domingo, 4 de dezembro de 2011

Histórias da Casa Branca: Romney 'vs' Gingrich - quem diria?


Mitt Romney e Newt Gingrich: a menos de um mês do Iowa, os dados parecem apontar para este duelo na corrida à nomeação republicana. Ou será que ainda há tempo para mais uma surpresa?


Romney ‘vs’ Gingrich: quem diria?

Por Germano Almeida



A menos de um mês do ‘caucus’ do Iowa, momento que marcará o arranque das primárias, começa, finalmente, a fazer algum sentido a dinâmica de uma corrida que, nos últimos meses, pareceu ter contornos… esquizofrénicos.

A desistência de Herman Cain, ditada pelos escândalos sexuais que perturbaram a parte final campanha do empresário afro-americano que defendia o plano 9-9-9, ajuda a definir a questão central num duelo entre Mitt Romney e Newt Gingrich.

Romney, mais moderado, será, à primeira vista, um osso mais duro para Obama roer na eleição geral, dada a sua maior capacidade de disputar com o Presidente o eleitorado do centro e mesmo alguns sectores democratas desiludidos com a Presidência Obama.

Mas Gingrich, ressuscitado nas suas aspirações presidenciais depois de um início desastroso (em que parecia que tudo de negativo que poderia acontecer sucedia mesmo), pode mesmo arrebatar a nomeação republicana – e lançar uma narrativa de um republicano mais clássico e capaz de mobilizar a base conservadora contra o Presidente.

Romney e Gingrich são políticos muito diferentes. Apesar de terem apenas quatro anos de diferença (Mitt tem 64, Newt 68), o ex-governador do Massachussets exala uma imagem de maior juventude.

Gingrich, de cabelo branco há muitos anos e com uns quilos a mais, não preenche os requisitos ditados por esta sociedade da imagem. Mas tem uma carreira política longa e recheada (com altos e baixos) e fortes credenciais nos debates.

Tem uma melhor preparação política que Romney e dispõe de um conhecimento sobre a história norte-americana muito superior a qualquer outro candidato republicano.

Mitt calculista, Newt indisciplinado
Mitt tem como pontos fortes a experiência de 2008, a capacidade de desafiar Obama em estados-chave como o Ohio, a Pensilvânia, a Florida ou o Michigan e, é claro, a maior abrangência eleitoral.

Newt apostará no seu passado como ‘speaker’ de um Congresso que fez a vida negra a Bill Clinton – sendo que esta eleição de 2012 poderá ter alguns pontos de contacto com os dados que levaram Clinton à reeleição em 1996, dois anos depois de ter perdido o controlo da House e do Capitólio para os republicanos.

Mais previsível e calculista, Romney deverá, à primeira vista, criar mais dificuldades ao Presidente. Gingrich segue menos as regras do marketing político.

Por vezes, chega a ser politicamente incorrecto – mas consegue fazer melhor a identificação com os eleitorados que necessita agarrar: os republicanos clássicos e a base conservadora que se ‘desviou’ para terrenos próximos do Tea Party.

Seja Romney ou Gingrich o nomeado, parece já certo que Barack Obama não terá propriamente um passeio para a reeleição, dentro de 11 meses.

O Iowa aqui tão perto
A três semanas do Iowa, as sondagens dão Gingrich à frente. Mas continua tudo completamente em aberto. Por esta altura, há quatro anos, nas primárias democratas quem liderava no Iowa era… John Edwards.

O ‘caucus’ do Iowa não é uma votação normal. Os resultados decorrem de assembleias de vizinhos que se reúnem e decidem, em conjunto, que candidato apoiar. Da soma das diferentes assembleias surgem os votos em cada um.

Há quatro anos, essa estranha forma de se escolher representantes políticos em pleno século XXI foi o empurrão decisivo para Obama na corrida democrata – mas o péssimo resultado de McCain não o impediu de garantir, mais tarde, a nomeação republicana.

É preciso, por isso, admitir todos os cenários perante um terreno tão imprevisível como é uma corrida presidencial nos EUA.

Iô-iô
A actual liderança de Newt Gingrich nas sondagens da corrida republicana é a mais recente surpresa do autêntico iô-iô que têm sido as pesquisas para se tentar perceber quem está melhor colocado para desafiar a reeleição de Obama.

Primeiro, foi Romney a aparecer à frente. Mas as dificuldades em segurar o eleitorado mais à direita, que não gosta dele, rapidamente mostraram que Romney terá dificuldades em «descolar» dos 25/30 por cento -- e precisa de bem mais para atingir a nomeação.

Perante a demora de Sarah Palin (que acabou mesmo por não avançar), quem aproveitou
o espaço à Direita foi a congressista do Minnesota, Michele Bachmann. Só que o excessivo radicalismo da candidata -- uma espécie de Sarah Palin do Midwest (um pouco menos ignorante, mas a acusar também falta de preparação política para ser Presidente) – foi fatal para esta ‘Tea Party darling’ que defende que «a mulher deve ter uma atitude submissa para com o marido».

No final do Verão, eis que surge em força Rick Perry. Com ares de cowboy do Texas, prometia discurso duro contra Obama e chegou a ter larga vantagem sobre Romney. Mas não resistiu aos debates, onde foi somando ‘gaffes’ e erros de palmatória. Já esteve acima dos 30%. Agoniza agora pelos cinco a sete.

Chegou, então, a vez de Herman Cain, um afro-americano de discurso populista, a roçar o anti-político, com apoios muito à Direita e uma solução simplificada para a questão fiscal.


Herman Cain passou da liderança à desistência em poucos dias. Falta saber quem irá agarrar os apoios do empresário afro-americano de perfil populista

Deu para assustar Romney e foi preciso ser alvo de ataques fortíssimos para se afastar. Não resistiu às acusações de infidelidade e assédio sexual – e atirou a toalha ao chão há poucos dias.

Enquanto acontecia este iô-iô (em que Romney se mantinha pelos 20/25 por cento e um dos seus opositores, à vez, lhe passava à frente e depois caía…), Ron Paul, um candidato geralmente subestimado pelo ‘mainstream’ media, mantém-se com apoios na ordem dos 15/18 por cento – que até o colocam com algumas aspirações de vitória no Iowa.

Libertário, defende a supressão de instituições como a ONU ou a NATO e é contra impostos e outro tipo de intromissões do Estado. Não será o nomeado, mas pode vir a fazer mossa nos apoios mais previsíveis para Romney e Gingrich.

Ainda há um monte de dúvidas no campo republicano, mas à medida que se aproxima o ‘caucus’ do Iowa, esta história começa a fazer sentido. Pelo menos, parece.

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