quinta-feira, 23 de junho de 2011

Histórias da Casa Branca: Sair do Afeganistão e colocar o foco nos EUA


Em Dezembro de 2009, Obama anunciou, em West Point, o reforço de 30 mil efectivos para o Afeganistão e prometera o início da retirada para Julho de 2011. Vai cumprir


Sair do Afeganistão e colocar o foco nos EUA

Por Germano Almeida


Em Dezembro de 2009, Barack Obama fez na Academia de West Point um dos discursos mais difíceis da primeira metade do seu mandato presidencial: perante uma plateia repleta de militares, anunciou o reforço de 30 mil tropas norte-americanas no Afeganistão, integrando essa opção impopular na sua visão de que, depois do que aconteceu na América a 11 de Setembro de 2001, a frente afegã era uma «guerra de necessidade», em contraponto com a «guerra estúpida» que o seu antecessor, W. Bush, inventara no Iraque.

Também em West Point, há ano e meio, num golpe arriscado mas muito ao estilo challenger de Barack, o Presidente dos EUA comprometera-se com um calendário de retirada, no mesmo discurso em que anunciava a ‘surge’: a partir de Julho de 2011, os Estados Unidos começariam a retirar de Cabul.

Desde esse discurso definidor para se compreender a estratégia de Obama, neste difícil equilíbrio entre aguentar a situação no terreno e assegurar uma retirada digna, a visão da «contra-insurreição» (que o general David Petraeus começara a implementar na fase final da Administração Bush e que o general Stanley McChrystal aplicou com mais condições a partir de 2010) passou a ser ainda mais dominante.

O tempo foi passando e o calendário está a poucos dias de chegar a essa meta: Julho de 2011. Apesar de algumas contrariedades -- como a demissão de McChrystal, que obrigou Obama a oferecer a Petraeus um regresso ao terreno, mais tarde premiado com a direcção da CIA, que o general irá chefiar em breve – a verdade é que Obama conseguiu cumprir mais uma promessa-chave da sua presidência.

Numa declaração de dez minutos na Casa Branca, o Presidente anunciou um ambicioso plano de retirada, que se iniciará com o regresso aos EUA de dez mil efectivos a partir do próximo mês.

Até ao Verão de 2012, garante Obama, 33 mil soldados norte-americanos que, neste momento, colocam as suas vidas em risco em solo afegão, estarão de regresso a casa, repondo, assim, a ‘surge’ que se vira obrigado a fazer em Dezembro de 2009. «A isto se chama mostrar resultados e cumprir objectivos», observa Gloria Borger, analista política da CNN.

«Até 2014», lançou o Presidente no discurso desta noite, «todos os soldados norte-americanos que agora se encontram no Afeganistão vão estar de regresso ao seu país. E isso só será possível graças ao seu esforço, ao seu empenho e à ajuda dos nossos aliados».

‘Nation building at home’
Este anúncio surge numa altura em que as dificuldades internas de Obama vão aumentando. Depois do ‘boost’ de popularidade permitido pelo sucesso da operação de eliminação de Bin Laden – que levou Obama aos 60 por cento de aprovação, um dos melhores valores desde que é Presidente – o barómetro presidencial está outra vez abaixo dos 50 por cento.

Nos últimos dias, aliás, até baixou à casa dos 43/45 por cento, números que começam a ser preocupantes para a estratégia de reeleição – sobretudo quando se começa a desenhar a tendência para que os republicanos venham a escolher Mitt Romney como nomeado presidencial para 2012. Mais uma vez, a explicação para esta queda de popularidade tem dois nomes: crise económica.

Não foi, por isso, de admirar que Obama tenha lançado as suas atenções para os problemas internos: «É tempo de pensarmos no conceito de ‘nation building’ em casa. É tempo de nos focarmos na América».

O caminho da retirada de Cabul, apontado esta noite por Obama, está sintonizado com a opinião pública: as sondagens dizem que entre 60 e 80 por cento dos americanos concordam com o regresso das tropas norte-americanas do cenário afegão, valores muito superiores aos que existiam há um ano.

De ‘combate’ para ‘apoio’
Mas não se pense que este foi apenas um golpe a pensar na popularidade. Vários líderes republicanos, entre os quais o recém-candidato presidencial Jon Huntsman, concordam com uma «retirada progressiva» do Afeganistão.

Os custos astronómicos de uma guerra na qual os EUA já estão metidos há quase uma década pesam no contribuinte americano e nas contas de um Congresso que pretende, cada vez mais, dar prioridade aos cortes orçamentais.

Obama recordou que, depois da morte de Bin Laden, «a Al Qaeda perdeu força e ficou sem o seu único líder real». E lançou o repto: «Sempre dissemos que a América não vai ficar para sempre no Afeganistão. Iremos retirar as nossas tropas à medida que os afegãos consigam defender-se dos perigos que ainda os ameaçam. A nossa missão mudará de combate para apoio».

A ano e meio de tentar a reeleição, o conceito chave para a Presidência Obama será, cada vez mais, «recuperação económica».

Barack, o pragmático, está de regresso.

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