domingo, 30 de novembro de 2008

Barack e Michelle em entrevista de fundo a Barbara Walters

Barbara Walters, uma das caras históricas da ABC, entrevistou Barack Obama e Michelle.

O Presidente eleito voltou a lançar expectativas realistas, numa preocupação de baixar a fasquia depois de uma campanha propensa à ilusão. Mas a chave do sucesso de Barack mantém-se em funcionamento: uma enorme capacidade de dar a resposta certa, num tom simultaneamente prudente e confiável.

Vale a pena ver (1 e 2 só Barack; 3, 4, 5 e 6 com Michelle):

1.

2.

3.

4.

5.

6.

sábado, 29 de novembro de 2008

James Jones e David Petraeus na equipa de Obama


O general David Petraeus pode ser o melhor aliado de Barack Obama para que a retirada do Iraque se faça de forma digna

São mais dois nomes quase certos a juntar-se a uma equipa de luxo em matérias de Defesa, Segurança Nacional e Política Externa:

-- James Jones, 64 anos, general na reserva desde o ano passado (após quatro décadas ao serviço dos Marines), será o Conselheiro de Segurança Nacional de Barack Obama. O cargo será, a seguir ao de secretário de Estado, o mais importante na definição das políticas que a América seguirá nos próximos quatro anos, na sua relação com o Mundo (basta recordar que Condoleeza Rice, secretária de Estado no segundo mandato de Bush filho, foi Conselheira de Segurança Nacional no primeiro mandato de W.).

Jones serviu nesta administração como enviado-especial para o Médio Oriente, em 2007, em missão destacada por Condi Rice. Tem um currículo militar impressionante: esteve no Vietname, na primeira Guerra do Golfo e, mais recentemente, foi o chefe supremo dos comandos militares americanos na Europa.

-- David Petraeus, 57 anos, general de quatro estrelas que lidera as tropas americanas no Iraque, manter-se-á no cargo de comandante do U.S. Command, em mais um sinal de continuidade dado por Obama. David foi o melhor aluno do seu curso e poderá ficar na história como o cérebro da salvação americana no Iraque, caso a surge que pôs no terreno há dois anos continue a ter bons resultados e permita uma saída minimamente digna por parte do Exército americano.

Politicamente, John McCain foi quem mais colheu os frutos de apoiar a estratégia de Petraeus. Mas uma visita de Barack Obama ao Iraque, no final do Verão, foi o início de uma relação de mútua confiança e admiração entre o general e o agora Presidente eleito.

O desfecho mais provável é a renovação de Petraeus nos cargos que ocupa nas altas esferas militares americanas.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Coisas do Sexta (IV): o velho leão e o jovem prodígio


Trabalho publicado no jornal SEXTA de 6 de Junho de 2008, dias depois de Barack Obama ter garantido a nomeação do Partido Democrata e se saber que o duelo final seria entre ele e John McCain:

O fantástico duelo entre
o velho leão e o jovem prodígio


EUA No início, parecia um combate destinado a Hillary e Giuliani. Meio ano de primárias produziu uma batalha imprevista entre Obama e McCain. Os 25 anos que os separam iludem muitos pontos em comum


Se as primárias tivessem sido feitas num só dia, a 3 de Janeiro, provavelmente os nomeados teriam sido Hillary Clinton e Rudy Giuliani. Mas este sistema tão peculiar permitiu que os dois candidatos com menor taxa de rejeição saíssem premiados.
John McCain e Barack Obama vão travar um duelo inesperado — mas muito estimulante. Separados por 25 anos, representam o triunfo de uma certa independência em relação ao mainstream.

Haveria um mundo de distinções a fazer: McCain é um herói de guerra e está no Congresso há quase três décadas; Obama é o herói anti-guerra e só chegou ao Senado há três anos. Mas, vendo bem, as semelhanças são mais fortes -- ambos têm o respeito dos eleitorados opostos e disputam os independentes.

A história improvável de McCain começa no heroísmo com que reagiu aos anos de prisão e tortura no Vietname. Mas John não romantiza a experiência: «A guerra é a pior coisa que existe. Odeio-a».

Portador de um bilhete de identidade que desafia todas as cautelas políticas, Barack Hussein Obama pede nos comícios: «Julguem-me pelo que digo e faço, não pelo meu nome esquisito». Os americanos estão a fazer-lhe a vontade.

Experiência ou ousadia?
McCain sempre pensou pela sua cabeça — mesmo quando isso poderia ter-lhe hipotecado a nomeação. Chegaram a noticiar a morte da sua candidatura, quando defendeu o reforço de tropas no Iraque. «Prefiro perder uma eleição, a bem dos interesses do meu país», explicou.

O que lhe podia ter sido trágico, foi vantajoso meses depois: a surge liderada por David Petraeus fez diminuir o número de baixas.

Carismático, inspirador, com dotes oratórios simplesmente notáveis, Obama oferece uma folha em branco, na qual é possível escrever todos os sonhos. «As pessoas sempre tiveram a tendência para dar um livre-trânsito a Barack. É diferente de qualquer outro político que eu tenha conhecido», comenta Don Solomon, antigo assessor de Obama.

Duros e resistentes
Há oito anos, McCain esteve a um passo da nomeação. Antes da Carolina do Sul, o campo de Bush preparou-lhe um golpe baixo, lançando a ideia de que John teria uma filha ilegítima. Era mentira: a «filha secreta» era Bridget, uma menina do Bangladesh que McCain adoptara.

A ratoeira funcionou e Bush ganhou. Mesmo assim, McCain apoiou a reeleição do texano e, nestas primárias, foi na Carolina do Sul que se lançou para a vitória que lhe fugira em 2000.

Quando, nesse mesmo ano, os democratas nomearam Al Gore, Obama era um jovem senador estadual que começava a dar nas vistas nos meios do poder de Chicago. Políticos amigos aconselharam-no a ir à Convenção Democrata, para «fazer contactos» e mostrar o seu brilho invulgar aos dirigentes nacionais.

Mas Barack estava mal de finanças e só se aventurou depois de conseguir arranjar um voo barato. Já em Los Angeles, ao tentar alugar um carro, o cartão de crédito não passou. Teve que voltar para trás. «Não é um período de que me orgulhe», confessa, no livro «Obama, do Desejo ao Poder», de David Mendell, jornalista do Chicago Tribune [publicado em Portugal pela Alêtheia Editores].

Quatro anos depois, Obama foi a estrela da Convenção Democrata, ao proferir um notável discurso que o catapultou para o estrelato. Em 2008, será mesmo ele o nomeado. John e Barack não desistem à primeira adversidade.

Para lá das convenções
Conhecido pelo feitio difícil, McCain responde com cara de poucos amigos: «Não fui eleito para o Senado para ganhar a faixa de Miss Simpatia...»

E o seu registo prova que é especialista em aproximar posições: concretizou, com o senador democrata Russ Feingold, uma lei sobre transparência dos financiamentos políticos e fez aprovar, com Ted Kennedy, a reforma bipartidária que prevê a amnistia para 12 milhões de imigrantes ilegais (esforço que lhe valeu antipatias no Partido Republicano).

A «retórica adocicada de Obama», de que fala George Will no Washington Post, provém da incrível junção de experiências culturais que é a sua vida: «O meu pai nasceu no Quénia e é por isso que tenho esta cor. A minha mãe era do Kansas e é por isso que tenho este sotaque do Midwest», é a piada com que começa muitos comícios, para depois falar sobre a sua meia-irmã Maya, «que mora no Havai, é parecida com a Salma Hayek e tem um marido chinês que nasceu no Canadá». Parece impossível, mas tudo isto é verdade.

Vêm aí meses animados
Pouco depois da eleição para o Senado, Obama mantinha o condão de despertar elogios. Eram cada vez mais as pessoas que queriam vê-lo concorrer à Presidência. Barack começou a pensar nisso «um pouco mais a sério». Reuniu o seu núcleo duro, pediu conselhos a políticos mais velhos. E o que parecia implausível começou a ganhar forma.

Terá havido uma frase decisiva – a de Newtin Minow. Antigo conselheiro de John Kennedy, este influente diplomata lidou de perto com os principais políticos americanos do último meio século.

Depois de ouvir, na televisão, o recém-eleito senador Obama a discursar numa angariação de fundos, em 2006, Minow telefonou a Barack, para convencê-lo a candidatar-se à Casa Branca. «Vi John Kennedy e agora vi-o a si – e não vi nada parecido pelo meio», atirou, entusiasmado. «Agora tem de avançar com isto».
Ganhe McCain ou Obama, vença o velho leão ou o jovem prodígio, é já certo que os Estados Unidos vão passar a ter um Presidente muito mais estimulante do que foi George W. Bush.

Os próximos meses vão ser animados.

