quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Histórias da Casa Branca: Barack desafia o seu mantra


Convencer pela força da palavra e da retórica que está em melhores condições para resolver a crise. Eis o destino de Barack Obama, a um ano de tentar a reeleição


Barack desafia o seu mantra

Por Germano Almeida


Edith: Não te preocupes, Arch. O Presidente Roosevelt disse um dia que a “única coisa da qual devemos ter medo é do próprio medo”.
Archie Bunker: Pois, mas ele disse isso porque tinha emprego.

(diálogo na série “All in The Family”, sitcom produzida pela CBS entre 1971 e 1979, que em Portugal teve o título “Uma Família às Direitas”)


«Acho que a polarização de posições não tinha atingido este rubro desde o tempo da presidência Lincoln, que foram tempos de guerra civil, fim da escravatura, tudo. O fenómeno actual é particularmente interessante. O que tem acontecido com frequência, ao longo da nossa História, é a franja da extrema-esquerda puxar os democratas para tão longe que, no fim, não conseguem governar, porque não obtêm maiorias suficientes. Agora é o oposto. Com o Tea Party, a guinada foi para a direita. O meio já não é o que era. (…) Mas também acho que esta fase da política americana não vai durar muito mais tempo. Só pode ser um fenómeno cíclico. Vai mudar, garanto. Mas, por enquanto, verdade seja dita: o espectáculo é terrivelmente triste»
GEORGE CLOONEY, actor e realizador norte-americano, apoiante de Barack Obama desde a primeira hora, em entrevista à Revista Única, do Expresso


Quando um dos maiores apoiantes de Barack Obama, que agora no cinema é Mike Morris (um governador democrata da Pensilvânia que concorre à Casa Branca em "Ides of March"), fala assim sobre o ambiente político que tem dominado os corredores de Washington nos últimos três anos, é preciso tirar conclusões.

Obama foi eleito sob duas plataformas que, nalguns aspectos, poderiam parecer contraditórias, mas que no candidato democrata pareciam poder ser conjugáveis: a conciliação e a transformação.

Se o lado da «change» só pôde durar enquanto Barack teve respaldo no Congresso (começou o mandato com uma Super Maioria democrata no Senado e uma larga maioria na Câmara dos Representantes), Novembro de 2010 foi a marca da viragem: sem interlocutor válido no campo legislativo, deixou de ser viável prometer uma mudança real em matérias fundamentais.

Do ponto de vista político, o da estratégia de condução desta Presidência, foi uma atitude racional, esse «recentramento» assumido desde o discurso do Estado da Nação de 27 de Janeiro de 2010 – e posto em prática nos meses a seguir.

Esta linha de rumo exigiria a refinação da outra faceta de Barack Obama: a conciliação. O de acreditar que ele seria o único político capaz de estabelecer pontes, nivelar diferenças, absorver divergências num país tão vasto, díspar e heterogéneo como são os Estados Unidos.

Mas o que já não estaria nas previsões do 44º Presidente dos EUA seria este clima tão bem descrito por George Clooney, no excerto acima mencionado.

O mantra de Obama parece ser, por isso, o de encontrar consensos onde parece só haver hostilidade. O de suavizar tensões quando, na América -- um país que durante décadas foi cimentando o seu sistema político num regime bipartidário que relegava grupos políticos e sensibilidades ideológicas minoritárias para nichos que quase não conseguiam visibilidade mediática – se começam agora a ver movimentos que reivindicam independência em relação a democratas e republicanos (à extrema-esquerda, o Occupy Wall Street; à extrema-direita, as reminescências do Tea Party, agora em declínio).

De novo a solução?
Identificado o problema, sublinhado o incómodo de ver uma sociedade como a americana, que historicamente tem sabido unir-se nos momentos fundamentais em torno de um profundo sentimento de «nação» (em contraponto, por exemplo, com a Europa), assim tão fracturada, falta saber onde está a solução para a tal «polarização de posições».

Olhando para o quadro actual, vemos que o político que está em melhores condições para dar o salto em frente continua a ser Barack Obama.

Mesmo comparando com Mitt Romney (o pretendente republicano mais moderado), Obama continua a ser olhado pelos americanos como tendo «o melhor quadro de valores», «a melhor preparação» e «mais capacidade para se entender com o outro lado».

Dito de outro modo: as pessoas continuam a gostar de Obama, e apreciar as suas qualidades políticas. Só não conseguem é aprová-lo em massa como Presidente, em tempos sombrios como este. Como disse recentemente o ex-Presidente Bill Clinton, «Obama tem feito um trabalho muito melhor do que o crédito que lhe dão».

Mas não deixa de ser significativo que, com uma taxa de desemprego ainda nos nove por cento, Obama esteja bem colocado para sonhar com a reeleição daqui a um ano – quando, historicamente, nenhum Presidente anterior garantiu um segundo mandato com uma taxa de desemprego superior a 7,5%.

É essa, por isso, outra sina de Obama: convencer com o poder da palavra e dos discursos (o seu ponto forte) uma larga fileira de desempregados norte-americanos que está em melhores condições de responder à crise do que qualquer candidato republicano.

Será que, também nesse aspecto, Barack será capaz de desafiar o seu mantra?

O texto 100
Com esta crónica, a rubrica «Histórias da Casa Branca» atinge o texto 100.

Começou em Junho de 2009, dando o nome a um espaço que se criava no site de «A Bola», secção Outros Mundos. Prosseguiu apenas neste blogue, numa cadência semanal, por vezes com mais frequência ainda (sempre que o momento o justifica), num acompanhamento permanente da Administração Obama.

