sexta-feira, 16 de março de 2012

«Razão e Liberdade - O Pensamento Político de James Madison»



O meu caro "colega" blogger José Gomes André, co-autor do «Era Uma Vez na América» e um dos maiores especialistas em política norte-americana da nossa praça, tem um novo livro, sobre James Madison, o quarto Presidente da história dos EUA, com o título apropriado de «Razão e Liberdade».

A apresentação está marcada para 19 de Março, segunda-feira, às 18h30, na FNAC do Colombo, em Lisboa, e será feita por Viriato Soromenho Marques. A obra tem a chancela da Esfera do Caos.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Histórias da Casa Branca: Romney não conseguiu fechar a questão


Mitt Romney venceu, mas ainda não convenceu: precisava de vitórias mais gordas para travar, de vez, as críticas de que não é um candidato mobilizador, capaz de representar todos os sectores do Partido Republicano


Romney não conseguiu fechar a questão

Por Germano Almeida


Mitt Romney foi vencedor matemático da Super Terça-Feira, mas perdeu mais uma oportunidade para fechar a questão da nomeação.

O ex-governador do Massachussets saiu da noite eleitoral mais importante da corrida republicana com vantagens mais largas em todos os aspectos: ainda mais estados, ainda mais votos, ainda mais delegados. Arrecadou o grande prémio da noite, o Ohio, ainda que por uma margem muita curta (12 mil votos num universo de um milhão). Tem, por isso que ser considerado o vencedor da noite.

O problema é que os “fantasmas” que têm perseguido Romney nesta longa corrida continuam lá todos: Mitt perdeu o Sul para Santorum (e para Gingrich, na Geórgia); perdeu as zonas rurais e em muitos dos condados dominados pelo eleitorado “blue collar”. Precisava de uma vitória mais retumbante para passar a ideia de que é mesmo «inevitável».

Romney arrecadou seis estados: Ohio, Massachussets, Virgínia, Vermont, Idaho e Alasca. Santorum ficou com o Oklahoma, o Tennessee e o Dakota do Norte. Newt Gingrich arrebatou o seu estado natal, a Geórgia.

Após a Super Terça-Feira, a contagem dos delegados é esta: Romney lidera com 354, seguido de Santorum, com 147. Gingrich tem apenas 84 e Ron Paul é um candidato marginal, com 54.

O Ohio voltou a ser o espelho
A distribuição de votos no Ohio é um bom exemplo das diferenças entre Romney e Santorum: Mitt, mais rico e sofisticado, teve apoios nas cidades e nos extractos mais altos; Rick, mais conotado com sectores da base conservadora, teve vantagem nos trabalhadores “blue collar” e nas zonas rurais.

É verdade que o Ohio tem quase um poder mágico nas eleições americanas. Desde 1964 que quem vence no Ohio, na eleição geral, é eleito Presidente. Mas, nas primárias, as coisas não são exactamente assim: há quatro anos, na corrida democrata, por exemplo, Hillary derrotou Obama no Ohio por dez pontos, mas nem assim evitou a nomeação de Barack.

Já se sabia que esta Super Terça-Feira não iria ser decisiva. Primeiro, porque foi bem menos influente do que em 2008: há quatro anos, foram disputados, num só dia, 23 estados. Desta vez, apenas dez foram a jogo.

Depois, porque do ponto de vista matemático, há muito ainda em aberto. São necessários 1.144 delegados para obter a nomeação – e Romney saiu desta Super Terça-Feira com pouco mais de 350.

A corrida vai, por isso, prosseguir, com o Alabama, o Mississipi, o Kansas e o Havai, já na próxima semana. Para mais, os estados com mais delegados para distribuir (Nova Iorque, Califórnia, Texas, Nova Jérsia) só vão a jogo entre o final de Abril e Junho. E, pelo andar da carruagem, ninguém conseguirá atingir o número mágico antes disso.

Santorum, um católico filho de emigrantes italianos, passou no teste dos estados do Sul: ganhou claramente no Tennessee e no Oklahoma e ainda arrecadou o Dakota do Norte (que há quatro anos foi de Romney).

Somou muitos delegados, assumiu-se, de modo definitivo, como o «candidato anti-Romney». Mas continua muito atrás de Mitt na contagem dos delegados e, ao perder o Ohio para o seu rival, falhou mais um objectivo simbólico: depois de ter perdido no Michigan na recta da meta, deixou escapar o Ohio também nos últimos dias.



Rick Santorum falhou o Ohio por muito pouco, mas as vitórias claras no Oklahoma e no Tennessee dão-lhe argumentos para se assumir como o "anti-Romney"


Rick liderou as sondagens no 'swing state' mais influente das presidenciais americanas nas últimas semanas. Mas este terá sido mais um daqueles casos em que a força do dinheiro se mostrou decisiva nos momentos chave: Romney, que tinha verbas cinco vezes maiores que Santorum para gastar no Ohio, conseguiu a reviravolta na fase final – e acabou por vencer no buckeye state, ainda que por curta margem.

Gingrich, candidato regional
A Super Terça-Feira foi, também, a confirmação de uma desilusão: Newt Gingrich. O antigo ‘speaker’ da Câmara dos Representantes chegou a liderar a corrida republicana, mas foi apenas uma das muitas fases de experimentação do eleitorado que buscava o… anti-Romney.

Inconsistente, errático, por vezes zangado com o mundo, Newt deu uma ideia, nestas últimas semanas, de estar no filme errado – e de pertencer a um tempo que já passou.
Ignorou conselhos dos seus assessores, recusou-se a seguir a cartilha mediática.
Teve a sua oportunidade, ao vencer, com estrondo, na Carolina do Sul.

Mas falhou rotundamente ao não apostar na tripla noite Missouri/Colorado/Minnesota, permitindo que, a partir desse ponto, quem liderasse a facção conservadora fosse Rick Santorum.

Gingrich cumpriu os serviços mínimos, vencendo na Geórgia, o seu estado natal. Fê-lo de forma clara, é certo, mas o péssimo resultado no Ohio (estado que prometera vencer naquela tripla noite de Santorum) foi a prova de que a sua candidatura não tem viabilidade.

Os resultados de Newt fazem dele um candidato regional: forte nos estados do Sul, fruto do seu apelo conservador, mas fraco em zonas onde teria de se bater, como o Midwest e os grandes estados.

Gingrich consegue mobilizar alguns sectores da Direita com o seu discurso agressivo contra os media (a quem acusa de favorecer o Presidente Obama e agora, também, Mitt Romney) e tem atraído os eleitores que estavam com candidatos que, no último ano, foram ‘Tea Party darlings’ mas acabaram por cair por falta de consistência política: Rick Perry, Herman Cain (ambos apoiam-no claramente) ou Michele Bachmann e Sarah Palin (a congressista do Minnesota e a ex-governadora do Alasca estão ainda mais ligadas aos movimentos Tea Party e, ainda que não tenham declarado apoios oficiais, têm produzido afirmações favoráveis a Gingrich).

Outras figuras da Direita americana, como Fred Thompson, estão com Gingrich – mas isso não basta.

Newt coloca-se como «o conservador com ideias», o único que tem «visão», perante «dois senhores simpáticos, mas sem visão» (Romney e Santorum) e um Presidente «com uma visão errada para a América».

Num ponto, Gingrich terá razão: é o candidato mais culto desta corrida. Mas será, também, o mais inconsequente.

Ron Paul, estável no seu eleitorado anti-Washington, anti-sistema e anti-governo, somou percentagens acima dos dez por cento – mas voltou a falhar o objectivo simbólico de vencer um estado.

A conferência de Obama
Obama vai assistindo a esta ‘sangria’ republicana com indisfarçável diversão. Sabe que tem em Mitt Romney o único adversário a temer – e talvez por isso fez questão de dizer, em pleno dia de Super Terça-Feira, que desejava “sorte” a Mitt.

O Presidente marcou uma conferência de Imprensa de agenda aberta para o mesmo dia da grande corrida republicana. Antecipou-se aos rivais, marcou espaço na agenda mediática e colocou-se acima dos candidatos republicanos, dizendo que «quando não se tem responsabilidades, é fácil criticar e lançar exigências irrealistas», acusando-os de estarem a «rufar os tambores da guerra» em torno do Irão e da Síria.