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John McCain «vs» Barack Obama

JOHN SIDNEY MCCAIN III
-- 71 anos; nasceu na base militar de Coco-Solo, no Canal do Panamá, onde o seu pai (John Sidney McCain II) trabalhava

-- seguiu os passos do pai e do avô, entrando na Academia Naval; combateu no Vietname, onde foi feito prisioneiro e torturado durante cinco anos e meio

-- é senador pelo Arizona desde 1986; foi membro da Câmara dos Representantes entre 82 e 86

-- é casado, há 28 anos, com Cindy Hansley (17 anos mais nova), depois de se ter divorciado de Carol Sheep

-- tem 7 filhos: Douglas (48 anos), Andrew (46) e Sidney (42), do primeiro casamento; Meghan (24 anos), John Sidney IV (22) e James (20), da actual mulher; e ainda Bridget (17), filha adoptada, natural do Bangladesh

-- frequenta a Igreja Baptista

-- gosta de pescar, fazer churrascos e ler sobre a história americana


BARACK HUSSEIN OBAMA
-- 46 anos; nasceu em Honolulu, Havai

-- formado em Ciências Políticas, na Universidade de Columbia, e em Direito, em Harvard; foi o primeiro negro a presidir à Harvard Law Review

-- é senador pelo Illinois, desde 2005; foi senador estadual em Chicago, entre 1996 e 2004

-- é o único negro no Capitólio, o quinto a atingir o Senado em toda a história americana e o terceiro desde a Reconstrução; será o primeiro negro a obter a nomeação presidencial por um dos dois partidos dominantes do sistema americano

-- é casado com a advogada Michelle Robinson, desde 1992; tem duas filhas (Malia, de 9 anos, e Sasha, com 6)

-- o pai era queniano (Barack Obama sr.), a mãe era uma americana branca do Kansas (Ann Dunham)

-- frequenta a Igreja Unida da Trindade de Cristo

-- gosta de jogar basquete, brincar com as filhas e escrever (publicou dois best-sellers: A Audácia da Esperança e Sonhos do Meu Pai: uma História de Raça e Herança)

Robert Gates quase certo na Defesa


Robert Gates, 65 anos, actual secretário da Defesa, deverá manter-se no cargo. Ainda não há confirmação oficial, mas fontes próximas da equipa de Obama têm revelado, junto de vários órgãos americanos, essa escolha como praticamente definida.

Director da CIA durante a presidência de Bush pai, Gates é figura respeitada por democratas e republicanos. É próximo de Bush pai e foi decisivo na viragem obtida na parte final da Administração Bush filho, em relação ao Iraque. Desde que rendeu Donald Rumsfeld no cargo, a estratégia americana no Iraque passou a resultar.

Obama tem uma visão próxima da de Gates em relação ao Afeganistão: ambos concordam que é necessário assestar baterias para Cabul, pois foi lá que nasceu o tipo de terrorismo que, desde os anos 90, perseguem interesses norte-americanos.

O que difere Barack de Robert em matérias cruciais para a política de segurança externa dos EUA é o que fazer com o Iraque. Obama opôs-se à surge que Bob Gates lançou e que o general David Petraeus pôs em prática no terreno (e que o candidato John McCain sempre defendeu).

Mas também é verdade que Obama já admitiu, durante a campanha para a eleição geral, que a surge produziu bons resultados no terreno.

A transição para o realismo passa, pois, pela continuidade de Robert Gates. Será a maior prova de que a saída do Iraque nunca será feita de forma apressada ou imprudente: vai acontecer por etapas, provavelmente de quatro blocos de quatro meses cada. E será, também, a prova de que Obama prefere uma abordagem pragmática (e que historicamente é próxima de presidentes republicanos como Reagan e Bush pai) a aventuras «preventivas» (que foram a desgraça de Bush filho e, num ou noutro caso, até de Clinton).

A 'mudança', na alta política americana, é um conceito muito relativo.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Obama explica as suas escolhas

A equipa económica de Obama desenhada para fazer face à crise


Breve resumo do que se passou nestes quatro dias de paragem...

-- Obama confirmou Timothy Geithner para secretário do Tesouro. O sucessor de Hank Paulson tem 47 anos e é presidente da Reserva Federal de Nova Iorque

-- Bill Richardson, 61 anos, governador do Novo México, quarto classificado nas primárias do Partido Democrata em 2008, será o secretário do Comércio. Obama acabou por premiar o apoio que Richardson lhe deu nas primárias (preferiu-o a Hillary, revelando-se muito importante na conquista de Barack junto dos votos latinos), pelo que a indicação de Penny Pritzker acabou por não se confirmar. Pritzker será, no entanto, uma aliada importante desta administração

-- A equipa económica da futura Administração contará também com Larry Summers, 54 anos, secretário do Tesouro na segunda metade do segundo mandato de Bill Clinton. Desta vez, Summers (formado em Harvard e no MIT) será o conselheiro máximo do conjunto de peritos que ajudarão Timothy Geithner

-- Paul Volcker, 81 anos, presidente da Reserva Federal durante os anos Reagan, presidirá ao Conselho de Recuperação Económica, criado por Barack Obama para fazer face à crise

-- Christina Romer, 50 anos, professora na Universidade de Berkeley, especialista respeitada por democratas e republicanos, será a chefe dos conselheiros económicos da Casa Branca

-- Reforça-se, por isso, a marca dos anos Clinton nos sectores chave da futura Administração Obama

sábado, 22 de novembro de 2008

Até já

Por motivos profissionais, só poderei voltar a actualizar este blogue na próxima quinta-feira.

Nesta breve paragem de quatro dias, deixo, para quem se quiser entreter, o trabalho que foi publicado no SEXTA antes das eleições que deram o triunfo a Obama.

Até já, então.

Coisas do Sexta (III): Duas visões para reerguer a América


Publicado no jornal SEXTA de 31 de Outubro de 2008, quatro dias antes da grande eleição:

Duas visões para
reerguer a América


ELEIÇÕES Vem aí um novo Kennedy ou um novo Reagan? Obama e McCain querem recuperar a «nação indispensável». Ou não apontassem eles o mesmo Presidente ideal -- Lincoln, aquele que aboliu a escravatura

Há duas imagens, quase iguais, estampadas em t-shirts que são distribuídas em comícios, que simbolizam o que está em jogo nestas eleições presidenciais nos Estados Unidos. Ambas exibem o rosto de cada um dos candidatos, pintado em tons de vermelho e azul, as duas cores que preenchem o imaginário americano. Com uma pequena, mas significativa, diferença: a t-shirt de Obama diz «Hope», a de McCain diz «Hero».

No fundo, no fundo, é isto o que ainda faz oscilar milhões de eleitores: no jovem senador do Illinois, primeiro negro a obter a nomeação por um dos dois partidos do sistema, vêem a esperança; no experiente senador do Arizona, veterano da guerra do Vietname, vêem a personificação do herói patriota.

Em duelo estão duas grandes histórias americanas. Muito diferentes nos pormenores, nos percursos e, claro, na idade. Mas, à sua maneira, as narrativas que Barack e John têm transmitido, ao longo destes quase dois anos de campanha permanente, recolhem a simpatia e o respeito da esmagadora maioria dos americanos.

É comum afirmar-se, em cada corrida à Casa Branca, que «estas serão as eleições mais importantes de sempre». Isso já se dizia em 2004, por exemplo. Mas há um conjunto de circunstâncias que fazem desta eleição de 2008 um momento realmente histórico: além da singularidade dos nomeados, está em jogo a capacidade dos democratas -- que nos últimos 44 anos só venceram três eleições -- conseguirem aproveitar o desastre dos anos Bush para voltarem a eleger um Presidente.

OS NOVOS TEMPOS DIFÍCEIS
E quando todos pensavam que em disputa estavam duas visões do que deve ser a América, lideradas por dois candidatos que se lançaram para a nomeação depois de caminhadas fantásticas, em que foram capazes de ultrapassar os favoritos (Hillary Clinton do lado democrata, Rudi Giuliani e Mitt Romney nos republicanos), eis que regressa, e em força, a «Economia, estúpido».

Os próximos anos vão ser duros. Podem vir aí «os novos tempos difíceis», como apontou a capa da Time, no início de Outubro. Quem vier a tomar posse a 20 de Janeiro de 2009, herdará uma situação cuja gravidade ainda não está totalmente avaliada. Mas Obama e McCain já provaram que são capazes de vencer as mais inesperadas batalhas. Um dos dois será o 44.º Presidente dos Estados Unidos da América.

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BARACK OBAMA
Uma história americana


Pode passar, em quatro anos, de mero desconhecido a titular do cargo político mais influente do Mundo. O país que elegeu, por duas vezes, George W. Bush é o mesmo que exibe, agora, esta impressionante capacidade regeneradora.
Orador brilhante, alia a profundidade intelectual, própria de quem se formou em Harvard, com um lado humano que lhe permite chegar ao americano comum.
Da mãe, uma americana branca do Kansas, herdou o idealismo e a bondade. Do pai, Barack Obama sr., queniano que ganhou uma bolsa para estudar nos Estados Unidos, guardou a máxima que lhe tem ajudado na sua fantástica ascensão política: «A confiança é a qualidade mais importante para o sucesso».

