sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Histórias da Casa Branca: Rick Perry, a 'carta escondida' que pode aparecer do Texas


Rick Perry, 61 anos, governa há uma década o estado do Texas. É um «conservador fiscal», com credenciais reformistas que podem valer muito em tempos de «cortes na despesa» em Washington. Apesar do ruído das 'Tea Party darlings' (Michelle Bachmann e Sarah Palin), Mitt Romney sabe que a sua maior ameaça pode vir do Texas...


Rick Perry, a ‘carta escondida’
que pode aparecer do Texas

Por Germano Almeida


Faltam 15 meses para as eleições presidenciais de Novembro de 2012. Pode parecer muito tempo, mas, na política americana, um ano e três meses significa que está a chegar o tempo das definições.

Em ciclo de tentativa de reeleição para o Presidente em funções, isso quer dizer que só haverá primárias no campo oposto à cor política que se encontra na Casa Branca.

Mesmo com o desconforto manifestado pelos «liberais» em relação aos «compromissos» que Obama tem tido que fazer com os republicanos, em tempo de «mixed Congress» (larga maioria republicana na Câmara dos Representantes, curta maioria democrata no Senado), não é de admitir outro cenário que não seja a nomeação, sem luta real, de Barack Obama pelo Partido Democrata.

Como nota hoje Jay Cost, no ‘Weekly Standard’, «a esquerda nunca abandonará Obama». «O Presidente vai contar com o apoio total e inequívoco de todo o espectro político dos democratas na eleição presidencial de 2012», reforça o analista.

Do lado republicano, uma consulta mais imediata pelas sondagens faria atribuir, com uma larga antecipação, a nomeação a Mitt Romney.

É certo que o ex-governador do Massachussets tem mantido uma constante e sólida liderança nos estudos de opinião nos últimos meses.

Além do primeiro lugar nas preferências dos republicanos, Mitt (que nas primárias de 2008 foi terceiro classificado e se revelou muito forte em estados importantes para a eleição geral, como o Michigan, Flórida e New Hampshire) é também, de longe, o candidato republicano que angariou mais dinheiro -- perto de 20 milhões de dólares, mais do que todos os seus adversários juntos (Bachmann e Paul angariaram perto de quatro milhões; Cain, Pawlenty, Gingrich e Huntsman cerca de dois milhões, Rick Santorum ainda não atingiu um milhão de dólares).

Poderiam parecer razões mais do que suficientes para considerar que -- apesar de um certo folclore garantido por candidatos como Michelle Bachmann, Ron Paul, Herman Cain ou mesmo Sarah Palin (se a ex-vice de McCain acabar por avançar) – as coisas poderiam estar destinadas a terminar, no lado republicano, com a investidura de Romney como o candidato que terá a missão de enfrentar a eleição geral com Barack Obama.

Mas uma corrida à nomeação presidencial nos EUA é um longo caminho – e raramente termina com o cenário que era mais plausível no início. Basta recordar o que aconteceu em 2008: do lado democrata, a favorita era Hillary Clinton, enquanto, nos republicanos, liderava… Rudy Giuliani. A eleição geral acabou por ser disputada por dois ‘underdogs’: Barack Obama e John McCain.

Vazio na zona clássica do GOP
As sondagens mostram que Romney tem boas hipóteses de discutir com Obama a vitória nos ‘swing states’ – aqueles que, geralmente, decidem a eleição.

Aos olhos do eleitorado, Mitt aparece como o mais «elegível», quando comparado com um maior radicalismo de Bachmann, Palin, Cain ou Gingrich e com o cinzentismo de Tim Pawlenty e Jon Huntsman – dois candidatos que poderiam disputar a zona centrista com Romney, mas que não estão a conseguir vencer os problemas de falta de notoriedade pública que têm – e sem a qual não terão condições de sonhar com a nomeação.

O problema é que, para as bases do Partido Republicano, é importante apoiar um candidato que se identifique com o essencial dos valores que, nas últimas décadas, têm dominado a doutrina do GOP. Ronald Reagan continua a ser, nesse capítulo, a referência maior.

John McCain teve sempre esse problema, mesmo quando, há quatro anos, obteve a nomeação: as suas credenciais de ‘maverick’ eram vistas com reservas.

Ora, Mitt Romney não é apontado, propriamente, como um republicano clássico: governou um dos estados mais liberais da América, o Massachussets.

Já oscilou as suas opiniões em temas sociais, é mórmon (religião minoritária e olhada com desconfiança por uma boa parte do eleitorado americano) e, problema principal, fez aprovar, enquanto governador do Massachussets, um programa estadual para a Saúde em tudo idêntico ao ObamaCare aprovado em Março de 2010 – e tão criticado pelo eleitorado que Romney quer agora convencer.

É desta, Rick?
Neste quadro, o espaço para poder aparecer pelo menos mais uma candidatura nas primárias republicanas tem vindo a ser reclamado por vários sectores do ‘establishment’ do GOP (‘Grand Old Party').

Com as auto-exclusões do governador do Indiana, Mitch Daniels, e do governador da Nova Jérsia, Chris Christie, a ‘carta escondida’ que tem vindo a ser falada nas últimas semanas é o governador do Texas, Rick Perry.

Sucessor de George W. Bush na Mansão de Austin, quando o 43.º Presidente dos EUA resignou ao cargo para tomar posse na Casa Branca, em Janeiro de 2001, venceu três eleições seguidas, tornando-se o governador do Texas há mais tempo no cargo e um dos governadores de estado mais bem-sucedidos da história da América.

Curiosamente, começou a carreira política no Partido Democrata, tendo apoiado a (falhada) candidatura presidencial de Al Gore, em 1988.

É costume dizer-se que «um democrata no Texas é mais conservador que um republicano no Maine». O percurso de Rick Perry prova isso. Com o passar dos anos, foi-se aproximando do Partido Republicano, sem ter mudado de posição nas questões essenciais: foi sempre um «conservador fiscal», colocando como prioritário o equilíbrio orçamental na sua governação de um dos maiores estados dos EUA.

Nos temas de sociedade, situa-se na ala tradicional do GOP: na questão do aborto, é ‘pro life’ e opõe-se ao casamento dos homossexuais. Seja como for, o seu discurso político não o coloca muito à direita entre os republicanos. As credenciais reformistas e pragmáticas na área fiscal serão, se avançar, o seu maior trunfo, em tempos de «corte na despesa» em Washington.

Mesmo sem ter confirmado ainda a sua candidatura presidencial para 2012, Rick Perry já aparece em segundo lugar nas sondagens das primárias republicanas. Alguns pontos atrás de Romney, mas claramente à frente das eventuais preferidas do Tea Party – Michelle Bachmann e Sarah Palin.

Se alguém conseguir tirar o favoritismo a Mitt Romney, tudo aponta que venha do Texas – e seja o actual líder dos governadores republicanos. Estejam atentos a Rick Perry.

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