sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Coisas do Sexta: Michelle «vs» Cindy


Inicio hoje o «remake» de alguns dos textos publicados no jornal Sexta e na Grande Loja do Queijo Limiano, sobre as eleições americanas.

Começo com um trabalho que comparou os perfis de Michelle Obama e Cindy McCain, publicado no Sexta de 18 de Julho de 2008:

Um duelo inédito
também no feminino


EUA A corrida para a Casa Branca revela traços invulgares nas candidatas a Primeira Dama. Michelle, a primeira negra, e Cindy, herdeira de uma fortuna, foram importantes na ascensão política de Obama e McCain

À imagem dos maridos, Michelle Obama e Cindy McCain representam uma certa independência em relação ao papel que estava reservado às mulheres dos candidatos à presidência dos Estados Unidos.

Michelle é mais dona do seu nariz (e isso, por vezes, leva-a a dizer coisas que inquietam os estrategas de Obama), ainda que a história de Cindy esteja longe de ser tão convencional como o rótulo, verdadeiro, de «raínha da beleza» do Arizona poderia fazer crer.

Ambas são altas e bonitas. Mas têm percursos de vida muito diferentes: Cindy nasceu num berço de ouro (o pai era um dos homens mais ricos do seu estado), Michelle é filha de um casal negro de classe operária, de uma zona difícil do South Side de Chicago.

Há, mesmo assim, um importante ponto em comum: ambas foram cruciais no arranque das carreiras dos maridos. A influência dos Hensley ajudou McCain a subir na política do Arizona; os contactos de Michelle na comunidade afro-americana revelaram-se decisivos para que Obama recolhesse apoios para chegar ao senado estadual, em Chicago.

Michelle, a pragmática
Michelle Robinson, advogada, 44 anos, é muito mais do que a esposa de Obama: ela tem sido a principal conselheira na impressionante ascensão política de Barack. Casada com um fenómeno de popularidade, Michelle assume tarefa fundamental – a de lembrar ao marido que o sucesso será sempre passageiro.

«Quando voltei a casa, após ter trabalhado numa das matérias mais relevantes desde que entrei para o Senado, Michelle nem me perguntou como as coisas tinham corrido. Disse-me logo para procurar um bom produto contra as formigas, porque a nossa cozinha estava cheia delas», contou Barack, divertido, numa entrevista a Oprah Winfrey. «Havia que resolver a questão das formigas e não era a importância do que ele tinha tratado que fazia desaparecer o problema…», replicou Michelle, enquanto franzia o sobrolho.

Esse pragmatismo da possível primeira Primeira Dama negra da história americana será o seu traço mais marcante. Mesmo que o lado de mãe protectora lhe fizesse ter uma posição desfavorável quanto a uma candidatura presidencial (Michelle tinha fortes receios de que Obama fosse vítima de um atentado), na hora da verdade percebeu o que estava em jogo -- e passou a ser uma aliada: «Se é isto o que Barack quer realmente, então Michelle apoiá-lo-á e fará o que for necessário. A relação deles sempre foi assim», profetizava Cassandra Butts, amiga do casal, nas semanas que antecederam a decisão.

E talvez também tenha sido o lado pragmático de Michelle que fez convencer Barack a avançar com o Yes, We Can, slôgane que hoje todos elogiam, mas que o senador receou ser «um pouco vago», antes de o lançar na corrida para o Senado. Foi ela quem teve a palavra decisiva.

Cindy, a executiva
Cindy Hensley, empresária, 54 anos, não é apenas a filha de um milionário das cervejas. Tal como John McCain, Cindy já venceu muitas batalhas. Ultrapassou a dependência de analgésicos, na qual caiu na sequência de terríveis dores nas costas, depois de ter sido operada por duas vezes à coluna, nos anos 90.
Quem a veja nos comícios, ao lado de John, sorridente e luminosa, não adivinha que, há quatro anos, Cindy sofreu um AVC, que lhe imobilizou uma perna e um braço. Depois de semanas de fisioterapia, recuperou totalmente.

Pouco dada a meter-se em questões políticas, a mulher de McCain tem tido, no entanto, activa participação cívica e social. Durante sete anos, liderou a American Voluntary Medical Team, organização não-governamental que promovia ajuda médica para países em guerra ou em situações de emergência civil, como Kuwait, Índia, Vietname, Iraque, Nicarágua, ou Bangladesh.