PORQUÊ ELE?
Porque Barack agarrou os temas do futuro. «É difícil ver o que possa impedir Obama de ser o próximo Presidente. Ele construiu em seu redor uma expectativa e uma excitação que só têm paralelo com Kennedy, em 1960», observa o inglês William Rees-Mogg. Este histórico colunista do The Times acrescenta: «Ele oferece uma nova geração de ideias que atrai uma nova geração de eleitores. Os americanos não querem voltar aos anos 90, muito menos às décadas de 70 ou 80. Obama é o candidato do século XXI».

O QUE O TORNA ESPECIAL
A eloquência.
«É o melhor orador político desde Mario Cuomo. Melhor que Bill Clinton. Melhor que Reagan. É brilhante, de uma eloquência empolgante. Talvez só comparável a Martin Luther King», aponta Michael O’Hanlon, investigador do Council on Foreign Relations e antigo conselheiro da campanha de Hillary Clinton.
David Brooks, colunista no New York Times, reforça: «Durante muitos anos, pensámos que não seria possível falar melhor que Clinton. Mas Barack consegue ser mais brilhante do que Bill na arte de conquistar multidões em comícios. Nesse plano, é imbatível».

UM MOMENTO DEFINIDOR
A vitória no Iowa.
Antes das primárias, o fenómeno Obama continuava por legitimar. O estado de graça do senador negro já durava há mais de três anos, desde o discurso na Convenção Democrata de 2004, mas pairava uma certa ideia, mesmo que não verbalizada, de… ‘isto não vai poder acontecer’. Ao arrebatar, folgadamente, um estado do Midwest, com 97 por cento de eleitores brancos, Barack provou que podia mesmo lá chegar. A partir desse momento, tudo mudou.

TRÊS TRAÇOS MARCANTES
O espírito inovador.
Mesmo que falhe a eleição, Barack já mudou para sempre a forma de fazer campanhas. Partiu do nada e criou uma base de apoio que veio de baixo, das pequenas contribuições. Usou a internet como melhor fonte de financiamento, batendo recordes de angariação de fundos.
Um impressionante auto-controlo. Na polémica dos sermões de Jeremiah Wright (pastor que o casou e foi seu guia espiritual durante anos), Obama respondeu com serenidade e ponderação às frases inflamadas que apelavam a ressentimentos raciais. O discurso que proferiu em Março, quando se demarcou do reverendo, terá sido o melhor da sua carreira política e só assim pôde escapar ileso a um escândalo que poderia ter-lhe comprometido a nomeação.
A capacidade de desmontar rótulos. O facto de ser negro nunca o forçou a assumir-se como «candidato étnico». Isso revelou-se decisivo: a abrangência da sua mensagem permitiu-lhe atingir os mais diversos segmentos. E tornou-o «presidenciável».

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JOHN MCCAIN
Destinado a servir


A sua vida tem sido um permanente combate. Como qualquer lutador, já ganhou e já perdeu. Curiosamente, foi a forma como soube reagir às derrotas que construiu a sua história de coragem e independência – primeiro na guerra, depois na política.
Tem 72 anos, mas faz parte de uma linhagem que parece não envelhecer com o tempo. A sua mãe, Roberta McCain, vai com 96 anos e era vê-la na Convenção Republicana, rija e sorridente. John McCain não é George W. Bush. É incomparavelmente mais culto e aberto à diversidade. Mas será que isso vai bastar para poder escapar aos estilhaços de uma herança maldita?

PORQUÊ ELE?
Porque John é o único republicano capaz de sobreviver ao desastre de Bush. «McCain pode disputar os independentes com Obama e tem o respeito de um enorme leque de democratas», explica Dan Balz, no Washington Post. William Rees-Mogg traça-lhe o caldo de virtudes: «McCain tem as qualidades essenciais para um Presidente. É inteligente, culto, corajoso, humano e experiente. E será o candidato que melhor conhece a guerra por dentro, desde o Presidente Eisenhower».

O QUE O TORNA ESPECIAL
A coragem.
«Os americanos gostam de histórias improváveis e deixem-me que vos diga: a vida de John é uma história e pêras», comenta Bill Bennett, secretário da Educação durante a Administração Reagan.
«É um rebelde, no melhor sentido da palavra. A sua fama de maverick não é só propaganda: consultem o registo de John em mais de 20 anos no Senado e perceberão que esteve quase sempre do lado certo, mesmo quando o Partido Republicano não o acompanhou», elogia Rudy Giuliani, antigo rival nas primárias e amigo pessoal de McCain.

UM MOMENTO DEFINIDOR
O triunfo na Carolina do Sul.
McCain lançou-se para a nomeação no mesmo estado que o travara, há oito anos. John começara as primárias com o libelo do Iraque, mas a vitória no New Hampshire deu-lhe alento. Dizia-se que na Carolina do Sul, em sistema fechado (só eleitores republicanos a votar), John não teria hipóteses perante Romney e Huckabee, colados à ala conservadora. Mas o senador conseguiu a reconciliação com as bases, obtendo um triunfo que o lançou para uma nomeação que, semanas antes, parecia impossível.

TRÊS TRAÇOS MARCANTES
A independência.
Já depois de ter obtido a nomeação, continuou a dizer que Guantánamo é «uma vergonha para a América» e teceu duras críticas à política energética da Administração Bush.
A capacidade de arriscar. Quando Obama começava a descolar, os estrategas de McCain pediam um golpe de asa que mudasse dramaticamente a corrida. John jogou forte e lançou Sarah Palin, um tiro no desconhecido. Só se tinham visto uma vez.
Uma resistência de aço. Aos 72 anos, pretende iniciar um ciclo que pode durar até 2017. Mas a idade não tem sido um tema central. John irradia robustez, num corpo marcado pela tortura e pelo cancro da pele, que o atacou quatro vezes. Quando Katie Couric, na CBS, lhe perguntou se não temia que a desvantagem já fosse impossível de recuperar, McCain explicou: «Katie, estive na guerra, fui torturado, vi companheiros a morrer à minha frente. Não é uma derrota numa campanha política que me fará perder uma boa noite de sono».

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O que eles
têm em comum


-- Abraham Lincoln é o Presidente que mais admiram na história americana (em segundo lugar está, para McCain, Ronald Reagan e, para Obama, John Kennedy)

-- defendem o reforço das fronteiras, mas são a favor da legalização dos imigrantes clandestinos que já residam nos EUA

-- pretendem encerrar a prisão de Guantánamo

-- condenam a «ganância» dos especuladores de Wall Street e prometem proteger as «vítimas de Main Street»

-- admitem atacar o Irão, se o projecto nuclear de Ahmadinejad for concretizado


O que
os separa


-- Obama pretende aumentar os impostos sobre os contribuintes que ganhem mais de 250 mil dólares/ano e quer agravar a carga fiscal das petrolíferas; McCain aposta numa redução geral da carga fiscal e promete respeitar o corte aprovado durante os anos Bush

-- as maiores reduções fiscais no plano de Obama são para a classe média, os mais pobres e os idosos; o programa de McCain beneficia, sobretudo, as empresas (já depois da crise financeira, o republicano apresentou um pacote de ajuda imediata aos contribuintes americanos)

-- McCain apoiou a guerra do Iraque desde o início (esteve contra a estratégia de Donald Rumsfeld, mas foi o maior defensor da surge, aplicada pelo general David Petraeus); Obama insurgiu-se contra a intervenção militar em 2002, ainda antes da guerra

-- Obama promete rever o Patriot Act, por considerar que viola direitos fundamentais; McCain é a favor da lei de segurança nacional feita após o 11 de Setembro, mesmo que implique o acesso a conversas privadas, sem mandado judicial

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Sabia que…

-- John McCain pode tornar-se, aos 72 anos, o mais velho Presidente da história dos EUA?
Pode vir a ser o primeiro octogenário a liderar a América (no último dia do segundo mandato, a 20 de Janeiro de 2017, terá 80 anos). Ronald Reagan tinha 73 quando foi reeleito, mas era mais novo do que McCain quando tomou posse pela primeira vez

-- Barack Obama pode vir a ser, aos 47 anos, o quarto Presidente mais jovem da história dos EUA?
Só Theodore Roosevelt (42 anos), John Kennedy (43) e Bill Clinton (46) eram mais novos quando tomaram posse -- embora Theodore Roosevelt tenha sido Presidente aos 42 anos, não por eleição directa, mas por força do assassinato de William McKinley

-- Obama pode vir a ser o primeiro democrata que não vem de um estado do Sul a chegar à Casa Branca nos últimos 48 anos?
John Kennedy, que representava o Massachussets, foi o último a consegui-lo. Lyndon Johnson (Texas), Jimmy Carter (Geórgia) e Bill Clinton (Arkansas), os três únicos democratas a conquistar a Presidência depois de JFK, eram sulistas

-- Ronald Reagan, na sua reeleição, em 1984, ganhou 48 dos 50 estados em concurso?
Walter Mondale, o nomeado democrata, só conseguiu obter 13 dos 538 Grandes Eleitores, arrecadando apenas o Minnesota e District of Columbia.

