleição do actual Presidente?

A menos de meio ano do duelo Obama-Romney, as reservas são muito maiores do que as esperanças no campo republicano.

Os problemas de Romney enquanto candidato challenger começam no seu histórico recente: há quatro anos, não foi além de um terceiro lugar nas primárias republicanas, perdendo para John McCain (apesar da idade avançada e da campanha do velho leão ter estado perto da insolvência financeira, antes do triunfo no Carolina do Sul) e ficando atrás de Mike Huckabee, que chegou mais longe na cruzada sulista.

Outro fantasma de Mitt tem a ver com a inconsistência das suas posições em temas importantes para o ideário conservador, como a oposição ao aborto (enquanto governador do Massachussets, para segurar apoios num estado liberal, mostrou-se tolerante para com a facção ‘pro choice’, mais tarde endureceu o discurso e garante ser ‘pro life’), ou os direitos dos homossexuais (já se mostrou a favor de uniões civis e da adopção, agora é claramente contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo, sublinhando que ‘um casamento é sempre entre um homem e uma mulher’).

A religião, factor sensível para qualquer candidato de Direita na América, é outro motivo de preocupação para o adversário de Obama em Novembro. Mitt Romney é mórmon e leva o seu envolvimento com a igreja muito a sério: contribui com milhões de dólares todos os anos, esteve em França na sua juventude a cumprir a obrigações de espalhar a mensagem e é filho de um antigo candidato governador do Michigan (que até foi presidencial republicano nas primárias de 1968), George Romney, um dos políticos mórmones mais relevantes da América.

Sucede que os mórmones não são vistos de forma muito positiva pela maioria do eleitorado americano. Na campanha de 2008, Romney sentiu esse problema: perto de um terço dos eleitores consideraram, nas sondagens, “nunca votar para Presidente num candidato mórmon”. Um valor de rejeição muito superior, por exemplo, aos cinco por cento que confessaram “nunca votar num negro para Presidente”.

Em alguns segmentos do eleitorado republicano, essa rejeição foi notada durante as primárias: Romney teve dificuldades em penetrar no eleitorado evangélico, sobretudo nos estados do Sul, que preferiram Rick Santorum.

É de admitir que, na eleição geral, uma boa parte dessa rejeição se dilua: para todos os efeitos, o eleitorado conservador evangélico mostra ter uma clara aversão por Obama. Mas a verdade é que também não se mostra particularmente entusiasmado com Mitt Romney. E esse é um problema que o nomeado do GOP terá que ultrapassar, se quiser sonhar com uma vitória em Novembro.

Sublinhar as virtudes, apagar os defeitos. É claro que Romney não tem só problemas. A forma clara como acabará por conseguir formalizar a nomeação republicana, na Convenção de Tampa, na Florida, em Agosto, sinaliza a enorme vantagem que obteve na contagem dos delegados – e que obrigou à desistência de Rick Santorum, Newt Gingrich e restantes opositores republicanas (só se mantém Ron Paul, mas o congressista do Texas não corre para ganhar, mas para aproveitar o espaço mediático para espalhar a sua mensagem libertária e anti-sistema).

Mitt teria quase tudo para ser o candidato perfeito dos republicanos: tem boa imagem; um currículo válido no sector empresarial; experiência executiva; é incrivelmente rico, mas (como fez questão de explicar, várias vezes), a sua fortuna pessoal decorre do seu trabalho; está há vários anos no terreno, a percorrer os diversos estados da América, em campanha presidencial (iniciou em 2007 a corrida para 2008 e, na prática, manteve-se em campanha de forma quase ininterrupta, para o combate de 2012). Para além de todos estes trunfos, soube moderar um discurso que, em 2008, parecia ser demasiado conservador para conquistar o centro.

Só que, numa corrida presidencial americana, ter vários trunfos pode não ser suficiente. Romney acusa deficiências que lhe podem ser fatais. Não exala, propriamente, um grande carisma -- tem um discurso que muitos analistas consideram robótico, pouco convicto e gerador de uma certa indiferença por parte de quem o ouve.

Por muito que repita em campanha o seu «conservadorismo», os sectores mais à direita do Partido Republicano ainda não digeriram a sua nomeação – e não se prevê que entreguem de bandeja a Mitt uma campanha oleada e regada com o apoio de milhões de entusiastas no terreno (algo que Barack Obama certamente conseguirá repetir em 2012 e que fez com particular mestria há quatro anos).

O rótulo de «elitista» também não ajudará Romney a discutir com Obama o eleitorado independente e os indecisos. Esse estigma ficou-lhe colado depois de Mitt ter cometido ‘gaffes’ como a de dizer que a sua mulher, Ann, «apoia tanto a indústria americana que até tem dois Cadillacs», ou a de ter apostado «dez mil dólares» com Rick Perry, num debate das primárias republicanas (algo visto pelos analistas como um deslize de quem acha que dez mil dólares é um valor modesto, propício a ser desperdiçado numa aposta…)

E, por fim, há o registo recente sobre a forma como enfrentar a crise. Romney foi claramente contra os ‘stimulus packages’ promovidos pela Administração Obama para ajudar a indústria americana a evitar a falência, em 2009.

Há um artigo, escrito por Mitt e publicado no New York Times, que a campanha de Obama está a reavivar: ‘Deixem Detroit ir à falência’. Romney defendeu que colocar mais dinheiro sobre a indústria automóvel de Detroit seria agravar ainda mais o problema, em vez de o evitar.

A recuperação económica dos últimos três anos, que levou a que os gigantes de Detroit voltassem a gerar empregos e a dar lucro, desmentiram Romney e deram razão a Obama. O Michigan, estado que tanto pode votar democrata como republicano, surge como provável terreno de Barack em Novembro. Como era de prever.

Sem comentários: