quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Histórias da Casa Branca: Romney destaca-se, mas ainda não convence


Mitt Romney venceu folgadamente no New Hampshire, estado onde tem residência, mas as suas grandes provas de fogo serão na Carolina do Sul e na Florida


Romney destaca-se, mas ainda não convence

Por Germano Almeida


O New Hampshire confirmou o favoritismo de Mitt Romney para a nomeação presidencial republicana – mas esta está longe de ser uma história com um final já contado.

É verdade que Romney começa a parecer lançado para uma vitória inevitável, depois do folgado triunfo (17 pontos à frente de Ron Paul, mais de 20 sobre Huntsman e quase 30 por cento sobre Gingrich e Santorum).

E a dupla vitória nos primeiros dois combates confere-lhe uma força que há muito (36 anos, para sermos mais precisos) não acontecia num arranque de um candidato republicano nas primárias.

Desde 1976 que o Iowa e o New Hampshire não conheciam o mesmo vencedor nas primárias do Grand Old Party. Na história moderna da política americana, o nomeado presidencial republicano venceu pelo menos um destes estados (John McCain, por exemplo, teve mau desempenho no Iowa há quatro anos, mas renasceu para a campanha de 2008 com um sólido e inesperado triunfo no New Hampshire).

Todos estes dados poderiam indicar um passeio no parque para Romney até à Convenção Republicana de Tampa Bay.

Mas o ex-governador do Massachussets ainda não conseguiu convencer por completo as bases conservadoras.

Os quase 40 por cento que arrecadou no New Hampshire são enganadores. No ‘granite state’, Mitt quase jogava em casa: tem residência no New Hampshire, apostou milhões neste combate e é visto como um ‘insider’. Trata-se de um estado muito diferente do Iowa – mais diverso e com menor propensão a teses radicais como as que o Tea Party foi derramando nos últimos anos.

Mas as próximas duas batalhas serão bem mais difíceis para Romney: a Carolina do Sul tem um eleitorado muito mais conservador e o peso dos evangélicos pode ser uma barreira para o mórmon Mitt. E, no final do mês, a Florida pode ser o grande teste à suposta «inevitabilidade» da nomeação de Romney.

Impossível ignorar Ron Paul
Se Romney tem que ser considerado o maior vencedor do New Hampshire, há, no entanto, outro candidato que terá toda a legitimidade em cantar vitória: Ron Paul.

O congressista do Texas, que sempre foi considerado um ‘outsider’ pelo Partido
Republicano, teve um fantástico resultado: 55 mil votos, 23 por cento. Depois do positivo terceiro lugar no ‘caucus’ do Iowa, com quase 22 por cento, Ron Paul confirma-se como um candidato com um eleitorado muito fiel e mobilizado, baseado, sobretudo, no segmento mais jovem, propenso ao seu discurso altamente crítico do sistema político e do peso de Washington.


Ron Paul não será o nomeado, mas já é uma das figuras desta corrida presidencial republicana de 2012

Anti-instituições, contra todo o tipo de ingerências do poder federal e da máquina estatal, Ron Paul tem capitalizado parte do descontentamento dos eleitores em relação à carga fiscal e demarca-se dos restantes candidatos republicanos em questões como o aborto ou as intervenções militares (é isolacionistas e considera que os EUA não devem gastar dinheiro em guerras que não lhes dizem respeito).

Mesmo depois de dois bons resultados nos primeiros combates, Ron Paul sabe que não terá hipóteses reais de nomeação.

Sem capacidade para competir em estados como a Carolina do Sul ou a Florida, vai apostar nas votações por ‘caucus’ e poderá continuar a surpreender. Aconteça o que acontecer, já será uma das figuras da corrida republicana de 2012 – e está a marcar terreno para uma eventual candidatura presidencial do filho, o senador Rand Paul, do Kentucky, em 2016 ou 2020.

Ainda há espaço para o ‘anti-Romney’?
É mais uma das contradições desta estranha corrida presidencial republicana de 2012: Mitt Romney é o mais «presidenciável» -- é o candidato com mais dinheiro, o mais moderado e o que tem a campanha mais organizada – mas nem as duas vitórias do ex-governador do Massachussets fazem terminar com as dúvidas dos sectores dominantes do GOP.

Isso abriria espaço para uma facção ‘anti-Romney’. Só que o problema é que, em vez de esse sector se concentrar num candidato eventualmente vencedor, ele continua dissolvido em quatro nomes pouco convincentes: Newt Gingrich, Rick Santorum, Rick Perry e Jon Huntsman.

Começando por Huntsman. O ex-governador do Utah apostou tudo no New Hamsphire. Precisava de ter ficado em segundo, com uma votação superior a 20 por cento. Ficou perto, mas não alcançou nenhum dos objectivos cruciais: ficou atrás de Ron Paul e não foi além dos 17 por cento.

Ser um «candidato moderado» num tempo de radicalização do discurso republicano foi uma estratégia pouco prudente – sobretudo quando vemos que o próprio Mitt Romney tenta parecer menos centrista do que, na verdade, é. O antigo embaixador da China (nomeado por Obama…) disse ter ficado entusiasmado com a sua votação no New Hampshire. Mas, no fundo, sabe que a sua oportunidade já passou.

Na zona mais à direita, Rick Santorum foi a desilusão da noite. Depois de ter ficado a oito votos de vencer o Iowa, não aproveitou o ‘momentum’ da boa estreia e deixou a sensação de não ter capacidade para se assumir como a alternativa conservadora desta corrida. Terá na Carolina do Sul a sua última chance de virar os acontecimentos a seu favor.


Rick Santorum não foi capaz de aproveitar o 'momentum' do Iowa e está a perder fôlego na luta pelo estatuto de 'anti-Romney'

Quase fora da corrida parece Newt Gingrich: quarto lugar no Iowa, quarto no New Hampshire. Não se vê como poderá tirar a nomeação a Romney – nem mesmo com a sua tese de que é o «único republicano com conhecimento suficiente para vencer um debate cara a cara com o Presidente Obama».

Ainda sem ter desistido oficialmente, mas já fora de qualquer cenário vencedor, está Rick Perry. Bom sinal: é a prova de que, na política americana, quem está mal preparador não tem mesmo hipóteses de sobreviver.

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