-- o duelo de 2000, entre George W. Bush e Al Gore, foi o mais disputado do último século?
O Colégio Eleitoral foi dividido quase ao meio: Bush obteve 271 Grandes Eleitores, Gore 267, apesar de o democrata ter ganho o sufrágio popular, por cerca de 500 mil votos. Se Al Gore tivesse vencido no seu estado natal, o Tennessee, a dramática recontagem da Florida, travada pelos juízes do Supremo, não teria sido decisiva para a vitória de Bush

-- além de Al Gore, houve mais três candidatos que ganharam o voto popular, mas não foram eleitos?
Em 1824, John Quincy Adams teve menos 38 mil votos que Andrew Jackson, mas foi eleito; em 1876, Samuel Tilden teve mais 264 mil votos do que Rutherford Hayes, mas Hayes ganhou o Colégio Eleitoral por um voto; em 1888, Benjamin Harrison perdeu a votação popular por 96 mil votos para Grover Cleveland, mas ganhou o Colégio por 65 Grandes Eleitores.

-- há quatro anos, apesar de Bush ter tido mais três milhões de votos do que Kerry, bastaria ao democrata mais 118 mil votos no Ohio para ser eleito?
Foi quase o reverso da medalha do que acontecera em 2000. Em 2004, Bush venceu o voto popular de forma inequívoca, mas esteve perto de perder o Colégio Eleitoral, segurando os 20 Grandes Eleitores do Ohio por uma unha negra

-- Obama ou McCain vão quebrar um jejum de 48 anos em relação aos senadores?
John Kennedy, em 1960, foi o último senador a atingir a Casa Branca. Desde aí, os americanos têm preferido eleger governadores de estado (Jimmy Carter, Ronald Reagan, Bill Clinton, George Bush filho), ou Presidentes e vice-presidentes em exercício (Lyndon Johnson, Richard Nixon, George Bush pai). Mas, em 2008, é já certo que voltará a ser um senador

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O apoio de Powell
a Barack Obama


Se fosse possível medir a importância dos apoios, a declaração mais influente talvez fosse a de Colin Powell.

Chefe militar na primeira Guerra do Golfo, secretário de Estado no primeiro mandato de George W. Bush, Powell é um republicano moderado.

Foi o primeiro negro a chefiar a diplomacia americana e muitos acreditam que até poderia ter-se antecipado a Barack Obama como primeiro negro a ter hipóteses reais de ser Presidente – mas preferiu não concorrer, em 2000. Após o episódio do Iraque, Powell foi assumindo uma distância crítica em relação aos anos Bush.

O que disse o culto general na hora de declarar preferência? «Conheço bem os dois candidatos e, sinceramente, creio que os dois seriam bons Presidentes. Sou amigo de John há 25 anos. Nos últimos dois anos, fiquei a conhecer bem o senador Obama. Vi com desagrado a insistência da campanha de McCain em todo esse lixo à volta de Bill Ayers. E creio que Sarah Palin não está preparada para ser Presidente, uma das funções previstas para um vice-presidente. Obama tem estilo e substância. É um candidato de enorme dimensão intelectual, que tem mostrado firmeza e lucidez. Por tudo isto, o senador Obama é a minha escolha».

Obama quer relançamento do emprego

Uma das prioridades do início do mandato é atacar a crise com a criação de emprego. Na mensagem semanal, via YouTube, Barack Obama anunciou a intenção de aprovar um plano de criação de 2,5 milhões de novos empregos, cujos contornos estão ainda a ser estudados pelos seus conselheiros económicos:

Timothy Geithner no Departamento do Tesouro


Timothy Geithner, 47 anos, actual presidente da Reserva Federal de Nova Iorque, é o provável secretário do Tesouro da Administração Obama.

A escolha já estará feita e tudo indica que será anunciada na segunda-feira. Geithner terá uma das missões mais delicadas do próximo mandato: aplicar o bailout plan de 700 mil milhões de dólares, estancar a queda dos mercados e restaurar a confiança da economia americana.

Pormenor interessante: Tim é judeu, tal como Rahm Emanuel. Obama, que desperta algumas reservas em sectores judaicos (que temem que Barack venha a ser demasiado macio na conversa com o Hamas, os palestinianos e, sobretudo, o Irão), está a saber rodear-se de trunfos fortes para quebrar essa desconfiança em tão importante fatia de apoio dos democratas.

Espírito conciliador, está visto.

Confirma-se: é mesmo ela


Clinton Decides to Accept Post at State Dept., Confidants Say
«WASHINGTON — Hillary Rodham Clinton has decided to give up her Senate seat and accept the position of secretary of state, making her the public face around the world for the administration of the man who beat her for the Democratic presidential nomination, two confidants said Friday.»
Peter Baker, in New York Times

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Hillary vai acabar por aceitar


Obama já escolheu Hillary para chefiar a diplomacia, ela quer aceitar, mas as ligações de Bill Clinton a financiamentos vindos do Médio Oriente estão a complicar a resposta

Não é ainda uma certeza, mas é um dado muito, muito provável: Hillary Clinton, apesar da demora, vai acabar por aceitar o cargo de secretária de Estado.

É a grande questão da transição para o poder, que Barack Obama tem vindo a conduzir de forma calibrada e muito sensata. A aposta em Hillary para chefiar a diplomacia denota a vontade de estender a mão aos Clinton; mostra que Barack quer seguir os passos do seu modelo de Presidente (Lincoln, que também escolheu para secretário de Estado o seu rival nas primárias); e demonstra, ainda, o lado reconciliador que Obama apregoou na campanha e que pretende, de facto, imprimir na governação.

Do lado de Hillary, aceitar também é a melhor opção. Prova que não guardou ressentimentos depois de tão renhida disputa nas primárias (como já fez notar no comportamento exemplar que teve na campanha para a eleição geral) e garante-lhe a manutenção num posto de topo na política americana e mundial (a que se habituou desde que, no início da Administração Bill Clinton, tentou, sem sucesso, reformar o Medicare e o Medicaid).

Não é certo que mantenha essa intenção, mas se Hillary continuar a sonhar com a presidência (só em 2016, admitindo como óbvio que Obama é o candidato democrata em 2012), ser secretária de Estado dos anos Obama será a melhor plataforma para se posicionar como nomeada democrata para daqui a oito anos.

Dito tudo isto, então por que é que ela ainda não aceitou? Basicamente, porque há sectores próximos de Obama que têm dúvidas sobre algumas fontes de financiamento da Clinton Global Initiative. Fala-se, em surdina, de demasiado dinheiro vindo de países do Golfo, cuja proveniência pode vir a ser desconfortável para a futura chefe da diplomacia americana.

Mas convém recordar que Bill e Hillary não são a mesma coisa (como a campanha para as primárias bem mostrou...) e tudo indica que estas reservas não serão impeditivas.

Certo, certo é que Obama tem pressa em que esta questão se decida: uma das pastas em que a nova Administração tem que começar a trabalhar ainda antes de 20 de Janeiro são as Relações Externas.

Uma nota para fechar: Hillary é a escolha óbvia para o Departamento de Estado, até porque dos quatro postos chave da Administração (Secretário de Estado; Tesouro; Defesa e Justiça), só na diplomacia será possível haver uma mulher. Para a Defesa, o lugar está destinado a Bob Gates; no Tesouro será certamente um homem (muito provavelmente, Tim Geithner); na Justiça, é já certo que o procurador-geral é Eric Holder.

Logo, na diplomacia tem que entrar uma mulher.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Penny Pritzker no Comércio, Janet Napolitano na Segurança Interna


Penny Pritzker, 48 anos, será secretária do Comércio

Já há mais dois nomes escolhidos para a Administração Obama. E são duas mulheres:

Janet Napolitano, 51 anos, governadora do Arizona, será a secretária da Segurança Interna. Penny Pritzker, 48 anos, empresária de sucesso, da família Prizker (detentores de uma maiores fortunas de Chicago), será a secretária do Comércio.

São duas escolhas esperadas, que reforçam a ideia de que Barack está a virar-se, agora, para as pessoas que mais o apoiaram.

Penny foi uma das maiores financiadoras de Obama, desde a sua eleição para o Senado. Na corrida presidencial, dirigiu uma das mais bem-sucedidas campanhas de angariação de fundos da história.

Janet tem sido uma das principais conselheiras de segurança interna de Obama e, como governadora do Arizona, teve tanta influência na campanha de Barack que o estado que John McCain representa no Senado há 22 anos chegou a estar em perigo para os republicanos.

