sábado, 20 de fevereiro de 2010

Histórias da Casa Branca: festas de chá contra Obama


Texto publicado na rubrica «Histórias da Casa Branca», site de A Bola, secção Outros Mundos:

«A contestação a Barack Obama tem tido diversas proveniências. A fatia mais preocupante de desiludidos é aquela que resulta dos independentes que o apoiaram, em massa, no duelo com John McCain. Mas há uma franja crescente de americanos (e são quase todos brancos...) que encontra nas "Tea Parties" a forma de exprimir a sua aversão pelo «poder de Washington».

Em 1773, dois anos e meio antes da Declaração de Independência, colonos ingleses furiosos com o governo britânico atiraram para as águas do porto de Boston uma enorme quantidade de caixotes de chá.

O episódio ficou conhecido como Boston Tea Party – e tornou-se num ícone de uma das idiossincrasias de um certo estilo americano, que ainda perdura: a tendência de estar contra qualquer interferência do poder federal.

Mais de dois séculos depois, o acto de rebelião daqueles colonos ingleses, disfarçados de índios, continua a povoar o imaginário dos quem vêem nos mais altos responsáveis políticos de Washington inimigos potenciais.

Com um Presidente como Barack Obama, essa reacção tende a ser atiçada. A agenda transformadora de Obama tem sido interpretada por facções mais radicais da Direita americana como um ataque aos valores fundamentais dos EUA.

As palavras de ordem daquelas manifestações peculiares são, necessariamente, contra os «gastos excessivos», o agravar do «défice monstruoso» ou a «interferência do governo na livre iniciativa».

Mas, no meio de ideias mais ou menos aceitáveis, têm aparecido pérolas como a de que a Reforma da Saúde seria uma forma de Obama «legitimar o aborto livre». E há, claro, aquelas franjas minoritárias que insistem em lançar medos primários sobre um sinistro «plano das minorias que elegeram Obama para fazer mal à América».

A questão é que o descontentamento crescente, com o prolongar da crise económica, está a dar palco às novas 'Tea Parties', onde Obama é rotulado de «socialista». O que começou por ser um movimento descoordenado, com ideias pouco consistentes politicamente, passou a ser, nos últimos meses, um fenómeno multiplicado por centenas de cidades na América.

Mesmo um Partido Republicano tentado a virar-se à direita tem tido um certo pudor em avalizar estes novos movimentos. Os principais políticos conservadores estão a recusar os convites dos organizadores das «festas contra o Presidente», assustados com aquilo que por lá se diz.

«White people's party?»
No geral, os manifestantes inspiram as duas deixas no que ouvem da boca de radicais como Rush Limbaugh ou, mais recentemente, Glenn Beck, estrelas de talk shows de rádio e TV.

Mas a presença de Sarah Palin, ex-governadora do Alaska e vice do ticket presidencial republicano em 2008, tem dado uma projecção mediática inesperada a estas bizarras «festas de chá» contra Obama.

Palin já foi criticada por elementos do seu próprio partido por se juntar a estas manifestações radicais. Mas este é um claro sinal do radicalismo que está a contagiar o actual momento político na América.

Como bem notou Keith Olbermann, autor de um programa de opinião na MSNBC, estas novas Tea Parties deviam passar a chamar-se... 'White People Party'. «Onde estão as pessoas de cor nestes movimentos?», questiona Olbermann, de forma pertinente.»

2 comentários:

OCTÁVIO DOS SANTOS disse...

Germano, uma coisa é adoptar uma perspectiva ideológica, o que, feito claramente, assumidamente, não tem mal. Outra coisa é repetir uma mentira, insistir nela. Não viu o meu comentário à sua entrada anterior, e a ligação nele inserida, que demonstra que, sim, existiram, existem, várias pessoas «de cor» nas «tea parties»? As opiniões, e as perguntas, de alguém como Keith Olbermann (um maníaco totalmente desacreditado nos EUA) raramente são pertinentes - são, isso sim, quase sempre impertinentes.

Germano Almeida disse...

É a sua opinião, Octávio. E, como sabe, terá sempre o direito de a expressar aqui.

No caso que refiro no texto, é óbvio que a observação dele é pertinente -- e há-de convir que quem participa nessa Tea Parties não são, propriamente, uma amostra heterogénea do «melting pot» americano...

São, de facto, uma parte da América. Mas estão longe de representarem o quadro geral.

Cumprimentos.