quarta-feira, 7 de março de 2012

Histórias da Casa Branca: Romney não conseguiu fechar a questão


Mitt Romney venceu, mas ainda não convenceu: precisava de vitórias mais gordas para travar, de vez, as críticas de que não é um candidato mobilizador, capaz de representar todos os sectores do Partido Republicano


Romney não conseguiu fechar a questão

Por Germano Almeida


Mitt Romney foi vencedor matemático da Super Terça-Feira, mas perdeu mais uma oportunidade para fechar a questão da nomeação.

O ex-governador do Massachussets saiu da noite eleitoral mais importante da corrida republicana com vantagens mais largas em todos os aspectos: ainda mais estados, ainda mais votos, ainda mais delegados. Arrecadou o grande prémio da noite, o Ohio, ainda que por uma margem muita curta (12 mil votos num universo de um milhão). Tem, por isso que ser considerado o vencedor da noite.

O problema é que os “fantasmas” que têm perseguido Romney nesta longa corrida continuam lá todos: Mitt perdeu o Sul para Santorum (e para Gingrich, na Geórgia); perdeu as zonas rurais e em muitos dos condados dominados pelo eleitorado “blue collar”. Precisava de uma vitória mais retumbante para passar a ideia de que é mesmo «inevitável».

Romney arrecadou seis estados: Ohio, Massachussets, Virgínia, Vermont, Idaho e Alasca. Santorum ficou com o Oklahoma, o Tennessee e o Dakota do Norte. Newt Gingrich arrebatou o seu estado natal, a Geórgia.

Após a Super Terça-Feira, a contagem dos delegados é esta: Romney lidera com 354, seguido de Santorum, com 147. Gingrich tem apenas 84 e Ron Paul é um candidato marginal, com 54.

O Ohio voltou a ser o espelho
A distribuição de votos no Ohio é um bom exemplo das diferenças entre Romney e Santorum: Mitt, mais rico e sofisticado, teve apoios nas cidades e nos extractos mais altos; Rick, mais conotado com sectores da base conservadora, teve vantagem nos trabalhadores “blue collar” e nas zonas rurais.

É verdade que o Ohio tem quase um poder mágico nas eleições americanas. Desde 1964 que quem vence no Ohio, na eleição geral, é eleito Presidente. Mas, nas primárias, as coisas não são exactamente assim: há quatro anos, na corrida democrata, por exemplo, Hillary derrotou Obama no Ohio por dez pontos, mas nem assim evitou a nomeação de Barack.

Já se sabia que esta Super Terça-Feira não iria ser decisiva. Primeiro, porque foi bem menos influente do que em 2008: há quatro anos, foram disputados, num só dia, 23 estados. Desta vez, apenas dez foram a jogo.

Depois, porque do ponto de vista matemático, há muito ainda em aberto. São necessários 1.144 delegados para obter a nomeação – e Romney saiu desta Super Terça-Feira com pouco mais de 350.

A corrida vai, por isso, prosseguir, com o Alabama, o Mississipi, o Kansas e o Havai, já na próxima semana. Para mais, os estados com mais delegados para distribuir (Nova Iorque, Califórnia, Texas, Nova Jérsia) só vão a jogo entre o final de Abril e Junho. E, pelo andar da carruagem, ninguém conseguirá atingir o número mágico antes disso.

Santorum, um católico filho de emigrantes italianos, passou no teste dos estados do Sul: ganhou claramente no Tennessee e no Oklahoma e ainda arrecadou o Dakota do Norte (que há quatro anos foi de Romney).

Somou muitos delegados, assumiu-se, de modo definitivo, como o «candidato anti-Romney». Mas continua muito atrás de Mitt na contagem dos delegados e, ao perder o Ohio para o seu rival, falhou mais um objectivo simbólico: depois de ter perdido no Michigan na recta da meta, deixou escapar o Ohio também nos últimos dias.



Rick Santorum falhou o Ohio por muito pouco, mas as vitórias claras no Oklahoma e no Tennessee dão-lhe argumentos para se assumir como o "anti-Romney"


Rick liderou as sondagens no 'swing state' mais influente das presidenciais americanas nas últimas semanas. Mas este terá sido mais um daqueles casos em que a força do dinheiro se mostrou decisiva nos momentos chave: Romney, que tinha verbas cinco vezes maiores que Santorum para gastar no Ohio, conseguiu a reviravolta na fase final – e acabou por vencer no buckeye state, ainda que por curta margem.