Com estas escolhas, o número de mulheres na futura Administração aumenta, diminuindo as hipóteses de Kathleen Sebelius (governadora do Kansas, que esteve na shortlist para a vice-presidência) vir a ser escolhida para a pasta da Educação.

Quanto a Hillary Clinton, mantém-se como provável secretária de Estado, mas a confirmação demora a aparecer. No próximo post, explicarei porquê...

Tom Daschle na Saúde


Tom Daschle, 60 anos, ex-líder dos democratas no Senado, será o secretário da Saúde e dos Serviços Sociais na Administração Obama, sucedendo no cargo a Mike Leavitt.

Depois de escolhas muito ligadas aos anos Clinton (Eric Holder, Rahm Emanuel, Hillary Clinton, mesmo Joe Biden), Barack Obama começa a chamar figuras que foram centrais na sua campanha vitoriosa.

Daschle é uma espécie de padrinho de Barack no Senado. Quando Tom estava de saída do Capitólio, em 2004 (após ter perdido a corrida para a reeleição como senador pelo Dakota do Sul para o republicano John Thune), Barack estava a chegar ao Senado.

Em vez de voltar ao Dakota do Sul, Daschle começou logo a ser um dos cérebros da caminhada de Obama para a Casa Branca -- terá sido ele, aliás, um dos três conselheiros próximos de Barack a convencê-lo a avançar para uma candidatura presidencial já em 2008 (numa primeira fase, ainda no início de 2005, Obama achava que seria melhor esperar quatro ou oito anos). «Quanto mais cedo melhor», disse Tom a Barack. «A tua mensagem é de esperança, novidade, renovação. Se avançares daqui a uns anos, já serás visto como um tipo do sistema, de Washington, que teve que votar com a corrente. Tens que avançar já».

Barack seguiu-lhe o conselho e Daschle foi, nesta histórica caminhada de dois anos de campanha, um dos homens da confiança do super-candidato (mais próximo só talvez David Axelrod, o fiel escudeiro de Barack, chefe da equipa de estratégia).

A recompensa aqui está: o homem que terá a pasta da reforma do Serviço Nacional de Saúde é mesmo Tom Daschle.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

A nova vida de Obama não terá só vantagens

... sobretudo porque ser o primeiro Presidente negro gera enormes receios aos Serviços Secretos. Vejam:

Mitt Romney para 2012?

Foi o principal opositor de John McCain nas primárias republicanas - e não fossem os apoios de Rudy Giuliani e Fred Thompson, logo após desistirem, a McCain, o mais provável era mesmo que o nomeado fosse Mitt Romney (aqui a criticar a possibilidade de a Administração Obama vir a accionar um bailout plan para salvar a indústria automóvel).



Num Partido Republicano feito em cacos após a derrota arrasadora de 4 de Novembro (não foi só a perda da Casa Branca, foram, também, as derrotas no Senado e na Câmara dos Representantes), há quem veja em Romney uma hipótese para a corrida de 2012.

Seria, no mínimo, uma solução menos dramática do que um tiro no escuro em Sarah Palin, que já se começou a posicionar como herdeira da ala conservadora.

Mas pode haver novos nomes a ter em conta, de figuras com mais capacidade de liderar a conversão do GOP (Grand Old Party) num partido que consiga atrair algumas das minorias que, em conjunto, deram uma larga maioria a Obama.

O jovem governador da Luisiana, Bobby Jindal, de origem indiana, de apenas 37 anos, é um nome a seguir com atenção, tal como o governador do Minnesota, Tim Pawlenty , 47 anos(que, de acordo com fontes da campanha de McCain, teria sido a escolha imediatamente a seguir a Sarah Palin para vice-presidente do ticket republicano)

Mas o Partido Republicano tem seguido uma lógica que, em princípio, beneficiará Mitt Romney. É que quem fica em segundo nas primárias tem fortes hipóteses de vencer quando o antecessor sai de cena: foi assim com Ronald Reagan (perdeu para Nixon em 1968 e para Ford em 1976, foi nomeado em 1980); foi assim com George Bush pai (perdeu em 80 para Reagan, foi o nomeado em 88); foi assim com Bob Dole (perdeu para Bush pai em 1988, foi nomeado em 96); foi assim com John McCain (perdeu para Bush filho em 2000, foi nomeado em 2008).

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Eric Holder provável procurador-geral


Eric Holder, 57 anos, antigo procurador-geral-adjunto durante a Administração Clinton, é o mais provável futuro procurador-geral dos EUA.

A confirmar-se esta nomeação, é uma escolha esperada, dado que Holder foi um dos principais conselheiros para o sector da Justiça na campanha de Obama. E tem, implicitamente, uma mensagem muito positiva: é que ao contrário do que se chegou a temer, Barack não vai evitar escolher afro-americanos para a sua Administração.

Eric Holder está, então, a um passo de se tornar o primeiro negro a ocupar a pasta da Justiça. Mais uma barreira quebrada e que muito honrará a herança de Robert F. Kennedy, procurador-geral na Administração JFK e que ainda hoje dá o nome ao edifício federal onde se situa a sede do Departamento de Justiça.

Coisas do Sexta (II): «Golden Boy» na Casa Branca


Trabalho publicado no jornal Sexta de 7 de Novembro:

O «golden boy» já está
a caminho da Casa Branca


ELEIÇÕES Barack Obama culminou a sua improvável jornada com um triunfo histórico sobre John McCain. A América está rendida ao seu primeiro Presidente negro – falta saber quanto vai durar este estado de graça

A América voltou a provar que é a terra onde todos os sonhos são possíveis. Barack Hussein Obama, filho de um queniano e de uma americana branca, é o novo Presidente do país mais poderoso do planeta.

Bill Clinton costuma dizer que a corrida presidencial nos Estados Unidos é «a mais longa entrevista de emprego do Mundo e a decisão pertence a quem vota». Na última terça-feira, os eleitores americanos decidiram contratar, pela primeira vez, um negro.

A alusão a Clinton não é casual: Bill foi o último Presidente democrata e lançou, na década de 90, a América para oito anos de crescimento económico. Depois de dois mandatos de George W. Bush, a herança é tremenda: será Obama capaz de recolocar os EUA na rota da prosperidade?

Barack conquistou os americanos com um caldo de dotes retóricos invulgares, uma história de vida empolgante e uma enorme intuição para captar os anseios de uma América em crise de identidade.

Aquilo que o poderia comprometer (ser negro, ter um nome incrivelmente parecido com um muçulmano e ter só 47 anos) acabou por ser a chave do seu sucesso – ele foi a prova de que os americanos, nos momentos definidores, percebem o que é realmente importante. A questão é: será que Obama vai conseguir fugir ao fantasma da decepção?

ESBOÇOS DA NOVA ADMINISTRAÇÃO
As próximas semanas vão ser estranhas. As atenções estarão depositadas no Presidente eleito, mas Bush vai estar na Casa Branca até 20 de Janeiro de 2009.

Nos próximos 74 dias, Barack completará o seu núcleo duro. E já há nomes que se perfilam para a futura Administração Obama: para secretário de Estado, Colin Powell daria enorme solidez. Hillary Clinton, que teve comportamento exemplar após ter perdido as primárias, é outra escolha a ter em conta.

Para o Departamento do Tesouro, ministério que porá em prática o bailout plan, é provável a nomeação de Timothy Geithner, presidente da Reserva Federal de Nova Iorque.

A governadora do Kansas, Kathleen Sebelius, e o governador da Virgínia, Tim Kaine (que estiveram na shortlist para a vice-presidência) são possibilidades para a Educação e a Justiça.

Obama vai convidar pelo menos um republicano para um posto de alta responsabilidade. Os senadores Chuck Hagel e Dick Lugar são os principais candidatos.

TRANSIÇÃO PARA O REALISMO
No plano internacional, há três enormes focos de tensão: o Afeganistão, o Iraque e o Irão. E um dos trunfos que Barack poderá estar a guardar para concretizar a transição para o realismo será a continuidade de Robert Gates na Defesa.

Director da CIA durante a presidência de Bush pai, Gates é figura respeitada. Desde que rendeu Rumsfeld, a estratégia americana no Iraque passou a resultar.

O golden boy já está a caminho da Casa Branca. O sonho americano voltou a cumprir-se, mas, depois de uma inesquecível maratona eleitoral, as vitórias vão deixar de ser medidas pelos votos. A partir de agora, a dureza da realidade será o barómetro.

Será mesmo ele o salvador de uma América em queda? Talvez a resposta surja daqui a quatro anos, quando a voz soberana do povo voltar a fazer-se ouvir.

RESULTADOS FINAIS

COLÉGIO ELEITORAL
Obama/Biden 364 Grandes Eleitores
McCain/Palin 174 Grandes Eleitores

29 estados ganhos por Barack Obama
22 estados ganhos por John McCain

A ROTA QUE LEVOU OBAMA À CASA BRANCA
-- Segurou os 252 Grandes Eleitores ganhos por John Kerry, em 2004, e arrebatou nove estados aos republicanos: Florida, Ohio, Carolina do Norte, Virgínia, Indiana, Colorado, Iowa, Novo México e Nevada

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HOUVE REFERENDOS EM 33 ESTADOS
Vota-se para (quase) tudo na América


Quando pensamos em eleições nos Estados Unidos lembramo-nos logo do duelo presidencial. Mas o processo eleitoral é muito mais complicado do que escolher apenas entre um democrata e um republicano.