O prolongar da luta republicana favorece as hipóteses de reeleição de Obama. As sondagens mostram-no cada vez mais: quanto mais Romney é atacado pelos seus opositores internos, mais Obama se distancia de Mitt no duelo para a eleição geral.

A campanha negativa, traduzida em anúncios muito agressivos, que, estado após estado, estão a somar milhões de dólares, está a atingir níveis muito piores do que a batalha de há quatro anos entre Hillary e Obama, na corrida democrata.

Com o arrastar da luta até ao Verão, o saldo só pode ser negativo para o futuro nomeado republicano.

terça-feira, 6 de março de 2012

Histórias da Casa Branca: Oito meses para provar que é conservador


Mitt Romney voltou a ganhar vantagem depois de um bom mês de Fevereiro, mas precisa de uma Super Terça-Feira vitoriosa para reforçar estatuto de «inevitável» junto de uma base conservadora que o olha com desconfiança


Oito meses para provar que é conservador

Por Germano Almeida


A tripla vitória de Rick Santorum na noite do Missouri/Colorado/Minnesota parecia ter baralhado as contas à narrativa da «inevitabilidade de Romney».

O campo de Mitt chegou a tremer, sobretudo quando viu as sondagens nacionais feitas nos dias seguintes a esse triplo combate a darem uma inesperada vantagem a Santorum.
Mas o mês de Fevereiro ajudou a recolocar as coisas na sua ordem natural – se é que isso é possível num processo tão complexo e tendencialmente caótico, como é uma corrida presidencial na América.

Romney venceu os cinco estados que foram a jogo até à Super Terça-Feira (por esta ordem: Maine, Arizona, Michigan, Wyoming e Washington) e recuperou a tese de que será muito difícil perder a liderança da corrida.

É preciso explicar que as três vitórias de Santorum não se traduziram num número significativo de delegados – e depois desta série de cinco triunfos consecutivos, Romney volta a exibir uma clara vantagem na contagem de delegados: chega à Super Terça-Feira com 203, mais do dobro do que Santorum (92) e muito mais do que Gingrich (33) e Ron Paul (25).

Com mais dinheiro, mais votos, mais delegados, mais experiência e mais apoios que os seus rivais (nos últimos dias, o ex-governador do Massachussets passou a contar com os ‘endorsements’ de Eric Cantor, líder da maioria republicana no Congresso, e do senador Tom Coburn, do Oklahoma), Romney parece ter tudo para obter a nomeação.

Só que Mitt ainda não conseguiu provar que tem uma coisa fundamental para quem pretenda chegar à presidência dos EUA: carisma. Capacidade de mobilização.
Conquistar os corações do seu eleitorado.

O terceiro lugar de Romney no Minnesota – estado onde tinha o apoio do governador Tim Pawlenty – fez soar as campainhas de alarme em Boston, sede do quartel-general da campanha do ex-governador do Massachussets.

Com muito mais dinheiro para gastar em anúncios (em alguns estados, essa vantagem de Romney sobre Santorum chega a ser de cinco para um), Mitt tratou de atacar os pontos fracos de Rick. Nas últimas semanas, ficámos, assim, a saber que afinal o registo de Santorum como senador da Pensilvânia não foi assim tão conservador – e que em muitas situações, Rick votou alinhado com a via clássica do Partido Republicano.

Santorum viabilizou programas federais, nos anos Bush, que implicaram gastos públicos elevados na Educação e na Saúde – o que vai contra o ‘mantra’ dos apoiantes de Rick em temas como o ObamaCare.

O teste do Michigan
Romney chega à Super Terça-Feira tendo cumprido os serviços mínimos. Não está a fazer uma campanha brilhante (a ex-Primeira Dama Barbara Bush, apoiante de Mitt, desabafou ontem que «esta está a ser campanha mais horrível de que tem memória»), mas perante as debilidades da concorrência, começa a fazer valer a sua tese de que só ele poderá derrotar Obama em Novembro.