E foi, precisamente, do Bangladesh que Cindy trouxe Bridget, a menina (hoje com 17 anos) adoptada pelos McCain.

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MOMENTO DEFINIDOR DO FILHO DE UMA BRANCA DO KANSAS

Barack «escolheu» ser negro
quando casou com Michelle


O facto de ter casado com Michelle foi o momento mais determinante na dualidade racial que atravessou, durante anos, a vida de Barack Obama.

Filho de um negro e de uma branca, educado por avós brancos no Hawai, estudante em Harvard: o percurso do agora nomeado democrata parecia afastar-se quase em definitivo dos afro-americanos. Até que casou, em 1992, com uma negra, filha… de dois negros.

O pai de Michelle, Frasier Robinson, era supervisor de caldeiras numa estação de tratamento de águas. A mãe, Marian, só começou a trabalhar quando os dois filhos estavam crescidos.

Os primeiros anos de Michelle foram passados num meio esmagadoramente negro. O peso da questão racial só apareceu quando chegou à universidade: «Verifiquei por vezes em Princeton que, independentemente de alguns professores e colegas tentarem ser liberais ou abertos em relação a mim, me sinto uma estranha no campus, como se não fosse parte integrante dele. Independentemente das circunstâncias nas quais me relaciono em Princeton com os brancos, parece que para eles eu serei sempre, em primeiro lugar, uma negra e, só depois, uma estudante», desabafa Michelle, no livro Obama, do Desejo ao Poder, de David Mendell.

Ao contrário de Barack, que tem ascendência paterna no Quénia, os antepassados de Michelle concentram-se na Carolina do Sul, estado onde, até há poucas décadas, os negros ainda sofriam forte segregação.

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Michelle Obama ‘vs’ Cindy McCain

MICHELLE LAVAUGHN ROBINSON OBAMA
-- 44 anos; nasceu em Chicago, Illinois
-- filha de Frasier (que morreu em 1990) e Marian Robinson
-- o seu irmão Craig foi um dos melhores basquetebolistas da história da Ivy League e chegou a jogar na NBA, nos Philadelphia 76ers
-- formada em Sociologia, em Princeton, e em Direito, em Harvard
-- foi directora-adjunta do departamento de pessoal no gabinete de Richard Daley, mayor de Chicago
-- orientou o estágio de Obama na Sidley Austin, firma de advogados na qual Michelle e Barack eram os únicos negros
-- é vice-presidente da University of Chicago Hospitals
-- foi eleita pela Vanity Fair como uma das «dez pessoas mais bem vestidas no Mundo» e pela Essence como uma das «25 mulheres mais inspiradoras do Mundo»

CINDY LOU HENSLEY MCCAIN
-- 54 anos; nasceu em Phoenix, Arizona
-- filha única de James Hensley, magnata das cervejas, e de Marguerite Hensley
-- foi eleita «jovem raínha da beleza» do Arizona, em 1968
-- frequentou a Universidade de Southern California
-- dirige a Hensley & Co., uma das maiores distribuidoras de cervejas da América, que o pai fundou
-- entre 1988 e 1995, liderou a American Voluntary Medical Team
-- nos anos 90, admitiu ser dependente de analgésicos, na sequência de duas operações à coluna
-- sofreu um Acidente Vascular Cerebral, em 2004, do qual recuperou na totalidade
-- Em Outubro de 2007, anunciou que não iria contribuir com qualquer montante da sua fortuna pessoal para a campanha presidencial do marido

5 comentários:

Carlos Loureiro disse...

Felicidades na nova casa e um pedido: além dos remakes, que tal continuar a análise? Podia começar por isto:

http://jn.sapo.pt/PaginaInicial/Mundo/Interior.aspx?content_id=1044271

Cumprimentos

Germano Almeida disse...

Bem-vindo a este espaço. A ideia é mesmo essa: alternar a publicação de textos antigos com a análise do que for acontecendo.

Um abraço

maloud disse...

Ainda bem que deu o endereço na GLQL. Julgava só o reencontrar dentro de 4 anos, apesar de sermos conterrâneos :}
Hoje li uma coisa divertidíssima. Deixo aqui o link
http://www.time.com/time/nation/article/0,8599,1843168,00.html

Germano Almeida disse...

Bem-vinda ao blog. Conto com os seus comentários e eventuais críticas. Cumprimentos.

Germano Almeida disse...
Este comentário foi removido pelo autor.