Na verdade, não se pode falar em apenas um acto eleitoral na América. Os estados têm o poder de formular os boletins de voto como entenderem e, este ano, 33 deles optaram por realizar referendos locais, sobre os mais diversos temas: desde questões morais como o aborto e a investigação com células estaminais, a temas como a droga, o casamento dos homossexuais, a adopção de crianças por casais gay ou o suicídio.

No Arizona, na Califórnia e na Florida, foram aprovadas propostas que visam impedir a aplicação de leis estaduais que legalizem o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
No Michigan, os eleitores aprovaram a legalização da marijuana para efeitos médicos (passou a ser o 13.º estado norte-americano a fazê-lo).

Os habitantes do Massachussets disseram sim a uma proposta que reduz substancialmente as penas para pessoas condenadas por posse de marijuana.

No estado de Washington, foi votada uma proposta que permite a doentes terminais, a quem tenha sido dado um prognóstico de seis meses ou menos de vida, o acesso a medicação letal, desde que prescrita por um médico.

Uma proposta para tornar legal a contratação de um imigrante clandestino foi rejeitada pelos eleitores do Arizona. A investigação de células estaminais recebeu o sim dos eleitores do Michigan.

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CANDIDATOS DE TODAS AS CORES
Não ouviu falar neles, pois não?


Quase não se ouviu falar neles, mas houve mais 11 candidatos à Casa Branca. O mais conhecido era Ralph Nader, advogado de 74 anos. Bob Barr concorreu pelo Partido Libertário. E até havia mulher negra: Cynthia McKinney, do Partido Ecologista.

Havia ainda dois pastores evangelistas (o constitucionalista Chuck Baldwin e o proibicionista Gene Amondson), um empresário do boxe (Charles Jay, personalista), um jornalista (Roger Calero, socialista trabalhista), activistas de esquerda (Gloria LaRiva e Brian Moore), um gestor reformista (Ted Weill) e um negro dissidente do Partido Republicano (Alan Keyes).

A forma como o sistema político está organizado leva a uma bipolarização que torna os terceiros candidatos praticamente invisíveis. A corrida de 2008 acentuou esta tendência e as consequências estão à vista: Obama e McCain somaram perto de 99 por cento dos votos.

Mas nem sempre foi assim: há oito anos, os 2,7 por cento de Ralph Nader terão comprometido a eleição a Al Gore. Em 1992, os 19 por cento de Ross Perot fracturaram o voto conservador, abrindo caminho à eleição de Bill Clinton.

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DEMOCRATA QUEBRA BARREIRA
Maioria absoluta
32 anos depois


Barack Obama foi o primeiro democrata a obter a maioria absoluta do voto popular nos últimos 32 anos. Bill Clinton foi eleito duas vezes sem nunca ter ultrapassado a fasquia dos 50 por cento e Jimmy Cárter apenas atingiu 50,1%, em 1976.

O histórico triunfo de Obama baseou-se numa coligação de votações esmagadoras em segmentos que, até agora, ainda não se tinham juntado: 96 por cento dos negros, 68 por cento dos latinos, 66 por cento dos jovens, 56 por cento das mulheres. McCain venceu no eleitorado branco tradicional, mas por uma curta diferença: 54/46.

O novo Presidente vai governar com uma sólida maioria democrata no Congresso. Na última terça-feira, os eleitores elegeram os 435 membros da Câmara dos Representantes e um terço dos senadores. O Partido Democrata reforçou a vantagem na câmara baixa, e, sobretudo, no Senado (que passou agora a ter 57 democratas).

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A participação nas
últimas dez eleições


2008 – 148 milhões
Obama 52.5%-McCain 46%

2004 – 122 milhões
Bush 50.7%-Kerry 48.3%

2000 – 105 milhões
Bush 47.9-Gore 48.4%*
* (o republicano teve mais votos no Colégio Eleitoral)

1996 – 96 milhões
Clinton 49.2%-Dole 40.7%

1992 – 104 milhões
Clinton 43%-Bush 37.7%-Perot 18.9%

1988 – 91 milhões
Bush 53.4%-Dukakis 45.6%

1984 – 93 milhões
Reagan 58.8%-Mondale 40.6%

1980 – 87 milhões
Reagan 50.7%-Carter 41%

1976 – 82 milhões
Carter 50.1%-Ford 48%

1972 – 78 milhões
Nixon 60.7%-McGovern 37.5%

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

A primeira entrevista do casal presidencial ao «60 minutes»

Barack e Michelle Obama falaram a Steve Kroft, da CBS, sobre como foi a noite eleitoral e, sobretudo, sobre o futuro. Aqui vai (primeiro vê-se um resumo de um minuto, depois um anúncio de poucos segundos e logo a seguir dá para ver a entrevista toda):


Watch CBS Videos Online

domingo, 16 de novembro de 2008

Uma semana


Este blogue faz hoje uma semana, é ainda um bebé a tentar impor-se no espaço virtual.

Queria, por isso, agradecer a quem já o acompanha nestes primeiros passos, em especial aos meus colegas de blogosfera que tiveram a gentileza de o referenciar.

Obrigado, por isso, ao Culturascopio (http://culturascopio.wordpress.com), ao Ensaimada (http://ensaimada.blogspot.com), ao Blasfemias (www.blasfemias.net) e ao Sobremesa de Deus (http://sobremesadedeus.blogspot.com).

Continuamos a ver-nos por cá, então...

O Presidente 'You Tube'

Se John Kennedy foi o primeiro Presidente a ser eleito pela Televisão (ao derrotar, no debate, o cinzento Richard Nixon), Barack Obama foi o primeiro Presidente eleito pela Internet. Mais concretamente, pelo YouTube, instrumento que utilizou com mestria, durante as primárias e na campanha para a eleição geral.

Os anos Obama serão marcados por intervenção semanais do Presidente, via internet. Esta foi a primeira:

sábado, 15 de novembro de 2008

Era quase inevitável - mas é muito bem visto


Foi a primeira mulher a estar perto da nomeação por um grande partido. Obteve 18 milhões de votos e só não foi a escolhida porque lhe apareceu pelo caminho um super-candidato.

Hillary Clinton tinha (quase) tudo para voltar à Casa Branca como Presidente, chegou a pensar-se que iria, pelo menos, ser vice-presidente, mas está a um passo de ser a próxima Secretária de Estado.

Esta sexta-feira, Barack Obama e Hillary Clinton encontraram-se em Chicago e falaram sobre a possibilidade de a antiga rival de Barry nas primárias vir a chefiar a diplomacia americana.

A confirmar-se, será a terceira mulher a fazê-lo, nos últimos quatro mandatos: Madeleine Albright (1996-2000), Condoleeza Rice (2004-08), só com Colin Powell de permeio (2000-04). Para encontrarmos o último tradicional white-male como Secretário de Estado, teremos que recuar ao primeiro mandato de Bill Clinton (1992-96), com Warren Christopher. Notável.

Se Barack conseguir convencer Hillary, será um claríssimo sinal de que pretende uma transição salomónica: com muito dos anos Clinton (Hillary, Rahm Emanuel, John Podesta, possivelmente também Bill Richardson e Larry Summers); alguma coisa dos anos Bush (mais pai do que filho) (talvez Colin Powell, muito provavelmente Bob Gates) e mesmo um toque do Partido Republicano (Dick Lugar e Chuck Hagel).

Moral da história: mesmo quando «change» é a palavra mágica, os fundamentos politico-estratégicos dos Estados Unidos assentam num consenso bem mais alargado do que certos meios «intelectuais» europeus fazem crer.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Coisas do Sexta: Michelle «vs» Cindy


Inicio hoje o «remake» de alguns dos textos publicados no jornal Sexta e na Grande Loja do Queijo Limiano, sobre as eleições americanas.

Começo com um trabalho que comparou os perfis de Michelle Obama e Cindy McCain, publicado no Sexta de 18 de Julho de 2008:

Um duelo inédito
também no feminino


EUA A corrida para a Casa Branca revela traços invulgares nas candidatas a Primeira Dama. Michelle, a primeira negra, e Cindy, herdeira de uma fortuna, foram importantes na ascensão política de Obama e McCain

À imagem dos maridos, Michelle Obama e Cindy McCain representam uma certa independência em relação ao papel que estava reservado às mulheres dos candidatos à presidência dos Estados Unidos.

Michelle é mais dona do seu nariz (e isso, por vezes, leva-a a dizer coisas que inquietam os estrategas de Obama), ainda que a história de Cindy esteja longe de ser tão convencional como o rótulo, verdadeiro, de «raínha da beleza» do Arizona poderia fazer crer.