Há quem defenda que Mitt já ultrapassou o seu maior risco: o Michigan. Romney é filho de um antigo governador do Michigan (George Romney) e nasceu naquele estado.
Se perdesse a batalha do Michigan, teria ficado em maus lençóis.

E isso esteve perto de acontecer: Rick Santorum liderou as sondagens quase até ao dia da eleição, muito por culpa do que Romney disse sobre o plano de apoio da Administração Obama à indústria automóvel – e que salvou os três grandes fabricantes de Detroit (GM, Chrysler e Ford) da falência.

Uma boa parte dos eleitores ainda não esqueceu a posição de Romney, expressa em artigo no New York Times (“Deixem Detroit ir à falência”) – e Mitt teve que se explicar. Evitou o desastre mesmo sobre a meta, vencendo por uma curta margem (41-39) sobre Santorum. E, na mesma noite, obteve vitória folgada no Arizona.

O que podia ter sido o início do fim para Mitt, acabou por ser o momento da reafirmação da «inevitabilidade de Romney».


Jeb Bush está a ser desafiado a avançar com uma candidatura de última hora pelos sectores republicanos que não estão convencidos com as possibilidades de Mitt Romney derrotar Obama em Novembro

Corre, Jeb, corre?
As debilidades políticas de Mitt Romney estão a prolongar a ideia – improvável, mas, neste ambiente, não totalmente impossível -- de que ainda haverá espaço para uma candidatura de última hora.

Basta ouvir os lamentos dos apoiantes do Tea Party, que consideram não existir nenhum candidato que os convença no actual leque de quatro sobreviventes, para perceber que ainda haveria alguma margem para que Sarah Palin aparecesse de surpresa na Convenção Republicana – a fim de arrebatar os apoios da Direita radical.

Sectores mais moderados do Partido Republicano não se cansaram de apelar, nos últimos meses, a figuras como o governador do Indiana, Mitch Daniels, o ex-governador do Mississipi, Haley Barbour, o governador da Nova Jérsia, Chris Christie, ou mesmo ao jovem congressista do Wisconsin Paul Ryan, líder do Comité do Orçamento, no sentido de uma candidatura mais capaz de federar as diferentes sensibilidades do Partido Republicano.

O caso não é para menos: estudos recentes apontam para que os eleitores americanos, neste momento, confiam mais no Partido Democrata do que no Partido Republicano, numa relação de dois para um – um cenário totalmente diferente do que se verificava por alturas das midterms, em Novembro de 2010, que deram enorme maioria aos republicanos na Câmara dos Representantes.

A recuperação de Barack Obama nas sondagens (está nos 50 por cento de aprovação como Presidente e lidera confortavelmente os duelos para Novembro contra os quatro possíveis adversários republicanos) é outro sinal de alarme para as hostes republicanas.

Ann Coulter, escritora e comentadora conservadora, lançou recentemente, o repto: “Corre, Jeb, corre!”, num apelo ao ex-governador da Florida, Jeb Bush, para que se lance numa “last minute call” para a Casa Branca.

Irmão e filho de dois antigos Presidentes (George Bush pai e George W. Bush), Jeb foi um governador razoavelmente popular na Florida e tem uma rede de apoios que poderá ser activada a qualquer momento.

Por enquanto, não se mostra disponível para uma jogada de tamanho risco. Mas se esta estranha desconfiança do eleitorado republicano em torno do mais-que-provável-nomeado Mitt Romney se prolongar, será prudente admitir todos os cenários.

E a verdade é que, com esta distribuição proporcional dos delegados na maioria dos estados, é matematicamente possível que se chegue à Convenção Republicana sem que Romney consiga atingir o número mágico dos 1.144. Se assim for, a hipótese de uma convenção à antiga, onde tudo pode acontecer, não será de afastar.

É isso, Mitt: restam exactamente oito meses (a eleição geral é a 6 de Novembro) para provar que é mesmo conservador…

Super Terça-Feira: entrevista à Rádio Renascença


Aqui vai o link da entrevista que dei à Edição da Noite da Rádio Renascença, na antecipação à Super Terça-Feira de hoje nos EUA:


http://rr.sapo.pt/informacao_detalhe.aspx?fid=26&did=53301