A partir de hoje, com nova imagem gráfica e com o relógio já em contagem decrescente – falta menos de um ano para as eleições presidenciais de Novembro de 2012. Continuaremos por cá, então.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Entrevista na Antena 1, a um ano das eleições presidenciais de 2012


http://tv1.rtp.pt/antena1/index.php?t=Entrevista-a-Germano-Almeida.rtp&article=4260&visual=11&tm=16&headline=13&fb_source=message

Entrevista a Ricardo Alexandre, emitida na Manhã 1 de segunda-feira, 7 de Novembro (versão integral) e no Visão Global, de 6 de Novembro

VISÃO GLOBAL
http://tv3.rtp.pt/programas-rtp/index.php?p_id=2311&e_id=&c_id=1&dif=radio

domingo, 6 de novembro de 2011

Histórias da Casa Branca: Um ano para merecer mais quatro


Barack Obama 2012: falta precisamente um ano para saber se a campanha da reeleição será premiada, mas os valores já angariados apontam para um recorde. Conseguirá o Presidente transformar essa capacidade de atracção em votos?


Um ano para merecer mais quatro

Por Germano Almeida


A 6 de Novembro de 2012, daqui a precisamente um ano, será realizada a 57.ª eleição presidencial nos Estados Unidos da América. Poderá indicar o nome do 45º Presidente dos EUA, no caso de o vencedor vir a ser o nomeado do Partido Republicano, ou então marcará a confirmação do segundo mandato de Barack Obama.

Pela primeira vez no seu improvável percurso, o actual Presidente, quarto mais jovem de sempre a ocupar a Casa Branca por eleição, não estará no lugar do ‘outsider’ que desperta todas as simpatias. O estigma da culpa por estar associado a três anos de terríveis dificuldades para quem governa vai marcar um facto novo nos dados que, até 2008, pareciam estar destinados a favorecer a fortuna de Barack.

Obama não poderá ser, desta vez, o ‘underdog’ que, a partir de 2007, começou a ameaçar, de forma inesperada mas arrasadora, o super-favoritismo de Hillary Clinton.

Mas a narrativa segundo a qual Obama está condenado ao fracasso já esbarrou demasiadas vezes na realidade. É ainda cedo para saber se tal voltará a acontecer nas próximas eleições presidenciais, mas a verdade é que Barack ainda tem um ano para provar merece mais quatro. E, como bem lembrou o comentador de tendência conservadora Charles Krauthammer, «convém não subestimar as extraordinárias qualidades políticas do 44º Presidente dos EUA».

Sinais contraditórios
No calendário exigentíssimo da política americana, um ano não é assim tanto tempo. E vale a pena lembrar-nos como as coisas estavam em Novembro de 2007, quando faltava precisamente um ano para as anteriores eleições presidenciais: Hillary liderava as sondagens nacionais do Partido Democrata, com mais de dez pontos de vantagem sobre Obama, ainda que Barack já alimentasse algumas esperanças de vir a surpreender no ‘caucus’ do Iowa, que marcaria o arranque das primárias, a 3 de Janeiro.

No lado republicano, Rudy Giuliani aparecia à frente das sondagens nacionais. John McCain e Mitt Romney apareciam como eventuais desafiadores ao alegado favoritismo do ex-mayor de Nova Iorque. Em alguns estados do Sul, surgia bem colocado um ex-pastor baptista com ar bem-disposto e um discurso incrivelmente duro: Mike Huckabee.

Dois meses depois, no arranque das primárias, os supostos favoritos, Hillary e Giuliani, perdiam o primeiro combate para Obama e Huckabee.

É, por isso, muito arriscado ter certezas nesta altura. Mas os ‘forecasts’ apontam para que Obama tenha fortíssimas hipóteses de se reeleger desde que o seu adversário não se chame Mitt Romney.

Se o escolhido dos republicanos vier mesmo a ser o ex-governador do Massachussets, homem de negócios bem-sucedido e mórmon de religião por herança familiar, então aí o grau de incerteza será bem maior.

A evolução da taxa de desemprego nos EUA será outro barómetro do comportamento eleitoral: até hoje, nunca um Presidente americano conseguiu reeleger-se com uma taxa de desemprego acima dos 7,5 por cento. Ora, neste momento, esse indicador é de 9,1. No mínimo, preocupante, não será Barack?

A maratona ainda nem sequer vai a meio
Numa louca maratona que nem sequer chegou a meio, Obama já começou a repartir as suas atenções entre as prioridades da governação (agora claramente centradas no ataque ao desemprego, com a aposta, junto da opinião pública, nas virtudes do seu American Jobs Act) e a campanha para a reeleição, focada nos estados-chave do Midwest.

Nessas incursões pela ‘real America’, Barack tem insistido numa ideia forte: em apenas três anos na Casa Branca, já conseguiu cumprir perto de 60 por cento da missão a que se propôs junto dos americanos – mas precisa de mais cinco anos (o que falta cumprir, ao que se juntariam os quatro de um segundo mandato) para concretizar o mais difícil (e que estará no que o Presidente considera ser os 40 por cento restantes).

Apesar de tantos espinhos que andam aí pelo caminho, nestes tempos sombrios do declínio da globalização (pelo menos a que conhecemos até agora), se olharmos com atenção percebemos que o candidato que está em melhores condições de cortar a meta em primeiro lugar, de hoje a um ano, nesta louca maratona eleitoral americana, continua a chamar-se Barack Obama.