Ambas são altas e bonitas. Mas têm percursos de vida muito diferentes: Cindy nasceu num berço de ouro (o pai era um dos homens mais ricos do seu estado), Michelle é filha de um casal negro de classe operária, de uma zona difícil do South Side de Chicago.

Há, mesmo assim, um importante ponto em comum: ambas foram cruciais no arranque das carreiras dos maridos. A influência dos Hensley ajudou McCain a subir na política do Arizona; os contactos de Michelle na comunidade afro-americana revelaram-se decisivos para que Obama recolhesse apoios para chegar ao senado estadual, em Chicago.

Michelle, a pragmática
Michelle Robinson, advogada, 44 anos, é muito mais do que a esposa de Obama: ela tem sido a principal conselheira na impressionante ascensão política de Barack. Casada com um fenómeno de popularidade, Michelle assume tarefa fundamental – a de lembrar ao marido que o sucesso será sempre passageiro.

«Quando voltei a casa, após ter trabalhado numa das matérias mais relevantes desde que entrei para o Senado, Michelle nem me perguntou como as coisas tinham corrido. Disse-me logo para procurar um bom produto contra as formigas, porque a nossa cozinha estava cheia delas», contou Barack, divertido, numa entrevista a Oprah Winfrey. «Havia que resolver a questão das formigas e não era a importância do que ele tinha tratado que fazia desaparecer o problema…», replicou Michelle, enquanto franzia o sobrolho.

Esse pragmatismo da possível primeira Primeira Dama negra da história americana será o seu traço mais marcante. Mesmo que o lado de mãe protectora lhe fizesse ter uma posição desfavorável quanto a uma candidatura presidencial (Michelle tinha fortes receios de que Obama fosse vítima de um atentado), na hora da verdade percebeu o que estava em jogo -- e passou a ser uma aliada: «Se é isto o que Barack quer realmente, então Michelle apoiá-lo-á e fará o que for necessário. A relação deles sempre foi assim», profetizava Cassandra Butts, amiga do casal, nas semanas que antecederam a decisão.

E talvez também tenha sido o lado pragmático de Michelle que fez convencer Barack a avançar com o Yes, We Can, slôgane que hoje todos elogiam, mas que o senador receou ser «um pouco vago», antes de o lançar na corrida para o Senado. Foi ela quem teve a palavra decisiva.

Cindy, a executiva
Cindy Hensley, empresária, 54 anos, não é apenas a filha de um milionário das cervejas. Tal como John McCain, Cindy já venceu muitas batalhas. Ultrapassou a dependência de analgésicos, na qual caiu na sequência de terríveis dores nas costas, depois de ter sido operada por duas vezes à coluna, nos anos 90.
Quem a veja nos comícios, ao lado de John, sorridente e luminosa, não adivinha que, há quatro anos, Cindy sofreu um AVC, que lhe imobilizou uma perna e um braço. Depois de semanas de fisioterapia, recuperou totalmente.

Pouco dada a meter-se em questões políticas, a mulher de McCain tem tido, no entanto, activa participação cívica e social. Durante sete anos, liderou a American Voluntary Medical Team, organização não-governamental que promovia ajuda médica para países em guerra ou em situações de emergência civil, como Kuwait, Índia, Vietname, Iraque, Nicarágua, ou Bangladesh.

E foi, precisamente, do Bangladesh que Cindy trouxe Bridget, a menina (hoje com 17 anos) adoptada pelos McCain.

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MOMENTO DEFINIDOR DO FILHO DE UMA BRANCA DO KANSAS

Barack «escolheu» ser negro
quando casou com Michelle


O facto de ter casado com Michelle foi o momento mais determinante na dualidade racial que atravessou, durante anos, a vida de Barack Obama.

Filho de um negro e de uma branca, educado por avós brancos no Hawai, estudante em Harvard: o percurso do agora nomeado democrata parecia afastar-se quase em definitivo dos afro-americanos. Até que casou, em 1992, com uma negra, filha… de dois negros.

O pai de Michelle, Frasier Robinson, era supervisor de caldeiras numa estação de tratamento de águas. A mãe, Marian, só começou a trabalhar quando os dois filhos estavam crescidos.

Os primeiros anos de Michelle foram passados num meio esmagadoramente negro. O peso da questão racial só apareceu quando chegou à universidade: «Verifiquei por vezes em Princeton que, independentemente de alguns professores e colegas tentarem ser liberais ou abertos em relação a mim, me sinto uma estranha no campus, como se não fosse parte integrante dele. Independentemente das circunstâncias nas quais me relaciono em Princeton com os brancos, parece que para eles eu serei sempre, em primeiro lugar, uma negra e, só depois, uma estudante», desabafa Michelle, no livro Obama, do Desejo ao Poder, de David Mendell.

Ao contrário de Barack, que tem ascendência paterna no Quénia, os antepassados de Michelle concentram-se na Carolina do Sul, estado onde, até há poucas décadas, os negros ainda sofriam forte segregação.

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Michelle Obama ‘vs’ Cindy McCain

MICHELLE LAVAUGHN ROBINSON OBAMA
-- 44 anos; nasceu em Chicago, Illinois
-- filha de Frasier (que morreu em 1990) e Marian Robinson
-- o seu irmão Craig foi um dos melhores basquetebolistas da história da Ivy League e chegou a jogar na NBA, nos Philadelphia 76ers
-- formada em Sociologia, em Princeton, e em Direito, em Harvard
-- foi directora-adjunta do departamento de pessoal no gabinete de Richard Daley, mayor de Chicago
-- orientou o estágio de Obama na Sidley Austin, firma de advogados na qual Michelle e Barack eram os únicos negros
-- é vice-presidente da University of Chicago Hospitals
-- foi eleita pela Vanity Fair como uma das «dez pessoas mais bem vestidas no Mundo» e pela Essence como uma das «25 mulheres mais inspiradoras do Mundo»

CINDY LOU HENSLEY MCCAIN
-- 54 anos; nasceu em Phoenix, Arizona
-- filha única de James Hensley, magnata das cervejas, e de Marguerite Hensley
-- foi eleita «jovem raínha da beleza» do Arizona, em 1968
-- frequentou a Universidade de Southern California
-- dirige a Hensley & Co., uma das maiores distribuidoras de cervejas da América, que o pai fundou
-- entre 1988 e 1995, liderou a American Voluntary Medical Team
-- nos anos 90, admitiu ser dependente de analgésicos, na sequência de duas operações à coluna
-- sofreu um Acidente Vascular Cerebral, em 2004, do qual recuperou na totalidade
-- Em Outubro de 2007, anunciou que não iria contribuir com qualquer montante da sua fortuna pessoal para a campanha presidencial do marido

E se for Hillary Clinton a chefiar a diplomacia?


«There's increasing chatter in political circles that the Obama camp is not overly happy with the usual suspects for secretary of state these days and that the field might be expanding somewhat beyond Sen. John Kerry (D-Mass.), Gov. Bill Richardson (D-N.M.), Sen. Chuck Hagel (R-Neb.) and maybe former Democratic senator Sam Nunn of Georgia.

There's talk, indeed, that Sen. Hillary Rodham Clinton (D-N.Y.) may now be under consideration for the post. Her office referred any questions to the Obama transition; Obama spokesman Tommy Vietor declined to comment.

The pick of the former presidential contender and Senate Armed Services Committee member would go a long way toward healing any remaining divisions within the Democratic Party after the divisive primaries. Also, Clinton has long been known for her work on international women's issues and human rights. The former first lady could also enhance Obama's efforts to restore U.S. standing amongst allies worldwide.
And Obama could put her in his speed-dial for a 3 a.m. phone call every morning».

in «Politico.com», texto de Al Kamen e Philip Rucker

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

A primeira entrevista de McCain após a derrota



Foi a Jay Leno e foi igual a si próprio: frontal, «straight talk», elevado e patriota na forma como soube respeitar o futuro Presidente, seu adversário na eleição (a exemplo do que já tinha sido no excelente discurso de concessão que fez na noite das eleições).

E até deu para brincar, ao responder o que fez nesta semana após as eleições: «I've been sleeping like a baby... Sleep two hours and cry, sleep two hours and cry...»

65% dos americanos acreditam que vão estar melhor daqui a quatro anos



.. é a maior taxa de expectativa antes do início de um mandato presidencial dos últimos 16 anos. Obama gera mais esperanças do que gerou Bush, em 2000, e até do que Clinton, em 1992.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

O homem finalmente assume: «I have regrets»

Kerry ganha terreno para Secretário de Estado


John Kerry, 65 anos, nomeado dos democratas em 2004 (perdeu para Bush por 51/48), senador pelo Massachussets reeleito para um quarto mandato na passada terça-feira, é o mais provável chefe da diplomacia da Administração Obama.