Gingrich, candidato regional
A Super Terça-Feira foi, também, a confirmação de uma desilusão: Newt Gingrich. O antigo ‘speaker’ da Câmara dos Representantes chegou a liderar a corrida republicana, mas foi apenas uma das muitas fases de experimentação do eleitorado que buscava o… anti-Romney.

Inconsistente, errático, por vezes zangado com o mundo, Newt deu uma ideia, nestas últimas semanas, de estar no filme errado – e de pertencer a um tempo que já passou.
Ignorou conselhos dos seus assessores, recusou-se a seguir a cartilha mediática.
Teve a sua oportunidade, ao vencer, com estrondo, na Carolina do Sul.

Mas falhou rotundamente ao não apostar na tripla noite Missouri/Colorado/Minnesota, permitindo que, a partir desse ponto, quem liderasse a facção conservadora fosse Rick Santorum.

Gingrich cumpriu os serviços mínimos, vencendo na Geórgia, o seu estado natal. Fê-lo de forma clara, é certo, mas o péssimo resultado no Ohio (estado que prometera vencer naquela tripla noite de Santorum) foi a prova de que a sua candidatura não tem viabilidade.

Os resultados de Newt fazem dele um candidato regional: forte nos estados do Sul, fruto do seu apelo conservador, mas fraco em zonas onde teria de se bater, como o Midwest e os grandes estados.

Gingrich consegue mobilizar alguns sectores da Direita com o seu discurso agressivo contra os media (a quem acusa de favorecer o Presidente Obama e agora, também, Mitt Romney) e tem atraído os eleitores que estavam com candidatos que, no último ano, foram ‘Tea Party darlings’ mas acabaram por cair por falta de consistência política: Rick Perry, Herman Cain (ambos apoiam-no claramente) ou Michele Bachmann e Sarah Palin (a congressista do Minnesota e a ex-governadora do Alasca estão ainda mais ligadas aos movimentos Tea Party e, ainda que não tenham declarado apoios oficiais, têm produzido afirmações favoráveis a Gingrich).

Outras figuras da Direita americana, como Fred Thompson, estão com Gingrich – mas isso não basta.

Newt coloca-se como «o conservador com ideias», o único que tem «visão», perante «dois senhores simpáticos, mas sem visão» (Romney e Santorum) e um Presidente «com uma visão errada para a América».

Num ponto, Gingrich terá razão: é o candidato mais culto desta corrida. Mas será, também, o mais inconsequente.

Ron Paul, estável no seu eleitorado anti-Washington, anti-sistema e anti-governo, somou percentagens acima dos dez por cento – mas voltou a falhar o objectivo simbólico de vencer um estado.

A conferência de Obama
Obama vai assistindo a esta ‘sangria’ republicana com indisfarçável diversão. Sabe que tem em Mitt Romney o único adversário a temer – e talvez por isso fez questão de dizer, em pleno dia de Super Terça-Feira, que desejava “sorte” a Mitt.

O Presidente marcou uma conferência de Imprensa de agenda aberta para o mesmo dia da grande corrida republicana. Antecipou-se aos rivais, marcou espaço na agenda mediática e colocou-se acima dos candidatos republicanos, dizendo que «quando não se tem responsabilidades, é fácil criticar e lançar exigências irrealistas», acusando-os de estarem a «rufar os tambores da guerra» em torno do Irão e da Síria.

O prolongar da luta republicana favorece as hipóteses de reeleição de Obama. As sondagens mostram-no cada vez mais: quanto mais Romney é atacado pelos seus opositores internos, mais Obama se distancia de Mitt no duelo para a eleição geral.

A campanha negativa, traduzida em anúncios muito agressivos, que, estado após estado, estão a somar milhões de dólares, está a atingir níveis muito piores do que a batalha de há quatro anos entre Hillary e Obama, na corrida democrata.

Com o arrastar da luta até ao Verão, o saldo só pode ser negativo para o futuro nomeado republicano.

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