Nos últimos dias, os meios políticos de Washington colocaram Kerry destacado na shortlist de candidatos a Secretário de Estado. Seria um sinal de que Obama pretende agradar à base democrata, que parece um pouco desconfortável com a mais que provável escolha de Bob Gates para a Defesa.

Kerry foi apoio fundamental nas primárias, quando preferiu Obama a Hillary, logo em Janeiro (foi dos primeiros pesos pesados do Partido Democrata a fazê-lo). Com Joe Biden a vice-presidente e John Kerry como chefe da diplomacia (ambos experientes senadores, ambos com 65 anos), a juventude e inexperiência de Obama em assuntos internacionais deixa de ser problema.

Se não for confirmada esta escolha, as alternativas são Bill Richardson, Chuck Hagel e Colin Powell.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

E não é que ela acredita mesmo que pode ser a nomeada dos republicanos em 2012?

Ainda os resultados: análise por segmentos


Barack Obama foi eleito conseguindo atingir uma ampla maioria formada por uma... coligação de minorias. Vejamos as percentagens de votos em Obama nos seguintes segmentos:

NEGROS: 96%

JOVENS ABAIXO DOS 30 ANOS: 66%

LATINOS: 68%

MULHERES: 56%

ASIÁTICOS: 64%

QUEM GANHA MENOS DE 15 MIL DÓLARES/ANO: 73%

QUEM GANHA MAIS DE 200 MIL DÓLARES/ANO: 52%

DEMOCRATAS REGISTADOS: 89%

VOTANTES PELA PRIMEIRA VEZ: 89%

No eleitorado branco tradicional, McCain venceu, mas por uma curta diferença: 55/43 (Obama saiu-se melhor nos eleitores brancos do que os últimos dois nomeados democratas, John Kerry e Al Gore, e teve performance equivalente às de Bill Clinton em 92 e 96)

Ainda os resultados: análise por estados

Obama aguentou os 252 Grandes Eleitores ganhos por John Kerry em 2004 e arrebatou nove estados aos republicanos: Florida, Ohio, Carolina do Norte, Virgínio, Indiana, Iowa, Colorado, Novo México e Nevada.

O democrata fez o pleno do Oeste (California, Oregon e Washington) e ganhou quase toda a Costa Leste (só lhe escapou Carolina do Sul e Geórgia, que do ponto de vista político são vistos como «estados do Sul»).

O mais surpreendente foram as conquistas de Barack no Midwest (Ohio, Virgínia, Iowa, Indiana, Colorado e Novo México).

McCain não conquistou qualquer estado aos democratas, na comparação com 2004, apesar de ter apostado forte na Pensilvânia e no New Hampshire.

Virgínia e Indiana não votavam num nomeado presidencial democrata desde 1964. A única perda significativa de Obama foi no Missouri, disputado à pele (4800 votos de diferença em quase três milhões de votos expressos, com vantagem para McCain).

Desde 1956 que o Missouri declarava o vencedor nacional. Isso, desta vez, não aconteceu.

A vantagem de Obama no Colégio Eleitoral (364/174) situa-se no quadro das diferenças mais claras das últimas décadas. Está bem acima das duas vitórias de Bush filho, próxima do triunfo de Clinton na reeleição (379 contra 159 de Bob Dole).

Digam lá se achavam que isto ia ser possível...

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Esboços da futura Administração


Por enquanto, as únicas certezas são que Barack Obama será o Presidente, Joe Biden o vice-presidente e Rahm Emanuel (amigo de Barack dos tempos de Chicago, judeu, congressista do Illinois, que apoiou Hillary nas primárias, depois de ter sido assessor próximo de Bill Clinton nos anos 90) será o chefe de gabinete.

Aqui vão as hipóteses mais fortes para os cargos de maior relevo:

SECRETÁRIO DE ESTADO
-- John Kerry (senador pelo Massachussets, nomeado democrata em 2004)
-- Chuck Hagel (senador republicano do Nebraska)
-- Hillary Clinton (senadora por Nova Iorque)
-- Colin Powell (secretário de Estado entre 2001 e 2005)

DEFESA
-- Robert Gates (actual secretário da Defesa)
-- Chuck Hagel (senador republicano do Nebraska)
-- Dick Lugar (senador republicano do Indiana)
-- Bill Richardson (governador do Novo México)

TESOURO
-- Tim Geithner (presidente da Reserva Federal de Nova Iorque)
-- Larry Summers (secretário do Tesouro na parte final do segundo mandato de Bill Clinton)

JUSTIÇA
-- Tim Kaine (governador da Virgínia)
-- Robert Kennedy Jr. (advogado ligado à causa do Ambiente, filho de Bobby Kennedy)

EDUCAÇÃO
-- Kathleen Sebelius (governadora do Kansas)
-- Caroline Kennedy (advogada, filha de John Kennedy, coordenou a equipa que escolheu Joe Biden como vice-presidente de Barack Obama)

Os sentimentos dos americanos

Seis dias após a eleição de Barack Obama...

-- 67% dos americanos estão «orgulhosos» do que aconteceu

-- 67% estão «optimistas» em relação ao sucesso da Administração Obama

-- 59% estão «excitados» com o que poderá vir aí

-- apenas 30% estão «pessimistas»

-- apenas 27% estão «com medo» de ver Obama como Presidente

(fonte: USA Today Gallup)

Breve história de Barack Obama


BARACK HUSSEIN OBAMA II

-- 47 anos; nasceu em Honolulu, Hawai

-- o pai era queniano (Barack Obama sr.), a mãe era uma americana branca do Kansas (Ann Dunham)

-- formado em Ciências Políticas, na Universidade de Columbia, e em Direito, em Harvard

-- é o único negro no Capitólio, o quinto a atingir o Senado em toda a história americana

-- primeiro negro a obter a nomeação presidencial por um dos dois partidos do sistema

-- senador pelo Illinois desde 2005; foi senador estadual em Chicago, entre 1996 e 2004

-- casado com a advogada Michelle Robinson, desde 1992; tem duas filhas (Malia, de 10 anos, e Sasha, com 7)

-- derrotou Hillary Clinton nas primárias, depois de ter começado a corrida 30 pontos atrás da senadora

-- tornou-se conhecido ao lançar um poderoso discurso na Convenção Democrata, em 2004, no qual apelou à «reconciliação» da América, criticando a guerra do Iraque

(os detalhes do novo Presidente surgirão em próximos posts...)

Os resultados finais

Ok, então para início de conversa aqui vão os resultados das eleições do passado dia 4 de Novembro, com 99% dos votos contados (em próximos posts, faremos uma análise mais segmentada dos números) :

-- Barack Obama 65.431.955 votos (53%)

-- John McCain 57.434.084 (46%)

-- Ralph Nader 679.149 (1%)

-- Bob Barr 499.912

-- Chuck Baldwin 180.780

-- Cynthia McKinney 146.539

-- Alan Keyes 36.131

-- Ron Paul 19.852

-- Gloria LaRiva 7.460

-- Roger Calero 7.197

-- Brian Moore 6.563

-- Richard Duncan 3.703

-- Jim Harris 2.614

-- Charles Jay 2.346

-- John Polachek 1.223


Dá para ver a enorme diferença entre os dois candidatos do sistema e o resto, não dá? Em breve falaremos sobre isso.

Nos próximos dias, olharemos para o que se passou nas votações por estado e por segmentos. Até já.

Olá a todos

Este é o primeiro post do blogue Casa Branca.

Decidi lançá-lo porque isto da política americana, para muitos de nós, parece que interessa mais do que a política cá do sítio. Seja por boas ou más razões, isso já é outra conversa.

O duelo presidencial de 2008, ocorrido a 4 de Novembro, foi um momento histórico. Apanhou muita gente de surpresa, sobretudo aqueles que continuavam a achar que «os americanos nunca iriam eleger um tipo que é negro». A América, que como vimos nos anos Bush, é capaz do pior, também mostra esta impressionante capacidade regeneradora.

Dias depois da consagração de Barack Obama, começa a ser tempo de olhar para a frente e antever como será a transição na Casa Branca. E é por estarmos neste momento definidor que me apeteceu lançar este novo espaço, de modo a acompanhar do início até... sabe-se lá quando e onde a Administração Obama, que tomará posse a 20 de Janeiro de 2009.

É isso que, nos próximos dias, irei fazer: lançar esboços do que poderão ser os anos Obama, com textos sobre as pessoas que o irão acompanhar na Casa Branca, curiosidades históricas, tendências, opções que poderão ser tomadas.

Pelo meio, quem quiser recordar a fantástica corrida eleitoral de 2008 poderá ler (ou reler) o que fui escrevendo, desde 2003, sobre política americana, com «remakes» que irei publicar de textos escritos na Grande Loja do Queijo Limiano (Setembro 2003-Novembro 2008) e no jornal Sexta (Dezembro 2007-Novembro 2008).

Ah, e está claro, cá espero reacções, críticas, reparos, correcções, seja o que for.

Até já pessoal e obrigado pela preferência.